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educação

04/09/2006

'É preciso formar uma rede de 'educochatos' no País'

O vice-presidente do Itaú, Antonio Jacinto Matias, fala com orgulho do termo que inventou para si mesmo: educochato. Mas ele não quer ficar com o título sozinho. "Precisamos criar uma rede de educochatos, assim como os ecochatos falavam o tempo todo do verde, temos que fazer isso com a educação", afirma. A tal rede resume o movimento que será lançado na quarta-feira na capital, chamado de Todos pela Educação. O compromisso reúne os maiores empresários do País e propõe metas que devem ser atingidas até 2022, no bicentenário da independência brasileira.

Matias explica que o grupo não está em busca de dinheiro ou de indicar o modelo ideal para o ensino público de qualidade. E sim de conscientização e paixão. "Todo mundo fica chateado se o Brasil perde a Copa do Mundo. Mas o Brasil fica em último lugar numa avaliação como o Pisa, todo mundo olha, não dá emoção nenhuma. O que a gente quer é que a imprensa dê manchete, que as pessoas mandem cartas para o jornal indignadas, que discutam na escola." Veja os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Quando se fala em um movimento de empresários, imagina-se que eles vão dar dinheiro para a educação. Isso vai acontecer?

Vamos criar um fundo, mas só para gerenciar o movimento. Os empresários já dão muito dinheiro. Só a Febraban dá R$ 250 milhões para a educação por meio de suas entidades. Mas isso é uma gota d'água, não existe a menor possibilidade de que a sociedade civil possa substituir o Estado como provedor da educação. Pode fazer projetos, influenciar. Mas não estamos resolvendo o problema. Você pode juntar todos os empresários brasileiros e se eles puserem todos seus recursos, isso não afeta 1%.

Como surgiu o movimento?
O compromisso Todos pela Educação é uma idéia que encontrou seu tempo. Pessoas como Milu Vilela, Luiz Norberto Pascoal, Viviane Senna, Zé Roberto Marinho, Denise Aguiar, Ana Maria Diniz, Gerdau, entre muitos outros, perceberam que suas idéias se encontravam. Tivemos também receptividade do setor público, que achou formidável a sociedade civil se mobilizar para transformar a educação numa prioridade nacional. Estamos falando de um pacto. A sociedade brasileira precisa cobrar educação, torcer pela educação e ajudar no processo.

Mas como conseguir isso?
Para ter viabilidade percebemos que era preciso ter metas simples, que a sociedade conseguisse acompanhar. Vamos lançá-las no evento depois de amanhã, mas serão coisas como pedir educação de qualidade ou que todas as crianças de 8 anos estejam alfabetizadas. Todo mundo entende isso. As pessoas podem começar a cobrar. Se é mãe de aluno, cobra da escola. Ou do município, do Estado, do País. Todo mundo fica chateado se o Brasil perde uma Copa do Mundo. Mas o Brasil fica em último lugar numa avaliação como o Pisa, todo mundo olha, não dá emoção nenhuma. O que a gente quer é que a imprensa dê manchete, que as pessoas mandem cartas para o jornal indignadas, que discutam na escola. A gente viu que em países onde a educação mudou, teve uma mobilização da sociedade.

Vocês buscaram exemplos fora?
Sim, na Coréia, Espanha, Irlanda e Chile. Mas não existe uma fórmula. Quando você fala em mobilização você fala em consciência, em despertar as pessoas, o coração, a paixão. Cada país vai buscar o seu caminho. Não vamos interferir nos processos, escolher o modelo A ou B. Mas países com problema de competitividade, de distribuição de renda, de geração de PIB só deram a virada quando a sociedade inteira escolheu a educação. A educação na Espanha, por exemplo, foi fortemente alavancada com a democracia, mas começou com um ato da ditadura do Franco que obrigava as famílias a colocar as crianças na escola. Acho que a gente precisa de uma lei de responsabilidade educacional.

Como ela seria?
Obrigaria os governos a serem responsáveis com relação à educação, como a lei de responsabilidade fiscal. Pode também criar obrigação para as famílias. Mas deve estar na linha de direcionamento de recursos, efetividade, índices de qualidade que devem ser perseguidos pelos governos. Algo que permita à sociedade ter controle sobre a gestão. Há uma grande ineficiência no aproveitamento dos recursos.

Quando se faz pesquisas com pais da rede pública eles se dizem satisfeitos. Eles sabem o que é educação de qualidade?

Para muitos, a criança está na escola e isso basta. A educação de qualidade dá mais trabalho às famílias. Mas acredito que haja condições para discutir isso agora por causa da economia. Existe uma relação direta entre educação e renda. Com formação escolar, a pessoa tem mais probabilidade de entrar no mercado de trabalho, de ser produtiva e de ter mais renda. O país fica mais rico.

Dá mesmo para mudar a importância da educação no País?

Dá, se a sociedade cobrar, se eleger alguém comprometido com o que já foi atingido. É preciso exercer pressão. Eu me defini já para várias pessoas como educochato. Tinha o ecochato que falava o tempo todo do verde, temos que fazer o mesmo com educação. Eu sempre coloco na conversa o nosso compromisso. Mas não é simplesmente fazer a pessoa ouvir e dizer que é simpático, ela tem que virar uma propagadora. Temos que criar uma rede de educochatos.

Porque o ano de 2022 como meta?
Porque não há verdadeira independência sem educação. E independência é uma coisa que mexe com o indivíduo, não adianta falar estruturalmente, de uma idéia genérica de País, você tem de chegar ao nível do indivíduo.



Renata Cafardo
O Estado de S.Paulo

   
 
 
 

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