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tecnologia
14/01/2005
Energia solar gera emprego e renda em áreas rurais

Até 2002, o agricultor Reinaldo de Lima Alves, 38, sua esposa e seus dois filhos sobreviviam basicamente do cultivo de milho e feijão. Com chuva, havia colheita. Sem chuva, a subsistência dessa família ficava comprometida: o sítio de Reinaldo está localizado no município de Afogados de Ingazeiro – PE, no semi-árido nordestino, região conhecida pela limitada quantidade de água, principalmente para a produção agrícola.

Pensando nas necessidades de famílias como a de Reinaldo, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em parceria com as ONGs Centro de Estudos e Projetos de Energias Renováveis (Naper Solar), Diaconia e Articulação do Semi-árido Brasileiro (Asa), desenvolveu o programa Água do Sol, cadastrado no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. O programa consiste em utilizar energia solar para bombeamento da água de poços em pequenas áreas de irrigação. “Ao utilizar os métodos do Água do Sol, os agricultores do semi-árido não ficam na dependência das chuvas irregulares e podem ter até 98% de chance de colheita”, garante Mário Farias Júnior, técnico da ONG Diaconia.

Longe de ser apenas a mera doação de um equipamento tecnológico aos homens do campo, a iniciativa integra diversas tecnologias apropriadas ao semi-árido brasileiro, o que promove a qualidade de vida dessas pessoas. Entre as ações empreendidas, podem ser destacadas a produção de eletricidade para movimentar bombas por meio do uso da energia solar fotovoltaica, a técnica de irrigação localizada que utiliza menos energia elétrica e otimiza o uso da água, a utilização de culturas consorciadas – alimentares e frutíferas – cujo consumo de água é pequeno, e o cultivo agroecológico.

Implantação do Programa
As primeiras instalações do Água do Sol foram implantadas no ano 2000, em Alto do Pajeu, micro-região pernambucana. O período de implantação e acompanhamento é de um ano. Durante esses 12 meses, o Naper Solar, orientado pela UFPE e em parceria com as outras ONGs, fornece assistência técnica, acompanhamento da instalação dos equipamentos e capacitação dos usuários. Depois desse período, o próprio usuário, e em alguns casos a associação de moradores, vai gerir a instalação e também os aspectos ligados à comercialização dos produtos.

Reinaldo de Lima Alves é um desses beneficiados. Incluído no programa há dois anos, ele declara, satisfeito: “Antes, eu era só um agricultor. Hoje, eu me sinto privilegiado e orgulhoso porque, além de agricultor, também sou comerciante.” Com a ajuda do programa, atualmente Reinaldo colhe goiaba, graviola, caju, maracujá, mamão e laranja, além do feijão e do milho que já vinha plantando no seu sítio de meio hectare. Mais que produzir para a subsistência, Reinaldo vende o excedente nas feiras livres, o que lhe confere uma renda familiar em torno de 30 a 50 reais por semana.

Hoje, o programa atende a dez instalações familiares, sendo a maioria localizada em Pernambuco. Ao todo, são aproximadamente cem pessoas beneficiadas diretamente. De acordo com o professor Heitor Scalambrini Costa, os resultados quantitativos indicam que áreas irrigadas de ½ a ¾ de hectare de culturas frutíferas (graviola, pinha, laranja, goiaba, mamão, maracujá), consorciadas com culturas alimentares de ciclo curto, como o feijão e o milho (três meses), vêm apresentando uma produtividade acima do esperado, deixando técnicos, e principalmente agricultores, motivados. “As repercussões sociais são evidentes: há uma melhoria da qualidade de vida, de alimentação, de saúde e no poder de compra dessas pessoas”, avalia o professor.

O semi-árido
Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo (2,51%), ocupando uma área total de 974.752 km2. De acordo com a Articulação do Semi-árido Brasileiro (Asa), do ponto de vista hídrico, ainda que o semi-árido sofra com os problemas de má distribuição dessa chuva no tempo e no espaço, não existe ano sem chuva.

O déficit hídrico ocorre por causa da escassez de rios perenes, que garantam a qualidade e a quantidade de água suficiente para a subsistência da população local; por causa do baixo nível de aproveitamento das águas das chuvas, pois os reservatórios existentes são poucos e não adaptados, tendo sido utilizada, até hoje, a tecnologia dos grandes açudes que concentram a água em amplos e espaçosos reservatórios (grandes espelhos de água) que facilitam a evaporação; entre outros fatores. Ainda segundo dados da própria Asa, existe aproximadamente um milhão de famílias vivendo em condições precárias na região do semi-árido.

Dentro desse contexto, Mário Farias Júnior, da ONG Diaconia, considera: “Apesar das condições naturais desfavoráveis, o programa mostra que é possível ter condições dignas nessa região. Os agricultores que fazem parte desse programa já conseguem se auto-sustentar.” E conclui: “Acreditamos que o investimento na capacitação desses trabalhadores deveria se transformar em política pública.”

Em busca de recursos
Da Universidade do Pernambuco, o Água do Sol recebeu o apoio de bolsistas que acompanharam o programa e o pagamento dos custos com translado do corpo técnico – recursos que proporcionaram as primeiras duas instalações. Até o momento, em torno de 200 mil reais já foram investidos nesse projeto, soma proveniente de fontes governamentais e de ONGs.

O objetivo das entidades é ampliar o programa para mais de 50 famílias. “Essa necessidade hoje corresponderia a investimentos da ordem de um milhão de reais, incluindo desde o projeto inicial, sua implantação, assistência técnica e acompanhamento por 12 meses, com cursos de capacitação”, projeta Heitor.

Atualmente, o programa Água do Sol está sem apoio financeiro. Entre os anos 2003 e 2004, ele vem mantendo apenas o acompanhamento por meio de visitas técnicas aos projetos já implantados, anteriores a 2003, sem incluir nenhuma nova família. Essas visitas são pagas pelo próprio Naper Solar e entidades parceiras, como associações de moradores e outras ONGs.

O professor Heitor Costa avalia que o programa corre o risco de acabar caso não consiga obter os recursos necessários. “O próprio Naper Solar, que era formado por professores e pessoas que viviam também para outras atividades, está passando por uma reformulação, e pretende incluir profissionais que vão se dedicar exclusivamente a esse projeto, o que vai facilitar na captação desses recursos”, acrescenta.

Os interessados em apoiar o programa poderão entrar em contato com o Naper Solar pelo telefone (81) 9964-4366.


AMANDA VIEIRA
da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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