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violência
15/10/2003

Favelas só mudam com participação popular

O modo como a comunidade trabalha para mudar a situação de bairros carentes, pressionando o governo a agir e participando dessa ação, é decisivo para a transformação desses locais, segundo representantes de organizações voltadas para a melhoria da qualidade de vida em favelas. Eles foram ontem ao Jardim da Conquista, na zona leste. "Visito favelas em muitos lugares do mundo e o que percebo é que, quando a comunidade se movimenta, os governos começam a agir também", disse Ruth McLeod, integrante da Homeless International, uma espécie de associação internacional de sem-teto.

A atividade fazia parte da Conferência Internacional Cidades Contra a Pobreza Urbana, organizada pela Cities Alliance, que reúne países preocupados com a recuperação de áreas de habitação. Entidades de todo o mundo visitaram locais onde a Prefeitura tem projetos de intervenção urbana.

Foram escolhidos o Jardim da Conquista, Heliópolis e Vila Nova Esperança, atendidos pelo programa Bairro Legal, para urbanização de favelas, e o Edifício Rizkallah Jorge e o Casarão Belém, incluídos no Morar no Centro.

No Jardim da Conquista, os visitantes se impressionaram com a organização dos moradores, que, desde o início da ocupação, em 1990, formaram uma associação para pressionar a Prefeitura e conseguir água, luz e saneamento.

Tudo aconteceu aos poucos. Em outubro de 2002, como parte do Bairro Legal, começou o trabalho de pavimentação.

Uma comissão formada por 359 pessoas acompanha os trabalhos. A previsão é que tenham sido asfaltados 30 quilômetros de ruas, finalizados muros de arrimo, escadas e serviço de drenagem em janeiro de 2004. Até lá, serão consumidos R$ 12,5 milhões, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O próximo passo será a regularização dos lotes, que deve ser iniciada no ano que vem, segundo informações da Secretaria Municipal de Habitação. "Nunca consideramos este lugar uma favela. Agora só falta o documento de posse", disse o vice-presidente da associação de moradores, Laércio José de Souza.

Piscina - O carpinteiro Antônio Inácio da Silva, de 69 anos, só não perdeu móveis nas chuvas de verão do ano passado porque mora num lugar alto. Muitas vezes viu vizinhos tendo prejuízos cada vez que chovia. "Aqui em frente virava uma piscina", lembra. "Com o asfalto está ótimo."

Silva é nordestino, de Natal, como 90% dos 40 mil moradores do bairro. A dona de casa Maria dos Anjos de Assis também. Pernambucana, mora no Jardim da Conquista, com o marido e as duas filhas. Ela já gostava do bairro antes das melhorias, mas não tem saudade do tempo em que a poeira ou o barro tomavam conta de tudo. "A casa não parava limpa."

Conselheiro de Melhorias Urbanas da Cities Alliance, Willian Cobbet acredita que o empenho da população é a chave para a solução de problemas. "Ouvindo o relato dos líderes das comunidades percebe-se que o recurso mais importante são as pessoas, que fazem tudo que o governo e os bancos não podem fazer."

Serviços simples, mas importantes para os moradores, foram assumidos pela associação, como a distribuição de refeições para pessoas de menor renda.

Calcula-se que metade dos moradores do Jardim da Conquista ganha até três salários mínimos. Parte deles, às terças e sextas-feiras, passa na sede da associação e pega uma porção de sopa, feita com ingredientes arrecadados.

A dona de casa Áurea Rodrigues Ribeiro, de 53 anos, é uma das quatro cozinheiras que preparam a refeição. "Às vezes, essa comida vai alimentar toda a família", afirma. A cada dia de distribuição de sopa, cerca de 700 pessoas vão à sede da entidade.




Marina Pauliquevis
O Estado de S. Paulo

   
 
 
 

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