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infância
17/05/2004
"Quando se cura a mãe, se cura toda a família"

A psicanalista Marie Rose Moro, 42, professora da Universidade Paris XIII, realiza pelo mundo um trabalho sobre mães e bebês em situação de risco.

Consultora da ONG Médicos Sem Fronteiras, ela esteve nesta semana em Canela (RS), participando da Semana do Bebê, evento que acontece há cinco anos com objetivo de desenvolver uma cultura de prevenção e assistência à saúde física e mental dos bebês.

Para Moro, as situações de guerra ou de violência urbana, como as vividas no Rio de Janeiro, agravam os distúrbios psíquicos na primeira infância. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - Como é desenvolvido esse trabalho com bebês em situações de risco?

Marie Rose Moro - Acontece em vários lugares. Em Paris, começamos no norte da cidade, onde há muitas famílias de imigrantes ilegais, sem trabalho, doentes. Tentamos fazer com que essas famílias, além de ter acesso aos serviços de saúde, possam compreender as suas relações com os filhos. A partir do momento em que esse programa começou a caminhar sozinho, começamos a ter outros projetos onde havia guerras -Palestina, Armênia, Afeganistão, em Kosovo, na Croácia, em Serra Leoa, entre outros. Começamos a criar programas com a comunidade para os mais vulneráveis, especialmente as gestantes e as mães de bebês.

Folha - Quais são as intervenções psiquiátricas possíveis em situações de guerra permanente?

Moro - Vamos às casas, aos campos de refugiados e oferecemos consultas médicas gratuitas e cursos de capacitação para pessoas da comunidade para que reconheçam o sofrimento das mães e dos bebês e tomem conta deles. Quanto se cura uma mãe, se cura toda a família. Desenvolvemos programas específicos para cada comunidade.

Folha - Há algum caso de intervenção com bebês que tenha lhe marcado em especial?

Moro - Sim. Há seis meses estive na Palestina fazendo um trabalho com bebês desnutridos. Encontrei uma mãe que já tinha perdido cinco filhos de desnutrição. As meninas conseguiam sobreviver, mas os meninos morriam antes dos cinco meses. Ela chegou com um bebê de dois meses e já não lhe dava mais o peito porque achava que não valia a pena porque ia morrer mesmo. A mãe estava muito deprimida e acreditava que havia perdido a capacidade ser mãe. Íamos diariamente à casa dessa mulher para alimentar o bebê e falar com ele. Um dia, esse bebê procurou o peito da mãe e ela ficou feliz, orgulhosa porque o menino havia lhe mostrado que ainda poderia dar algo.

Folha - Essas crianças que vivem em situações de violência urbana, como as que moram nas favelas do Rio, correm o mesmo risco psíquico daquelas que vivem na guerra?

Moro -
A violência urbana é muito grave. São situações repetitivas. Não dura um ano, dura toda a vida. A sociedade tem de acompanhar essas crianças ou haverá toda uma geração sacrificada.

As informações são da Folha de S.Paulo.

   
 
 
 

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