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migração
14/05/2004
Favelização avança para o interior do país

Elas já foram sinônimo da migração desenfreada e da falta de planejamento das metrópoles — hoje, viraram motivo de preocupação também nas cidades de porte médio: a favelização avança para o interior, atingindo, principalmente, os municípios que enriqueceram nas duas últimas décadas. Seja em Ribeirão Preto, na abastada região sucroalcoleira de São Paulo, ou Petrópolis, na Região Serrana do Rio, as favelas estão cada vez mais incorporadas à paisagem.

"É bom que se diga que favela não é um problema das grandes cidades", diz a urbanista Marlene Fernandes, assessora internacional e diretora do Centro de Boas Práticas do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). "Na Amazônia, onde o processo de urbanização está muito acelerado, também pipocam favelas. Como não existe uma política nacional de habitação, as pessoas moram onde podem".

IBGE
Os dados do IBGE para o ano de 2001 indicam que a proporção de municípios que declaram ter favelas cresce com a população. Entre os 32 municípios do país com mais de 500 mil habitantes, 30 informaram ter favelas. Entre cidades que têm de cem mil a 500 mil habitantes, a proporção dos que informam ter favelas também é alta: 62,8%. Entre os municípios que têm de 20 mil a cem mil habitantes, 21,4% disseram ter favelas.

A expansão das favelas rumo ao interior coincide com o crescimento populacional dos municípios de médio porte. De 1991 a 2000, a maior taxa de crescimento populacional foi verificada nas cidades que têm de cem a 500 mil habitantes: 2,4%. Nos que têm população superior a 500 mil habitantes ou de 20 mil a 50 mil habitantes, a taxa de crescimento foi a mesma verificada no total do país, em torno de 1,6%. Ao mesmo tempo, os dados do IBGE mostram que 47% dos municípios informaram não ter políticas habitacionais.

Ribeirão Preto é um exemplo típico desse fenômeno. Na cidade, com cerca de 500 mil habitantes— cujo prefeito, até 2002, era o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci — existem 30 favelas onde moram 2.890 famílias, uma população total de 10.580 pessoas, segundo a Secretaria de Cidadania. Ou seja, 2% da população do município.

A favelização começou com a substituição do café pela cana e teve seu auge no processo de mecanização da lavoura, nos anos 80, que deixou muitos lavradores sem emprego, diz a socióloga Silvia Maria do Espírito Santo, professora da USP no campus de Ribeirão Preto.

Segundo a secretária de Cidadania, Maria Margaret de Souza e Silva, a prefeitura está estudando diferentes soluções, desde a urbanização até remoção das casas em área de risco ou de proteção ambiental:

"A especulação imobiliária tornou o preço dos terrenos inviáveis para a prefeitura retirar as pessoas. Não queremos deslocá-las para lugares distantes".

No Rio, municípios como Petrópolis e Teresópolis, na Região Serrana, ou Macaé e Rio das Ostras, no Litoral Norte, tiveram um rápido desenvolvimento nos últimos 20 anos, graças à indústria, ao turismo ou aos royalties do petróleo. Atrás dos empregos, chegou uma leva de migrantes sem ter onde morar.

Habitação popular
Para evitar que a favelização saia do controle, os prefeitos investem em projetos de habitação popular e na urbanização de áreas recém-ocupadas. Mesmo assim, é impossível evitar a degradação de algumas áreas.

" Minha casa fica numa área condenada pela Defesa Civil, mas não tenho outro lugar para ir. Todo mundo sabe que é perigoso, mas, diariamente, surge um barraco novo. É a crise, diz a dona-de-casa Luiza de Freitas, de 37 anos, moradora na Favela do Quitandinha, em Petrópolis, uma área sujeita a deslizamentos a poucos metros do hotel que é um dos cartões-postais da cidade.



CIÇA GUEDES
LETÍCIA HELENA
FERNANDA DA ESCÓSSIA
do jornal O Globo

   
 
 
 

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