WASHINGTON
- Os fabricantes de cigarros dos Estados Unidos reconheceram
ontem os riscos causados pelo fumo à saúde,
para escapar de uma ação de US$ 280 bilhões
movida contra a indústria do tabaco pelo governo americano.
Os produtores são acusados de formação
de quadrilha, de terem escondido durante anos as provas sobre
os riscos inerentes ao fumo, de terem seduzidos deliberadamente
jovens e crianças com anúncios - para transformá-los
em viciados - e de por toda a vida terem mentido, sugerindo
que os cigarros light são menos nocivos.
A indústria do tabaco agora diz claramente ao público
que fumar causa câncer e dependência e que ''nenhum
tipo de cigarro é seguro'', disse o advogado Theodore
Wells à juíza de Primeira Instância Gladys
Kessler, que preside a ação. Wells defende o
grupo Altria Inc., proprietário da Philip Morris, e
já disse, em outras ocasiões, que algumas das
atitudes dos produtores eram ''equivocadas, errôneas
e lamentáveis''.
A procuradoria dos EUA afirma que os fabricantes de cigarro
se envolveram em um esquema criminoso por 50 anos, conspirando
para enganar os consumidores.
Antes do julgamento, a juíza Gladys Kessler disse
que o governo dos EUA só poderá receber os US$
280 bilhões se provar que os produtores violaram leis
federais contra a formação de quadrilha e se
ficar claro que provavelmente o farão novamente no
futuro.
Segundo as empresas, um veredicto como esse destruiria todo
o setor.
"Se conseguiram dinheiro de forma fraudulenta, esse
dinheiro não lhes pertence", afirmou o advogado
do governo americano, Frank Marine, no primeiro dia de julgamento.
Um acordo de 1998 com 46 estados dos EUA impede que a Philip
Morris e outras empresas fabricantes de cigarro vendam seus
produtos a crianças, tornando improvável a violação,
no futuro, da Lei Federal das Organizações Corruptas
e Influenciadas pelo Crime Organizado, conhecida como RICO
e criada para combater o crime organizado e a formação
de quadrilhas.
"Durante os últimos anos houve uma mudança
tão profunda e fundamental no modo pelo qual as empresas
de tabaco se comunicam com o público americano a respeito
dos riscos do fumo que não há possibilidade
de que ocorra um desafio à RICO", disse Wells.
"A partir de hoje, todo e qualquer réu dessas
ações diz ao público americano de forma
clara e inequívoca que fumar é perigoso",
completou.
Wells afirmou também que o comportamento da indústria
no passado não constituiu uma conspiração
para a formação de quadrilha, de acordo com
os termos previstos na lei RICO.
Além do grupo Altria e da Philip Morris - a maior
fabricante de cigarros do mundo -, o Departamento de Justiça
dos EUA está processando a R.J. Reynolds Tobacco Co.,
a Brown & Williamson Tobacco Corp., a British American
Tobacco Investments Ltd. (da British American Tobacco Plc.),
a Lorillard Tobacco Co. (da Loews Corp.), e o Liggett Group
Inc. (do Vector Group Ltd.).
Nos discursos de abertura da sessão de ontem, os advogados
do Departamento de Justiça disseram que cigarros com
baixos teores de alcatrão são tão perigosos
quanto os normais porque os fumantes tragam a fumaça
mais profundamente e fumam em quantidades maiores.
No debate de hoje os advogados das empresas disseram que
cientistas e médicos pensavam que os cigarros com baixos
teores de alcatrão fossem mais seguros. O governo incentivou
os consumidores a fumar produtos com baixos teores caso eles
não conseguissem parar de fumar, disse a defesa.
"Nossa intenção não era a de enganar
as pessoas, mas fabricar e comercializar o que a comunidade
do setor de saúde pública desejava", disse
William Newbold, advogado da Lorillard.
As informações são
do Jornal do Brasil.
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