Alta gastronomia
e inclusão social podem parecer dois mundos opostos,
mas eles estão cada vez mais próximos. Essa
relação deve-se a iniciativas que utilizam a
culinária como um meio de afastar jovens da criminalidade,
mostrando novas perspectivas de vida.
O chef inglês Jamie Oliver ficou mundialmente famoso
não só por seus programas de culinária
na televisão, mas também pelo seu engajamento
social, que fica evidenciado em dois notáveis projetos:
o “restaurante-escola” Fifteen e o programa de
TV “A Cantina Escolar de Oliver”. A fundação
Fifteen começou na cidade de Londres, em 2002, quando
Oliver conseguiu unir duas ambições: abrir um
restaurante e dar oportunidades a jovens carentes. A iniciativa
tem o intuito de ajudar jovens - geralmente com problemas
na escola, com drogas e violência e escola - e treiná-los
para serem grandes profissionais na área da gastronomia,
oferecendo apoio e inspirando-os a serem pessoas melhores.
Os alunos são treinados durante um ano nos próprios
restaurantes – o chefe já possui quatro, dois
na Inglaterra, um na Holanda e outro na Austrália -
trabalham em turnos de cinco dias por semana e recebem instruções
dos melhores profissionais na área, além de
fazerem viagens a fim de conhecer mais sobre os alimentos.
Quando formados, alguns, chegam até a ganhar bolsas
de estudo em outros países da Europa e nos Estados
Unidos.
Depois de sua experiência bem sucedida com o Fifteen,
Jamie Oliver decidiu usar sua fama em benefício público
novamente. Com a série de quatro episódios “A
Cantina Escolar de Oliver”, o chef mostrou e criticou
as péssimas condições dos alimentos nas
cantinas escolares inglesas. A intenção era
banir a “junk food”, ou seja, sanduíches,
pizzas, frituras, e fazer com que as crianças se alimentassem
de forma mais saudável, a partir da introdução
de legumes e vegetais no cardápio, o que melhoraria
a aprendizagem e concentração dos alunos, além
de evitar a obesidade. Sua manifestação gerou
um abaixo assinado com 271 mil assinaturas a favor da mudança
nas cantinas escolares e fez com que o governo britânico
investisse 280 milhões de libras na melhoria da qualidade
das refeições estudantis.
GastroMotiva
Enquanto isso, do outro lado do Meridiano de Greenwich, iniciativas
parecidas estão acontecendo. Aqui no Brasil, o chef
David Hertz, com o projeto GastroMotiva (gastronomia com motivação),
também ajuda jovens em situação de risco
social através da culinária. A intenção
do projeto é proporcionar um aumento na auto-estima
desses garotos e tirá-los da marginalidade, uma vez
que eles identificam seus próprios potenciais, renovando
suas esperanças de profissionalização
e sendo encaminhados a novas oportunidades de carreira e trabalho
no mercado gastronômico. O chef aproximou-se do terceiro
setor em 2003, quando criou o Cozinheiro Cidadão, programa
de capacitação para jovens de baixa renda da
favela Jaguaré em São Paulo, lá conheceu
e ajudou a adolescente Uridéia de Andrade que foi escolhida
para representar o país na ONU. “Vendo a transformação
da vida dela, achei que poderia provocar uma transformação
radical na vida de outros jovens também”, disse
o chef. Hoje em dia, David mantém a GastroMotiva com
a ajuda de sua ex-aluna.
Já qualidade da comida nas escolas também tem
sido motivo de preocupação aqui no Brasil. Porém,
a preocupação da chef Mara Salles é um
pouco diferente. Além de ensinar a donas de casa e
merendeiras do bairro São Miguel Paulista, na Zona
Leste de São Paulo, a aproveitar os ingredientes de
maneira mais nutritiva, sem gastar nem desperdiçar
muito, ela também quer resgatar culinárias típicas
regionais. A culinária das festas juninas, por exemplo,
foi a primeira a ser ensinada ao público nas quatro
aulas ministradas no mês de maio. O curso foi uma iniciativa
privada da Fundação Tide Setúbal e é
mais uma evidência da criatividade do terceiro setor,
sempre em busca de novas alternativas para a educação
e inclusão social no Brasil e no mundo",
Julia Busch,
aluna do 2º ano do Colégio
Bandeirantes- juliabusch_@hotmail.com
|