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Além de conhecer a história
do Brasil, os conflitos da Guerra Fria e a geopolítica
mundial, os alunos das 7ª e 8ª séries do
ensino fundamental e do ensino médio das escolas públicas
estaduais de São Paulo vão passar a conhecer
mais profundamente, a partir deste ano, uma outra história:
a do Estado em que vivem. É o objetivo do projeto "Terra
Paulista - Jovens", material recriado a partir da pesquisa
"Terra Paulista - Histórias, Arte, Costumes",
feita por historiadores, antropólogos e educadores.
Desenvolvido pelas educadoras Marta
Wolak Grosbaum e Lídia Izecson de Carvalho, do Cenpec
(Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura
e Ação Comunitária), o material paradidático
com dez livros, três jogos de tabuleiro, almanaque e
12 vídeos-documentários será distribuído
a mil escolas, com apoio da Unesco (braço da ONU para
a Educação, Ciência e Cultura) e da Secretaria
Estadual da Educação.
"Os professores vão passar
por uma oficina para conhecer o material [em maio] e receber
orientações para o uso multidisciplinar em sala
de aula", explica Lídia. Segundo ela, na formatação
do material, diversos valores sociológicos e políticos
foram "cuidadosamente trabalhados".
Imagens que ilustram os livros do projeto
"Os alunos precisam conhecer a história do Estado
contada pelo ângulo dos mais diversos personagens envolvidos.
Não poderíamos reiterar valores preconceituosos
no material, ressaltando personagens socialmente privilegiados,
em detrimento das histórias da gente comum. Um causo
contado por um lavrados, uma receita criada por uma escrava
podem ser mais importantes historicamente do que a colher
de prata de um fazendeiro", diz ela.
Assim, a partir de depoimentos de
"gente comum", que retratam histórias pessoais,
os alunos entram em contato com os fatos do desenvolvimento
de São Paulo e o dia-a-dia dos paulistas. As explicações
e justificativas teóricas sobre a formação
e vida dos habitantes do Estado estão presentes, mas
de forma invertida, para contextualizar o material.
No geral, o conteúdo ressalta
a diversidade da cultura do Estado. Nos livros, relata-se,
por exemplo, a história do aristocrata que posou para
fotos oficiais da família sentada em uma rede indígena;
a convivência das festas tradicionais com os sons da
indústria da cultura de massa.
A coletânea de livros aborda,
assim, os mais variados temas, como os movimentos das Bandeiras,
Monções e Tropas, a vida nas fazendas paulistas,
a vida do caipira em São Paulo, as famílias
paulistas, as moradias, os costumes do interior, a formação
da metrópole, a literatura do interior, artes plásticas,
artesanato e as festas e celebrações populares.
"O Terra Paulista é importante
para a preservação do patrimônio imaterial
de São Paulo, isto é, de seus costumes, música,
folclore, artesanato. O projeto fará com que os jovens
paulistas e paulistanos conheçam e tenham orgulho da
cultura caipira", afirma por sua vez Âmbar de Barros,
coordenadora do escritório paulista da Unesco, organização
que apóia o projeto, a Fundação Social
do banco Itaú e o Instituto Votarantim são outros
dois parceiros.
Origem
"O Terra Paulista tem origem em minha mudança
para o interior de São Paulo, com o objetivo de implementar
um projeto de turismo na Fazenda Capoava, uma propriedade
histórica do século XVIII, que tinha como uma
das propostas centrais, o turismo cultural. A partir das pesquisas
realizadas, percebi nosso desconhecimento sobre a história
e o patrimônio cultural paulista", conta Maria
Alice Setúbal, presidente do Cenpec e idealizadora
do projeto, que convidou antropólogos, cineastas, historiadores
e pedagogos para realizar a pesquisa.
O estudo foi iniciado em março
de 2003 e, em julho do mesmo ano, toda a equipe do projeto
reuniu-se na Fazenda Capoava para uma conversa. A primeira
fase do projeto "Terra Paulista histórias, arte,
costumes" retrata as regiões Vale do Médio
Tietê, Vale do Paraíba e o Oeste Paulista. "As
demais regiões como a Alta Sorocabana e Noroeste, assim
como o Litoral e Vale do Ribeira devem fazer parte de uma
próxima etapa da pesquisa", planeja Maria Alice.
O material paradidático
será de uso exclusivo das escolas. O conteúdo
original, porém, pode ser adquirido pelo público
em geral nas livrarias. Distribuído pela Imprensa Oficial,
o kit com três livros custa R$ 100.
CAMILA MARQUES
da Folha Online
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