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FRAUDE Segundo a polícia, 20% dos automóveis ‘desaparecem’ por ordem dos proprietários


Donos ‘picotam’ o próprio carro

Greg Salibian/Folha Imagem
Desmanche em Pirituba (zona norte de SP) lembra um “cemitério de carros”; dono diz
que vive do negócio
há 30 anos



da Reportagem Local


A cada 5 carros roubados ou furtados na cidade de São Paulo, 1 é “picado” a mando do próprio dono, que vende o veículo a desmanches por aproximadamente R$ 1.000 e depois registra queixa na delegacia para receber também indenização do seguro.

A afirmação é do delegado Edson Soares, do Depatri (Departamento de Investigações de Crimes Patrimoniais), especializado em desmanches de veículos. Esse golpe é o mais comum aplicado nas seguradoras.

Soares conta que existem na cidade cerca de 800 desmanches clandestinos _outros 1.157 estão cadastrados no Depatri.

“Há os desmanches regulares, com contrato social, atestado de antecedentes de cada empregado, relação de funcionários, inscrito na prefeitura, enfim, legalizados.”

A polícia divide em áreas a supervisão dos desmanches. E fornece um diagnóstico geral: na zona sul há mais desmanches clandestinos do que na zona norte.

Os bons e os maus
Um exemplo de local onde há desmanches legalizados é a avenida Raimundo Pereira de Magalhães, em Pirituba (zona norte).

Lá existe um dos maiores desmanches da cidade, o Comércio de Sucatas Cantagalo. Seu proprietário, Ronaldo Fortino, tem 30 anos vividos em desmanches.

“É um negócio que começou com meu pai. Nosso primeiro desmanche existe até hoje, no Imirim (zona norte). Este tem 12 anos”, conta, sobre o terreno de 36 mil metros quadrados.

“Hoje existem alguns que pretendem montar desmanche e já começam roubando carros. Quem trabalha no ramo só compra carro roubado se quiser.”

Segundo ele, é preciso desenvolver uma rede de contatos para comprar peças ou veículos sucateados. Suas maiores fontes são concessionárias, companhias de seguro e leilões de carros usados pelo poder público.

Loja de autopeças
Trabalhar na identificação de carros roubados requer amplo conhecimento técnico dos policiais em relação a veículos.

Os desmanches ilegais são abertos na periferia, em terrenos alugados, mas sem nenhum registro na prefeitura. Uma placa onde se lê “loja de autopeças” pode esconder um desmanche.

Aliás, raros se definem como “desmanche”. O delegado Soares afirma não ter poderes para fechar um desmanche legal só porque ele apresentou uma peça irregular. “Hoje, os carros que vão para o exterior, como Bolívia e Paraguai, são os importados de maior valor, que, digamos, ‘compensam’ um risco maior. A maior parte dos carros é desmontada aqui mesmo.”

Outro ponto: não é o desmanche que desmonta o veículo. A pessoa que faz isso é chamada de “puxador” _que furta ou rouba o carro e o leva ao chamado “buraco”, que pode ser desde oficinas até garagens residenciais.

No desmonte, o “puxador” geralmente destrói chassi, mói os vidros e raspa o número do motor. Um exemplo de flagrante é um motor raspado ou rebitado.

Uma das indicações de que é o dono quem “some” com o carro para receber o dinheiro do seguro é quando a polícia encontra uma peça irregular no desmanche, identifica o carro que a originou, mas não há registro de queixa.

“Só depois o proprietário vai fazer o boletim de ocorrência”, diz Edson Soares. Mas o destino dos veículos não é só o exterior ou o desmanche. Ele pode voltar a circular com o chassi remarcado.

Denúncia anônima
Para fazer a identificação, os policiais vêem desde remarcações malfeitas até adulterações detectadas com produtos químicos.

O delegado Mario Guilherme da Silveira Carvalho, especializado em fraudes contra seguros, tem pelo menos uma história curiosa sobre proprietários que dão sumiço no seu próprio carro.

Ele fez uma busca e apreensão de um veículo que estava a três casas do dono, que primeiro fez o boletim de ocorrência para depois vender o carro para um desmanche. Descoberto por intermédio de uma denúncia anônima, o estelionatário não teve como negar a fraude contra a companhia de seguro. (LUÍS PEREZ)


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