Folha Online Ilustrada  
Crítica
29/08/2001 - 04h11

Novela: "As Filhas da Mãe" busca opção ao óbvio

ESTHER HAMBURGER
da Folha de S. Paulo

É diferente . A nova novela das sete procura uma maneira popular de se comunicar com humor e inteligência, para longe do dramalhão mexicano. A dupla Jorge Fernando na direção e Silvio de Abreu no texto apresenta um alegre folhetim-chanchada-teatro de revista. A novela é divertida para quem faz e para quem assiste.

As novidades não estão na trama básica. A família desfeita. Empresários crápulas, golpistas, autoritários, maus pais, com filhos ilegítimos, pobres destinados a enriquecer abundam nas novelas. Mães separadas, namorados interesseiros, gigolôs, afilhados traidores também. Ricos que enfrentam o trânsito intenso no céu, de helicóptero. Pobres que são mais felizes.

A diferença está na linguagem, no ritmo, na leveza irônica. "As Filhas da Mãe" é televisão pop. A apresentação dos personagens no primeiro capítulo contou com recursos de computação gráfica.

A novela mimetiza a convergência de diversos suportes audiovisuais, imitando a tela do computador que permite a edição digital.

Por vezes, como na sequência final do capítulo, onde há um acidente fatal com o personagem Edmilson, de Edson Cellulari, a legenda "delete" sugere que o drama poderia ser apagado. O recurso é "fake", mas alude à possível interatividade que permitiria ao telespectador alterar, com um toque, os rumos da trama.

Clips com raps explicam os nexos da trama e descrevem os personagens, como trechos em hipertexto. Personagens interrompem a ação diegética, se dirigem ao telespectador diretamente, com algum comentário sobre a criação da própria novela.

A auto-alusão não se esgota aí. O texto é povoado de referências a novelas antigas, que, incorporadas ao cotidiano dos personagens, ajudam a descrever épocas, como o "Sheik de Agadir", ou a inspirar o erotismo de casais, no caso de "Gabriela".

Silvio de Abreu concedeu a Fernanda Montenegro o Oscar que a atriz não ganhou por "Central do Brasil". O autor voltou por alguns instantes ao papel de ator para entregar pessoalmente a estatueta para o personagem de uma bem-sucedida diretora de arte.

A apresentação da premiada Lulu de Luxemburgo, personagem da magnifica atriz, brasileira premiada em Hollywood, abriu a novela ao som de um rap ilustrado com uma colagem de recortes de jornais e revistas, fotos e a bandeira nacional. O texto aparece na tela da televisão.

Edição ágil e conexões eletrônicas ligam personagens e tramas situados em tempos e espaços diferentes. Clipes se alternam com sequências convencionais.

Diálogos pela internet conectam Lulu, em Los Angeles, com o detetive português que investiga a vida das filhas dela na Europa. A perspectiva contemporânea de cada um dos personagens se alterna com o flashback dos anos 60, alternando a versão de cada um dos personagens.

A escalação de atores em papéis inusitados também faz diferença. Andréa Beltrão e Beth Coelho, as filhas da mãe do título, apareceram belas em Londres e Roma.

Tony Ramos como cubano, sócio de bingo, intermediário na aproximação pai-filha, costeletas pretas, roupa vermelha, correntes douradas e medalhões prateados, vai bem. Suas cenas tórridas com Claudia Ohana pegam. Thiago Lacerda no papel de afilhado vilão sai um pouco da convenção.

O excesso inerente ao formato está presente, no figurino pomposo, nas molduras decoradas que enchem o quadro, por exemplo, de rosas, na definição quase caricatural dos personagens.

O gênero novela anda desgastado. "As Filhas da Mãe" mantém a referência ao Brasil que caracteriza o gênero, mas propõe uma pantomima eletrônica pop barroca que procura demonstrar a possibilidade de alternativas ao convencional.

Esther Hamburger é antropóloga e professora na Escola de Comunicações e Artes da USP

   
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