18/10/2001
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07h12
Tristeza de "O Quarto do Filho" não é depressiva; leva a refletir
MARCELO BARTOLOMEI Editor de Entretenimento da Folha Online
O longa-metragem "O Quarto do Filho" ("La Stanza del Figlio") é uma obra-prima do cinema italiano: trata de um tema extremamente triste, mas não tira o espectador da sala com um sentimento de depressão; só o faz refletir.
O filme, com o premiado diretor Nanni Moretti como protagonista, é de encher os olhos de lágrima, não só no final, mas durante quase todo o filme. Consegue tirar algumas risadas da platéia com os casos que chegam para análise do psicanalista Giovanni.
"O Quarto do Filho" consegue se equilibrar naquela linha tênue que existe no cinema e que poucos acertam. O psicanalista Giovanni, construído por Nanni Moretti, é calmo, tranquilo, e mostra com o desfecho da história o quanto nós, famílias normais, podemos dar atenção a nós mesmos e deixar de lado um pouco da histeria e da loucura do dia-a-dia.
Conta a história de uma família super unida e feliz, com problemas com o filho adolescente que, de uma hora para outra, morre num acidente no mar. A partir disso, começa um questionamento sobre o que poderia ter sido feito para impedir que Andrea tivesse morrido ou para capturar momentos de felicidade ao invés dos de tristeza.
A sensibilidade de "O Quarto do Filho" é enorme. Começa pelo título; é no quarto de Andrea que todos os familiares e inclusive uma namorada que ele manteve em segredo se encontram com suas lembranças, bem pessoais, e que nunca esquecerão.
A morte, por exemplo, é verbalizada em um só momento do filme. Quando acontece o acidente, há pequenos sinais de sua morte, sons e sequências de imagens, mas nada é apresentado com vulgaridade.
Em uma das cenas seguidas da morte, talvez a mais marcante, Moretti apresenta um ritual de velório à italiana. São cenas muito realistas, em que o caixão é lacrado. Para o diretor, só assim ele poderia mostrar que aquilo era realmente o fim da vida de Andrea.
O filme fala de obsessão e das dúvidas que passam pela cabeça de quem convive com a morte. Obsessão que só faz o pai, o personagem principal, pensar em o que poderia ter feito para que o filho não tivesse ido àquele passeio e continuasse vivo. Obsessão por trazê-lo de volta. E assim uma sucessão de imagens surgem, como se seu pensamento fosse real, num flashback do que não aconteceu.
Ao final de uma entrevista divulgada à imprensa, Moretti desabafou na pele do pai que perdeu o filho, apesar de nunca ter passado por isso em sua vida: "Não é uma lembrança. O pai tenta voltar no tempo e reconstruir esse domingo imaginando o que teria acontecido se, em vez de ter ido ver o paciente, ele tivesse ido correr com o seu filho. O filho dele não teria morrido". É o espírito do filme.
 O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio) Direção: Nanni Moretti Produção: Itália, 2001 Com: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca e Giuseppe Sanfelice Estréia: fevereiro de 2002, no circuito; a partir de sexta, dia 19, na Mostra BR de Cinema - 25ª Mostra Internacional de São Paulo
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