Folha Online Ilustrada  
Crítica
18/10/2001 - 22h26

"O Xangô de Baker Street" é competente e se mantém fiel à obra

FÁBIO PORTELA
da Folha Online

O maior mérito, e talvez maior pecado, de "O Xangô de Baker Street", filme baseado no livro de Jô Soares e que estréia nesta sexta-feira em Brasília e no Rio de Janeiro, é o extremo cuidado que a produção teve para se manter fiel à obra original.

Quem já leu o livro, poderá ver na tela a reconstituição literal de várias passagens marcantes da obra impressa. Algumas das aventuras vividas por Sherlock Holmes no Brasil parecem ter sido filmadas com o diretor olhando não o roteiro, mas sim o texto original.

Esse extremo cuidado com a fidelidade, em alguns momentos, beira à obsessão. E, se por um lado garante que ótimas piadas mantenham sua força e provoquem riso farto em quem não conhece a história, pode também despertar bocejos entre os que já leram o livro.

Isso acontece porque a reprodução, de tão exata, faz com que o cérebro procure automaticamente na memória o arquivo que contém o final da piada. Como o humor utilizado por Jô Soares no livro é completamente cerebral, o encadeamento de raciocínio exigido do leitor-espectador torna mais fácil a lembrança.

Portanto, se você já leu o livro, vá ao cinema certo de que encontrará uma produção bem-cuidada, com roteiro ágil e divertido e um elenco muito competente. Não espere nenhuma surpresa durante todo o desenrolar da trama.

Se você não conhece a história, prepare-se para cenas muito engraçadas, que mostram, entre outras assuntos, a primeira experiência de Sherlock Holmes com um cigarro de maconha; a explicação dos fatos que levaram à criação da primeira caipirinha de pinga no Brasil; e a "incorporação" de uma "pomba-gira" em um respeitável médico inglês em um terreiro de candomblé do Rio de Janeiro no século 19.

Em meio a estas passagens, Holmes tem que esclarecer o desaparecimento de um valioso violino Stradivarius, presente do imperador dom Pedro 2 à sua amante. O problema é que o instrumento foi roubado por um "serial killer" que ataca mulheres nas madrugadas cariocas.

Como se já não estivesse bastante ocupado, Holmes ainda encontra tempo para se apaixonar por uma atriz brasileira do teatro de revista e para se deliciar com alguns quitutes clássicos da culinária nacional, como acarajés, feijoadas, bobós de camarão, molhos, pimentas, e outros temperos estranhos ao estômago britânico. Tudo misturado na mesma refeição...

O roteiro, bem trabalhado, facilita a linearidade da ação dramática e o desenrolar da trama. Mas o bom resultado alcançado na tela também se deve ao time de atores escalado para a produção. Entre os brasileiros, Thalma de Freitas, como namorada de Holmes, e Marco Nanini, que interpreta um investigador da polícia carioca, se destacam. Eles desenvolvem seus papéis com humor e segurança, dando ritmo e mobilidade ao filme.

Sobre o time estrangeiro que faz parte do elenco, impossível não se espantar com o desempenho de Joaquim de Almeida. Pouco conhecido no Brasil, este ator português, que goza de bastante prestígio em sua terra natal, parece ter sido talhado para o papel de Sherlock Holmes. Um pouco corpulento e extremamente simpático, é ele quem "amarra" o filme e garante a unidade da obra, com uma atuação intensa e brilhante.

"O Xangô de Baker Street", enfim, é competente, bem realizado, tem diversas qualidades técnicas, conta com um elenco afinado e faz uma interessante reconstituição do Brasil dos tempos do Império. Some-se a isso o nome de Jô Soares e o interesse que o livro despertou desde sua publicação, e pode-se esperar que a produção alcançará relativo sucesso entre o público.

Este aliás, parece ter sido o objetivo dos produtores desde o início. Por isso, sempre foram adotadas opções corretas e profissionais. É um caso em que, mais do que ousar, o objetivo foi fazer com rigor e qualidade apenas o elementar. Elementar, meu caro Watson...

  Veja imagens do filme

 Serviço

O Xangô de Baker Street
Direção: Miguel Faria Jr.
Produção: Brasil/Portugal, 2001 (120 min)
Com: Joaquim de Almeida, Maria de Medeiros, Marco Nanini, Thalma de Freitas, Cláudio Marzo, Marcello Anthony e Letícia Sabatella
Estréia: dia 19 em Brasília e no Rio; dia 26 em São Paulo


   
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