Folha Online Ilustrada  
Crítica
02/07/2002 - 04h37

Álbum devolve Elza Soares à excentricidade

da Folha de S. Paulo

Intelectualmente preparado por Zé Miguel Wisnik, "Do Cóccix Até o Pescoço" procura devolver Elza Soares ao lugar que sempre lhe pertenceu, mas que andou se confundindo com o esquecimento: a excentricidade.

Mesmo tendo podido produzir pouco, Elza lançara em 97 o belíssimo "Trajetória", mais inclinado ao tradicionalismo do samba. "Do Cóccix Até o Pescoço" a traz a um território que já testou muito em shows, mas que nunca pôde exercer plenamente em disco.

A excentricidade se dá, agora, em torno dos cânones do samba. O novo disco é samba do cóccix ao pescoço, mas nunca de forma ortodoxa -e isso é o que Elza sempre quis, desde que sacudiu samba em Louis Armstrong.

É por isso que o samba-soul de Jorge Ben Jor, em "Hoje É Dia de Festa", ganha cores totalizantes, com naipes funky de metais, timbaus baianos, scratches de rap e samples da voz do Ben de "O Namorado da Viúva" (74).

Também a manjada "Haiti", de Caetano e Gil, volta convertida em rap carnudo adornado por pandeiro de Marcos Suzano e surdos virados de Carlinhos Brown. É afro-samba baiano, o que poderia ser uma das definições do CD.

Mas logo na sequência o choro fundador de Ernesto Nazareth vem interromper o fluxo, e "Bambino" (a que Wisnik forneceu letra) relembra que o samba ancestral também é samba moderno.

Na tradição também Elza vai buscar o vínculo entre a música popular, a literatura e o canto capaz de emocionar o mais frio dos mortais _é o que enrijece "Flores Horizontais" e, numa redefinição disso, "Dor de Cotovelo".

Nessa a voz de Elza vira veículo do velho bate-bola Caetano Veloso/Chico Buarque _o primeiro se queixa liricamente do ciúme que sente da poesia do outro; Chico, nem aí, faz em "Dura na Queda" o mais realista retrato de Elza em si ("perdida na avenida/ canta seu enredo/ fora do Carnaval/ perdeu a saia/ perdeu emprego/ desfila natural").

Mais samba? Vem da afronta jovem à tradição, no novo soul carioca de protesto "A Carne" ("a carne mais barata do mercado é a carne negra/ que vai de graça pro presídio e pra debaixo do plástico") e no rap sincopado "Todo Dia", com o grupo Nós do Morro, da favela carioca do Vidigal.

Filiadíssima à tradição brasileira de nunca pertencer à tradição, Elza solta a voz rascante como se não houvesse amanhã, excêntrica e altiva como nunca.

Do Cóccix Até o Pescoço
Artista: Elza Soares
Lançamento: Maianga
Quanto: R$ 25, em média


   
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