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08/12/2006

Bomba atômica salvou a vida de Manabu Ashihara

'Ex-kamikaze' de Nagasaki escapou da morte 5 vezes

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Reprodução
Ashihara em seu sítio em 2006
Ashihara em seu sítio em 2006
A bomba atômica lançada sobre Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, provocou a morte de milhares de pessoas, mas salvou Manabu Ashihara, hoje com 77 anos. O acontecimento, que precipitou o fim da Segunda Guerra Mundial, obrigou o jovem de 16 anos a cancelar um compromisso marcado para o dia 21 daquele mês: morrer.

Naquele dia, ele usaria um barco carregado de explosivos para se chocar com um navio norte-americano.

Foi a segunda das cinco vezes em que ele escapou da morte. Um ano após se alistar, aos 15, ele caiu no mar com o avião em que treinava. O instrutor morreu, mas Ashihara se salvou. A Corte Marcial o proibiu de pilotar aviões, mas permitiu que ele cumprisse, de barco, sua missão de kamikaze.

Danilo Verpa/Folha Imagem
Yussuke e Saeko, filho e mulher do ex-kamikaze Manabu Ashihara
Yussuke e Saeko, filho e mulher do ex-kamikaze Manabu Ashihara
Quando a bomba atômica caiu, ele estava na casa dos avós, na própria cidade de Nagasaki. Sua tia, única da família a saber da missão, já havia colocado seu retrato no "butsudan", altar em que os japoneses homenageiam os mortos.

Por ser militar, Ashihara foi destacado para socorrer as vítimas. "De 11 de agosto, ao meio-dia, quando ele foi chamado, até o anoitecer do dia 12, ele ficou sem comer, sem beber, só recolhendo corpos dentro do rio Urakami, que estava vermelho de sangue", diz Yussuke, o oitavo e último filho de Ashihara com sua mulher, Saeko.

"Ele conta que, quando pegava as vítimas, só vinha a pele na mão, os ossos ficavam. Quando minhas irmãs faziam churrasco, ele não comia."

Sorte

Por ter sobrevivido à bomba, Ashihara está em Nagasaki há um mês fazendo os exames médicos anuais pagos pelo governo japonês. Como não teve seqüela da radiação, é também objeto de estudos científicos.

Ele não pôde falar à Folha porque sua família não tem seu telefone no Japão: "Ele só liga quando vai voltar: 'vôo tal número tal", diz Yussuke. "Minha mãe gosta que ele fique bastante tempo lá", brinca. Saeko confirma com uma gargalhada: "Sossego, né?"

Enquanto os cientistas não tiram conclusões, Yussuke tem uma hipótese para o fato de o pai ter se salvado tantas vezes: "Acho que ele tem saúde de ferro", diz, com expressão séria.

Não é só ele que pensa assim. Em 1967, em Atibaia, um mês após chegar ao Brasil, Ashihara caiu de trator de uma ponte de cinco metros de altura. "As pessoas passavam a mão nele para pegar um pouco de sorte."

Foi a mesma sorte que o salvou de uma cirurgia para retirar um coágulo no cérebro após um acidente de carro em 2001.

Brasil

Ashihara vive hoje com a família em um sítio em Embu (Grande São Paulo), onde cultiva bonsais. Gosta de pescar, tocar violão e contar suas histórias. "55 anos de casado, tudo fala, né?", comenta Saeko.

Os dois se casaram em 1950 e, em 1967, vieram para o Brasil. "A Rússia ameaçava provocar uma terceira guerra", diz Yussuke. "Meu pai queria segurança para a família."

No Brasil, encontraram pessoas que acreditavam na vitória do Japão na guerra. "Morreram acreditando", diz Saeko. Se os contrariavam, o casal era chamado de "malcriado".

Mas Ashihara não vê como desonra a derrota. Pelo contrário, segundo Yussuke, acha que o país deveria ter se rendido antes, quando caiu a primeira bomba atômica, em Hiroshima.

Questionado se compreende por que seu pai ofereceu a vida, Yussuke responde entre sério e brincando: "Nessa época, os jovens do Japão eram meio doidos. Para lutar pelo país, não mediam conseqüências".

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