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ANÁLISE
Escolha familiar amplia diferença
NAÉRCIO MENEZES FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A diferença entre os indicadores educacionais de escolas
que pertencem a uma mesma
rede é grande em muitos casos.
O problema ocorre quando ela
é muito elevada. Na cidade de
São Paulo, por exemplo, algumas escolas têm um Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] duas vezes maior
que outras. O que explica isso?
O Ideb das escolas depende
da taxa de aprovação e das notas dos seus alunos na Prova
Brasil. As notas dos alunos dependem de três fatores básicos:
o nível socioeconômico dos
pais, a qualidade da escola e a
capacidade de aprendizado dos
alunos. O peso desses fatores é
bastante desigual. As escolas
explicam no máximo 25% da
diferença de notas entre os alunos de uma cidade como São
Paulo. Os outros dependem do
nível socioeconômico e da capacidade de aprendizado.
Além disso, esses efeitos se
reforçam o tempo todo. Quanto
melhor for a escola inicialmente, mais ela atrairá famílias com
nível socioeconômico mais alto
e, portanto, maior será a diferença entre as notas dessa escola e das demais. Isso ocorre com
muita frequência no caso das
escolas técnicas, que criaram
no passado uma reputação de
ensino de qualidade. Por isso,
elas atraem os melhores alunos, das famílias mais preocupadas com educação, que têm
que passar por um processo rigoroso de seleção. Os aprovados obtêm ótimas notas nos
exames de proficiência, o que
reforça a reputação das escolas.
Para aumentar a equidade
entre as escolas, é preciso atuar
tanto na escola como nas famílias. A qualidade do ensino na
escola depende principalmente
da capacidade do diretor de gerir os recursos escolares. O bom
diretor é aquele que sabe motivar e cobrar os professores, lidar com os problemas de violência, fazer avaliações sistemáticas dos alunos e cuidar do
aprendizado dos alunos mais
fracos. Esses diretores permanecem bastante tempo na mesma escola e formam uma equipe estável de professores de ótimo nível. Esses diretores existem. É necessário levá-los para
as escolas mais fracas.
Quando o trabalho desses diretores começar a surtir efeito,
os pais irão perceber que as coisas estão melhorando e os colocarão nessas escolas. Isso vai
diminuir a desigualdade entre
as escolas ao longo do tempo.
Mas esse é um processo de longo prazo.
NAÉRCIO MENEZES FILHO é coordenador do
Centro de Políticas Públicas do Insper.
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