São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

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ANÁLISE

Escolha familiar amplia diferença

NAÉRCIO MENEZES FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A diferença entre os indicadores educacionais de escolas que pertencem a uma mesma rede é grande em muitos casos.
O problema ocorre quando ela é muito elevada. Na cidade de São Paulo, por exemplo, algumas escolas têm um Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] duas vezes maior que outras. O que explica isso?
O Ideb das escolas depende da taxa de aprovação e das notas dos seus alunos na Prova Brasil. As notas dos alunos dependem de três fatores básicos: o nível socioeconômico dos pais, a qualidade da escola e a capacidade de aprendizado dos alunos. O peso desses fatores é bastante desigual. As escolas explicam no máximo 25% da diferença de notas entre os alunos de uma cidade como São Paulo. Os outros dependem do nível socioeconômico e da capacidade de aprendizado.
Além disso, esses efeitos se reforçam o tempo todo. Quanto melhor for a escola inicialmente, mais ela atrairá famílias com nível socioeconômico mais alto e, portanto, maior será a diferença entre as notas dessa escola e das demais. Isso ocorre com muita frequência no caso das escolas técnicas, que criaram no passado uma reputação de ensino de qualidade. Por isso, elas atraem os melhores alunos, das famílias mais preocupadas com educação, que têm que passar por um processo rigoroso de seleção. Os aprovados obtêm ótimas notas nos exames de proficiência, o que reforça a reputação das escolas.
Para aumentar a equidade entre as escolas, é preciso atuar tanto na escola como nas famílias. A qualidade do ensino na escola depende principalmente da capacidade do diretor de gerir os recursos escolares. O bom diretor é aquele que sabe motivar e cobrar os professores, lidar com os problemas de violência, fazer avaliações sistemáticas dos alunos e cuidar do aprendizado dos alunos mais fracos. Esses diretores permanecem bastante tempo na mesma escola e formam uma equipe estável de professores de ótimo nível. Esses diretores existem. É necessário levá-los para as escolas mais fracas.
Quando o trabalho desses diretores começar a surtir efeito, os pais irão perceber que as coisas estão melhorando e os colocarão nessas escolas. Isso vai diminuir a desigualdade entre as escolas ao longo do tempo.
Mas esse é um processo de longo prazo.


NAÉRCIO MENEZES FILHO é coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.


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