|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Olho no lance
Site do Palmeiras publica fotos aproximadas de torcedores em jogos no Parque Antarctica e levanta debate sobre privacidade
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Alô, você, palmeirense de camisa 9 da última fila da geral no
jogo contra o Atlético-PR, no
dia 15: todo mundo ficou sabendo do xixi que você fez lá no
fundão, na arquibancada.
Há dez jogos, todos os setores
do Parque Antarctica -inclusive os da torcida adversária-
são fotografados em primeiro
plano. E as imagens vão parar
no site oficial do time para todo
mundo ver.
A megafoto, inédita em São
Paulo, causou surpresa aos torcedores e levanta uma discussão sobre a privacidade em espaços públicos e a confidencialidade do direito de imagem.
Em dois tempos, a ferramenta foi apelidada de "Big Brother
Palmeiras" e de "Palmeiras
Street View", em referência ao
serviço do Google que mostra
as ruas -e quem passa nelas-
de diversas cidades.
Entre flagras de torcedores
com a barriga saliente de fora e
o dedo no nariz, já há relatos de
confusões. A publicitária Ana
Raddi diz ter descoberto a traição do namorado, que, segundo
ela, havia mentido ao dizer que
sairia para tomar cerveja com
amigos e foi visto ao lado de outra mulher em campo.
"Não sabia dessa câmera e
uma amiga me mostrou as fotos. Entrei em paranoia e fiquei
imaginando se eles tinham alguma coisa. Fiquei com uma
pulga atrás da orelha", diz.
O analista de informática
Carlos Eduardo França diz que
não sabia ter sido fotografado
no jogo e que foi avisado por um
amigo de que aparecia na foto
em plano americano, aquele
que enquadra o personagem
dos joelhos para cima.
"Acho que o Palmeiras deveria informar aos torcedores.
Sempre assisto aos jogos no
mesmo lugar há mais de 20
anos, agora vai ser fácil me investigar", afirma França.
Diretor de marketing do Palmeiras, Rogerio Dezembro diz
não ter recebido nenhuma reclamação até agora.
"Achamos a ideia muito bacana e a repercussão tem sido
muito legal. Temos recebido
reações de torcedores de outros times, virou uma coisa democrática envolvendo até os rivais. Futebol é isso, brincadeira, entretenimento, essa coisa
lúdica", afirma Dezembro.
Para a diretora do Centro de
Investigação em Mídias Digitais da PUC, Lucia Santaella, a
privacidade acabou.
"A privacidade é uma ideia do
século 19 que vem sendo cada
vez mais limada. Para a juventude, a privacidade não é mais
um valor. Esse exemplo [do
Palmeiras] é o limite. A vigilância hoje é onipresente, não há
como escapar dela. Somos desmascarados o tempo inteiro."
Presidente da Comissão de
Sociedade Digital da OAB e
doutor pela USP, Augusto Marcacini diz que "é difícil saber até
onde há violação da imagem ou
não". "Há uma proteção legal à
imagem e à honra, mas não
existe uma lei específica. O problema é o limite."
A agência Fotoarena, que
produz o material para o Palmeiras sob encomenda do patrocinador Samsung, explica
como é feita a montagem: "A foto é a junção de [entre 150 e
500] outras. Fazemos num ângulo específico e depois, pelo
computador, juntamos tudo",
diz o diretor André Chaco.
A montagem chega a ter 2.5
gigapixels, resolução 250 vezes
maior que a de uma câmera digital de 10 megapixels, comum
no mercado.
FOLHA ONLINE
Você se importaria em ser
fotografado e ter as
imagens disponibilizadas
na internet?
www.folha.com.br/1011913
Texto Anterior: Maria Tereza Moreira de Jesus (1974-2010): A atriz negra que se lançou em alto-mar Próximo Texto: Foco: Procon de São Paulo lança um manual de consumo consciente para jovens Índice
|