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VINICIUS TORRES FREIRE
Anormal ou devagar e sempre?
Comunicado do BC não teve novidades; país parece voltar a seu padrão de equilíbrio e "normalidade" medíocres
O COMUNICADO do Banco Central sobre os motivos que em
tese basearam a última decisão sobre juros teve menos novidade do que o resultado da votação sobre a nova taxa Selic, decidida na semana passada. Na quarta-feira, soube-se que, por cinco votos a três, o
Copom (Comitê de Política Monetária) aprovou um corte da taxa básica de juros de 13,75% para 13,25%.
Os três diretores divergentes preferiam um corte de apenas 0,25 ponto
percentual.
A ata do Copom divulgada ontem
choveu no molhado. Não deu indicações de que já vale a pena apostar em
corte de apenas 0,25 ponto percentual na decisão de juros de janeiro de
2007, como esperavam os intérpretes habituais das intenções do Banco
Central. Entre porta-vozes das instituições financeiras, o voto dos três
diretores divergentes havia criado a
expectativa de uma ata mais conservadora, mas o tom do documento
"deixou aberta a porta para outro
corte de 0,5 ponto percentual". Depois de divulgada a ata, muita gente
no mercado passou a dizer que não
vale mesmo acreditar em "endurecimento precoce" da política monetária. Isto é, que já estaria para começar o período de "parcimônia" na
queda dos juros.
A ata "menos conservadora" choveu ainda mais no molhado porque
o mercado "real", e não seus porta-vozes, continuara a derrubar os juros futuros, que balizam o piso das
taxas de fato negociadas entre instituições financeiras e empresas.
Mas, dentro da perspectiva habitual do BC, o início da temporada da
"parcimônia" parece que está para
começar, pois por ora não há mais
novidades positivas nas expectativas de inflação e em outros indicadores de altas futuras de preços. A
"parcimônia" começaria mais cedo
ou mais tarde (janeiro ou março de
2007) a depender da confirmação
ou não de que a atividade econômica
enfim começou a convalescer do
persistente resfriado de 2006. E daí?
A discussão seria se, no primeiro
semestre do ano que vem, os juros
devem cair mais ou menos meio
ponto de porcentagem, algo por aí, o
que não chega a ser muito relevante.
Em resumo, na perspectiva normal
do Banco Central, parece estar próximo o momento de esperar para
ver o que acontece com a economia
depois que se chegou a uma baixa
histórica no nível de juros no Brasil.
Considerados alguns indicadores
"reais", como produção da indústria,
nível de utilização da capacidade
produtiva e desemprego (vide gráficos abaixo), não parece estar acontecendo nada de anormal na relação
entre juros básicos e atividade econômica, com exceção de que os números parecem menos voláteis. Há,
claro (desculpas se ninguém agüenta mais falar no assunto), o efeito novo e ruim do câmbio. Em relação ao
ciclo de 2003-2004, juros e atividade variam menos; a produção reage
algo mais devagar no ciclo de 2005-2006. Mas, pelos números da economia e pelo padrão vigente do debate entre as autoridades econômicas (fora e dentro do governo), estamos perto de chegar ao nosso padrão medíocre de normalidade, se
não vierem choques externos.
Isto é, como a política fiscal deve
ser mais ou menos a mesma, como o
pacote de Lula 2 tende a ter efeitos
marginais e como a política monetária se aproxima do "equilíbrio", o
crescimento visível no horizonte
por ora é o da angústia exasperada.
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