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Empresa já depositou pedido de patente para genes humanos


Marcio Aith
DE WASHINGTON

Já não se trata mais de controvérsia teórica. A Celera Genomics Corporation, que agora anuncia o final do sequenciamento em conjunto com o Projeto Genoma Humano, confirmou ter entrado com 6.500 pedidos de patentes provisórias de genes. A empresa diz pretender patentear definitivamente “apenas” entre 100 e 300.
A Celera não informa quais genes estão sendo patenteados. “Só posso dizer que são de interesse significativo para a indústria farmacêutica”, disse a porta-voz Heather Kowalsky.
O anúncio realimenta um forte temor da comunidade científica: o de que companhias privadas, por meio de patentes de genes, restrinjam a pesquisa e concentrem a informação sobre o código genético humano.
A Celera reconhece que há motivo para polêmica, mas diz que as patentes “permitirão à humanidade chegar à era da medicina personalizada”. Para ela, é justo e legal garantir lucros a uma companhia que investiu US$ 2 bilhões para desvendar o mapa genético.
O Congresso norte-americano ainda não aprovou leis sobre o assunto. Por enquanto, as patentes solicitadas pela Celera provam apenas as datas das descobertas.
Embora tenha sido contratada pelas principais indústrias farmacêuticas, a Celera insiste que seu leque de clientes é mais eclético, incluindo universidades como a de Vanderbilt, em Nashville.
A Celera já havia surpreendido a opinião pública global em abril, quando anunciou ter sequenciado todo o genoma humano. Faltava só pô-lo na ordem correta. Com esses anúncios sucessivos, a Celera procurava convencer investidores privados de que ganharia a “corrida” do sequenciamento. Essa disputa era travada com o Projeto Genoma Humano, consórcio público de vários países.

Dúvida e imprecisão
Antes do anúncio conjunto, havia dúvidas sobre o trabalho da Celera. Para identificar e ordenar os dados genéticos antes dos concorrentes, a empresa optou por um método considerado impreciso por seus rivais.
A Celera reafirma a qualidade de sua pesquisa. Nos laboratórios da companhia, separados dos corredores de visitas por um vidro blindado, vários robôs processam pedaços de DNA 24 horas por dia. Supercomputadores conduzem análises genéticas noite e dia. Sua conta anual de energia se aproxima de US$ 2 milhões.
A equipe da Celera já teria identificado “quase 10 mil novos genes com papéis importantes em várias funções do corpo, como pressão sanguínea”. O fundador e presidente da empresa, Craig Venter, havia declarado que a Celera patenteará “apenas algumas centenas de genes de interesse significativo para a indústria farmacêutica” e que colocaria a maioria das sequências ao alcance de todos.

Dinheiro público

Recentemente, o jornal “Los Angeles Times” revelou uma história que aumenta a polêmica. Durante a década de 80, o governo norte-americano concedeu cerca de US$ 5 milhões em empréstimos para que um grupo de cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (CalTech) desenvolvesse a primeira máquina de sequenciamento do mundo.
Numa atitude controversa, esses cientistas criaram uma empresa e assinaram com o CalTech um contrato de exclusividade para uso e venda da máquina. Essa empresa acabou sendo comprada pelo grupo que controla a Celera, PE Corporation.
O “Los Angeles Times” diz que a Celera não pode patentear genes porque suas descobertas decorrem de verbas públicas. A empresa não nega os fatos, mas diz que os cientistas já haviam concluído a invenção antes de receber as verbas.

Personalidades que poderiam não ter nascido, caso houvesse seleção genética