São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NOITE ILUSTRADA - ERIKA PALOMINO
Procura-se um duende no caos dos clubes

OUTUBRO de 1990. Sentados em frente ao aparelho de TV esperávamos ansiosamente. De bocas abertas vimos o primeiro clipe internacional, "Suicide Blonde", do INXS. Mas o susto mesmo viria depois: "Groove Is in the Heart", do Deee-Lite. Era a coisa mais moderna que já tínhamos visto. Para mim e para toda uma geração de brasileiros, começava ali os anos 90.

FEVEREIRO de 1999. "Vai te Pegar", alardeia e garante o slogan da nova programação da MTV. O primeiro clipe: "Só Love", de Claudinho e Buchecha, embalado pelas bases de "Da Da Da", hit fácil que gostávamos de ouvir nos 80. MTV, na sua língua. Os VJs -o almofadinha Edgard, principalmente- parecem meio constrangidos por anunciar seu novo casting. Vinhetas institucionais se apressam em glamourizar e apresentar seus novos hypes. Precisamos, como todo o Brasil já se acostumou, saber quem é quem desse universo, saber diferenciar qual é o Belo, o Netinho, o Salgadinho... Como um esforço para dizer que a MTV, sim, ainda contempla as manifestações modernas, o programa (mensal) "Futuro MTV" aborda em sua estréia o cenário eletrônico brasileiro, com tratamento visual diferenciado, edição descolada, takes esquisitos. Os produtores musicais desfiam meio a esmo seus rosários de vanguarda, mas o programa termina nos deixando um pouco mais confortados. Não estamos totalmente entregues, não estamos totalmente perdidos, eles estão nos compreendendo. Eles ainda falam a nossa língua, mesmo pressionados por exigências de mercado e de público. Casé se consagra como a melhor coisa dessa nova fase. Inteligente, cínico, atento, engraçado sem ser mal-educado. E eu estou louca ou o novo logo da MTV é parecidíssimo com o do Hell's?

TAMBÉM acossados, os DJs cariocas e paulistas movem levante contra o axé e o pagode nas casas noturnas. Querem formar a nova geração, reforçar seus princípios e sua formação musical, para que os profissionais das picapes não cedam aos apelos do público. Numa reunião de DJs, sábado passado, reuniram-se 60 profissionais de todos os tipos. De Vadão, Grand Master Nei, Iraí Campos e Silvio Müller até Marky Mark, Patife, Ramilson Maia, Xerxes. E DJ de mauricinhos e até DJ de puteiro! E eu sei de gente que foi pela boca livre do churrasco. Brincadeira! Entre as discussões sobre as atividades do DJ, segundo o organizador do encontro, Alexandre Monteiro, da revista "DJ World", "a importância da pesquisa; o DJ não pode tocar só o que o povo quer; é preciso lançar novas músicas, tocar sucessos antigos e manter a pista sempre cheia e animada. Mas sem tocar sucessos prontos!". Outro ponto seria a "falta de união da classe", mas todos os presentes assinaram um papel concordando em juntar forças para que a profissão seja registrada legalmente no Brasil, o primeiro passo para a formação de um sindicato.

E sexta que vem já está sendo chamada por aí de dia L. É por causa da vinda do super DJ francês Laurent Garnier a São Paulo, depois de sua histórica vinda a São Paulo há alguns anos. Ele chega na quinta, vindo de Paris, toca sexta na B.A.S.E na festa da "On Speed" e da Ellus, depois vai para BH, onde toca na festa do Noise dentro de uma megaloja em construção do shopping Ponteio, volta para Paris e depois volta para o Rio, onde toca no outro sábado no Rock in Rio Café. Seu cicerone é o DJ Guilherme M.

E aos poucos a cena noturna em São Paulo se fortalece novamente. O povo volta a se frequentar, um vai na noite do outro, tudo ótimo. Veja a sexta-feira passada de Renato Lopes, por exemplo, no after-hours Atomic Fever, numa pista só de amigos e legítimos top clubbers, numa manhã de sábado cheia de tchauzinhos para a cabine. E como teve gente, como o Paulinho, que foi para a Disco Fever véia (não custa dar o endereço: al. Arapanés, 1.364). Marquinhos Marla é o host.

E provas que a cena reage foram Léia Bastos montada de Cacá Trash e vice-versa. A Léia tava de moicano de pena e a Cacá com aquele infame picumã de Shirley McLaine. Outra prova é o Breakin" de Marcão Moercerf e Pareto, que recebeu no sábado quase 500 pessoas. Entre você também na campanha "Doe um Modelo para Cacá Trash". Cacá cansou dos seus e aceita doações. A Helena Rubinstein já doou o make. Tudo, bi.

E por falar em picumã diz que o Diogo Vilella só fala aquenda e desaquenda, né, na novela? O pajubá toma conta da Globo! Abala, mona!

E tire o tie-dye da corda que tem intensa programação de trance. Hoje tem Space no sítio/convento da Raposo Tavares; amanhã tem Uber Alles, com Alê Acyd, Alex S., entre outros, em Campinas, onde a cena trance tem se expandido. Atenção: ingresso amigo a R$ 5. Também amanhã os DJs Fhuck e Tin Tin tocam na Cardeal Arcoverde, 1.407, no projeto Grooves and Pills. Quinta Alex S. recebe no Torre do Dr. Zero o DJ alemão Noise (não, não é mais um do clã mineiro) mais Alex Dee, com Feio abrindo. Também amanhã, no Guarujá, tem Dmitri, Alex F, Jason e Boo, na Toca do Tubarão. E finalmente no próximo sábado tem três anos de Avonts, agora sim (e não em Mauá), no sítio Avonts em Caucaia do Alto (no flyer está escrito viagem com jota, mas não repare). Agora tem lista de trance na Internet, é a psytrance-brasil. Para se cadastrar, www.eGroups.com/list/psytrance-brasil.

E a cena do drum'n'bass de São Paulo também se mexe. Começa amanhã a nova noite do gênero na cidade, no Modulo 7 (João Moura, 749), com Ramilson Maia e Andy C. como residentes. A estréia recebe o sensacional Otto, que parou tudo no "Tribos Eletrônicas" com seu show. E enquanto não sai o álbum de Ramilson pela Trama, ele lança um single (prensado fora) de "Paz na Terra" e "Só Jesus Salva", com remixes dele em si, Andy C. e Jason Bralli. Os títulos já dão a pista: os três DJs são evangélicos já há três anos.

E a piada da noite é que a U-Turn se chama assim porque você vai lá e depois "you turn back". Rárárá!, como diria o Simão.

ENQUANTO isso, na batcaverna, o povo do conceituado Wall of Sound veio ao Brasil para lançar aqui seu selo, via Virgin, e também a coletânea "Bustin" Loose", com festa terça-feira no Lov.e. Mas, ao que consta, pareciam meio desconectados. Quem foi ao clube diz que da outra vez que Jon Carter esteve aqui foi bem melhor. Deram certo, parece, as misturas com pitadas de clássicos disco, como "Saturday Night Fever", essas coisas. Bem, o que é legal é que eles vão incluir o Brasil, via Motor Music, num circuito de residências do selo. See ya!

CORRE que ainda dá tempo de pegar o finzinho do verão. No Posto Nove, no Rio, a faixa de areia com maior concentração gay do mundo, quando vem uma onda daquelas tipo grandes, mas que mesmo assim dá para ficar com a cabeça para fora, quando a onda passa as bichas gritam "UH!". E quem vê da areia é aquela gritaria. Diz que no Carnaval passado já tinha, e esse ano a loucurama continua.

ENQUANTO isso, a revista "Sui Generis" vai abalar com as fotos do modelo Paulo Reis, bem avonts, em nu frontal e tudo. Mas o fotógrafo & sortudo Marcio Neves deixa bem claro que "não é baixaria; é moda". O estudioso GIL Barbara toca hoje na It's House do Lov.e. Aquenda o set list: Rick Preston -"Future Paradise" (Glasgow Underground); Funkydelic - "The Summer" (Spezial); Stephane Malca - "Pursuit of Happiness" (Pro-Zak Trax); Presence feat. Shara Nelson - "Sense of Danger" (Pagan); Iniquity - "Funk My Ass!!" (Expresso). E Pareto é o convidado de sábado no after-hours Lov.e in Paradise, com George Actv.

E na segunda abre novo espaço para a música eletrônica, o Lilith ("Lilith" é também o nome de uma música linda da Bjork com o Plaid, já ouviu?). Fica na Mourato Coelho 1.206, coração da Vila Madalena, e diz que a acústica é ótima e a cabine é linda. Marcão Morcerf e Andrea Gram são os residentes; Luma é a hostess. Posteriormente, a casa terá uma webcam da cabine para a pista, transmitindo uma hora, todas as sextas (www.lilithclub.com.br).
GRAM tem quase pronto seu CD, a ser lançado por uma gravadora virtual, a BMGV, que é mais ligada em MPB, mas onde o tecno terá sua vez. Tudo experimental feito com dezenas de programas de computador. Andrea tocava e o povo gritava, resolveu lançar. É isso aí, fia. É tempo de muié na cabine. A DJ Paula também vai lançar um disco, mixado por ela mesma em si, e a DJ de trance Roxy conquistou mais fãs com seu carisma, na festa da lama de Mauá.

E diz que a festa de Mauá foi lisérgica! Que, quando o povo olhou, tinha um habitante da mata agachado, com chapéu de duende e tudo.

TEM Mercado Mundo Mix neste fim-de-semana na Tagipuru.

E-mail: palomino@uol.com.br

Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: Roteiro de crise para qualquer tempo
Próximo Texto: Televisão - José Simão: Buemba! Procura-se um doleiro bem-dotado!
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.