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NOITE ILUSTRADA - ERIKA PALOMINO
Procura-se um duende no caos dos clubes
OUTUBRO de 1990. Sentados em
frente ao aparelho de TV esperávamos ansiosamente. De bocas abertas vimos o primeiro clipe internacional, "Suicide Blonde", do INXS.
Mas o susto mesmo viria depois:
"Groove Is in the Heart", do Deee-Lite. Era a coisa mais moderna que
já tínhamos visto. Para mim e para
toda uma geração de brasileiros,
começava ali os anos 90.
FEVEREIRO de 1999. "Vai te Pegar", alardeia e garante o slogan da
nova programação da MTV. O primeiro clipe: "Só Love", de Claudinho e Buchecha, embalado pelas
bases de "Da Da Da", hit fácil que
gostávamos de ouvir nos 80. MTV,
na sua língua. Os VJs -o almofadinha Edgard, principalmente-
parecem meio constrangidos por
anunciar seu novo casting. Vinhetas institucionais se apressam em
glamourizar e apresentar seus novos hypes. Precisamos, como todo
o Brasil já se acostumou, saber
quem é quem desse universo, saber diferenciar qual é o Belo, o Netinho, o Salgadinho... Como um
esforço para dizer que a MTV, sim,
ainda contempla as manifestações
modernas, o programa (mensal)
"Futuro MTV" aborda em sua estréia o cenário eletrônico brasileiro, com tratamento visual diferenciado, edição descolada, takes esquisitos. Os produtores musicais
desfiam meio a esmo seus rosários
de vanguarda, mas o programa
termina nos deixando um pouco
mais confortados. Não estamos totalmente entregues, não estamos
totalmente perdidos, eles estão nos
compreendendo. Eles ainda falam
a nossa língua, mesmo pressionados por exigências de mercado e de
público. Casé se consagra como a
melhor coisa dessa nova fase. Inteligente, cínico, atento, engraçado
sem ser mal-educado. E eu estou
louca ou o novo logo da MTV é parecidíssimo com o do Hell's?
TAMBÉM acossados, os DJs cariocas e paulistas movem levante contra o axé e o pagode nas casas noturnas. Querem formar a nova geração, reforçar seus princípios e
sua formação musical, para que os
profissionais das picapes não cedam aos apelos do público. Numa
reunião de DJs, sábado passado,
reuniram-se 60 profissionais de todos os tipos. De Vadão, Grand
Master Nei, Iraí Campos e Silvio
Müller até Marky Mark, Patife, Ramilson Maia, Xerxes. E DJ de mauricinhos e até DJ de puteiro! E eu
sei de gente que foi pela boca livre
do churrasco. Brincadeira! Entre
as discussões sobre as atividades
do DJ, segundo o organizador do
encontro, Alexandre Monteiro, da
revista "DJ World", "a importância da pesquisa; o DJ não pode tocar só o que o povo quer; é preciso
lançar novas músicas, tocar sucessos antigos e manter a pista sempre
cheia e animada. Mas sem tocar sucessos prontos!". Outro ponto seria a "falta de união da classe", mas
todos os presentes assinaram um
papel concordando em juntar forças para que a profissão seja registrada legalmente no Brasil, o primeiro passo para a formação de
um sindicato.
E sexta que vem já está sendo chamada por aí de dia L. É por causa
da vinda do super DJ francês Laurent Garnier a São Paulo, depois de
sua histórica vinda a São Paulo há
alguns anos. Ele chega na quinta,
vindo de Paris, toca sexta na
B.A.S.E na festa da "On Speed" e da
Ellus, depois vai para BH, onde toca na festa do Noise dentro de uma
megaloja em construção do shopping Ponteio, volta para Paris e depois volta para o Rio, onde toca no
outro sábado no Rock in Rio Café.
Seu cicerone é o DJ Guilherme M.
E aos poucos a cena noturna em
São Paulo se fortalece novamente.
O povo volta a se frequentar, um
vai na noite do outro, tudo ótimo.
Veja a sexta-feira passada de Renato Lopes, por exemplo, no after-hours Atomic Fever, numa pista só
de amigos e legítimos top clubbers,
numa manhã de sábado cheia de
tchauzinhos para a cabine. E como
teve gente, como o Paulinho, que
foi para a Disco Fever véia (não
custa dar o endereço: al. Arapanés,
1.364). Marquinhos Marla é o host.
E provas que a cena reage foram
Léia Bastos montada de Cacá
Trash e vice-versa. A Léia tava de
moicano de pena e a Cacá com
aquele infame picumã de Shirley
McLaine. Outra prova é o Breakin"
de Marcão Moercerf e Pareto, que
recebeu no sábado quase 500 pessoas. Entre você também na campanha "Doe um Modelo para Cacá
Trash". Cacá cansou dos seus e
aceita doações. A Helena Rubinstein já doou o make. Tudo, bi.
E por falar em picumã diz que o
Diogo Vilella só fala aquenda e desaquenda, né, na novela? O pajubá
toma conta da Globo! Abala, mona!
E tire o tie-dye da corda que tem
intensa programação de trance.
Hoje tem Space no sítio/convento
da Raposo Tavares; amanhã tem
Uber Alles, com Alê Acyd, Alex S.,
entre outros, em Campinas, onde a
cena trance tem se expandido.
Atenção: ingresso amigo a R$ 5.
Também amanhã os DJs Fhuck e
Tin Tin tocam na Cardeal Arcoverde, 1.407, no projeto Grooves and
Pills. Quinta Alex S. recebe no Torre do Dr. Zero o DJ alemão Noise
(não, não é mais um do clã mineiro) mais Alex Dee, com Feio abrindo. Também amanhã, no Guarujá,
tem Dmitri, Alex F, Jason e Boo, na
Toca do Tubarão. E finalmente no
próximo sábado tem três anos de
Avonts, agora sim (e não em
Mauá), no sítio Avonts em Caucaia
do Alto (no flyer está escrito viagem com jota, mas não repare).
Agora tem lista de trance na Internet, é a psytrance-brasil. Para se
cadastrar, www.eGroups.com/list/psytrance-brasil.
E a cena do drum'n'bass de São
Paulo também se mexe. Começa
amanhã a nova noite do gênero na
cidade, no Modulo 7 (João Moura,
749), com Ramilson Maia e Andy
C. como residentes. A estréia recebe o sensacional Otto, que parou
tudo no "Tribos Eletrônicas" com
seu show. E enquanto não sai o álbum de Ramilson pela Trama, ele
lança um single (prensado fora) de
"Paz na Terra" e "Só Jesus Salva",
com remixes dele em si, Andy C. e
Jason Bralli. Os títulos já dão a pista: os três DJs são evangélicos já há
três anos.
E a piada da noite é que a U-Turn
se chama assim porque você vai lá
e depois "you turn back". Rárárá!,
como diria o Simão.
ENQUANTO isso, na batcaverna, o
povo do conceituado Wall of
Sound veio ao Brasil para lançar
aqui seu selo, via Virgin, e também
a coletânea "Bustin" Loose", com
festa terça-feira no Lov.e. Mas, ao
que consta, pareciam meio desconectados. Quem foi ao clube diz
que da outra vez que Jon Carter esteve aqui foi bem melhor. Deram
certo, parece, as misturas com pitadas de clássicos disco, como "Saturday Night Fever", essas coisas.
Bem, o que é legal é que eles vão incluir o Brasil, via Motor Music,
num circuito de residências do selo. See ya!
CORRE que ainda dá tempo de pegar o finzinho do verão. No Posto
Nove, no Rio, a faixa de areia com
maior concentração gay do mundo, quando vem uma onda daquelas tipo grandes, mas que mesmo
assim dá para ficar com a cabeça
para fora, quando a onda passa as
bichas gritam "UH!". E quem vê da
areia é aquela gritaria. Diz que no
Carnaval passado já tinha, e esse
ano a loucurama continua.
ENQUANTO isso, a revista "Sui
Generis" vai abalar com as fotos do
modelo Paulo Reis, bem avonts,
em nu frontal e tudo. Mas o fotógrafo & sortudo Marcio Neves deixa bem claro que "não é baixaria; é
moda". O estudioso GIL Barbara
toca hoje na It's House do Lov.e.
Aquenda o set list: Rick Preston
-"Future Paradise" (Glasgow Underground); Funkydelic - "The
Summer" (Spezial); Stephane Malca - "Pursuit of Happiness" (Pro-Zak Trax); Presence feat. Shara
Nelson - "Sense of Danger" (Pagan); Iniquity - "Funk My Ass!!"
(Expresso). E Pareto é o convidado
de sábado no after-hours Lov.e in
Paradise, com George Actv.
E na segunda abre novo espaço para a música eletrônica, o Lilith
("Lilith" é também o nome de uma
música linda da Bjork com o Plaid,
já ouviu?). Fica na Mourato Coelho
1.206, coração da Vila Madalena, e
diz que a acústica é ótima e a cabine é linda. Marcão Morcerf e Andrea Gram são os residentes; Luma
é a hostess. Posteriormente, a casa
terá uma webcam da cabine para a
pista, transmitindo uma hora, todas as sextas (www.lilithclub.com.br).
GRAM tem quase pronto seu CD, a
ser lançado por uma gravadora
virtual, a BMGV, que é mais ligada
em MPB, mas onde o tecno terá
sua vez. Tudo experimental feito
com dezenas de programas de
computador. Andrea tocava e o
povo gritava, resolveu lançar. É isso aí, fia. É tempo de muié na cabine. A DJ Paula também vai lançar
um disco, mixado por ela mesma
em si, e a DJ de trance Roxy conquistou mais fãs com seu carisma,
na festa da lama de Mauá.
E diz que a festa de Mauá foi lisérgica! Que, quando o povo olhou, tinha um habitante da mata agachado, com chapéu de duende e tudo.
TEM Mercado Mundo Mix neste
fim-de-semana na Tagipuru.
E-mail: palomino@uol.com.br
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