São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Crítica/"The Sons of Cuba" e "The Legend of Cuban Percussion"

Patato e Pio Leiva exibem diversidade da cena musical cubana

Divulgação
O pioneiro Patato Valdés, que reúne gravações dos anos 90 no CD "The Legend of Cuban Percussion"


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois figurões da música cubana acabam de desembarcar no mercado brasileiro. Conhecido integrante do projeto Buena Vista Social Club, o cantor Pio Leiva é protagonista do filme "The Sons of Cuba" (2004), que sai aqui em DVD e CD com a trilha sonora. Já o percussionista Patato Valdés surge em gravações dos anos 90, compiladas no álbum "The Legend of Cuban Percussion".
Dirigido pelo argentino German Kral, "The Sons of Cuba" pretende ser uma seqüência de "Buena Vista Social Club" (1998), documentário de Wim Wenders que ajudou a popularizar internacionalmente a música de veteranos cubanos, como Leiva (que morreu em março último), Ibrahim Ferrer e Compay Segundo.
A intenção de Kral é mostrar a "próxima geração" da cena musical da ilha. Seu elenco destaca uma eclética seleção de jovens talentos: do ótimo cantor Pedro "El Nene" Martinez (herdeiro da tradição do bolero) à rapper Telmary Diaz, passando por Mayito Rivera (da banda Los Van Van) ou pelo grupo pop Chiki Chaka Girls.
"The Sons of Cuba" já justificaria sua existência se apenas narrasse as histórias e exibisse as performances dos músicos, mas Kral comprometeu o filme ao tentar unir documentário e ficção. No fraco roteiro, Pio Leiva interpreta a si mesmo: ajuda um taxista (Bárbaro Marin) a formar uma banda para levá-la em turnê pelo Japão.
Ao menos restam belas tomadas de Cuba e os números musicais. Leiva interpreta o bolero "Cuando Ya No ne Quieras" com Osdalgia Lesmes. Mayito Rivera exibe seu carisma na frenética "Negrito Bailador". Há ainda uma versão de "Chan Chan", hit do Buena Vista que mistura os vocais de Leiva, Rivera e Osdalgia com as rimas da rapper Telmary.

Mestre das congas
No universo da percussão cubana, o mestre das congas Patato Valdés desempenhou um papel similar ao de Charlie Parker, no jazz, ou de João Gilberto, na música brasileira. Não só criou um estilo (mais melódico) de tocar seus tambores como inventou uma maneira de afiná-los que se tornou padrão.
Um dos pioneiros na propagação do jazz afro-cubano, Patato, hoje com 80 anos, radicou-se em Nova York, em 1954. Depois de tocar com outros medalhões do jazz latino, como Chano Pozo, Machito e Mongo Santamaría, atuou por quase uma década com o flautista Herbie Mann.
"The Legend of Cuban Percussion" reúne faixas dos dois volumes de seu projeto "Ritmo y Candela", lançados em 95 e 96. Acompanhado pela pianista Rebeca Mauleón-Santana e pelo saxofonista Enrique Fernandez, além de outros percussionistas, Patato hipnotiza o ouvinte com sua percussão.
Só pela fusão da jazzística "Señor Blues" (de Horace Silver) com a africana "Mbula Enoka" já valeria comprar o disco, mas Patato brilha em muitos momentos, como na saborosa versão latina do standard "I Got Rhythm". Irresistível também é a "Descarga em Faux", uma jam session em levada afro-cubana. Com suas congas, o velhinho cubano incendia até pista de gelo.

THE SONS OF CUBA   
Intérpretes: Pio Leiva, El Nene, Mayito Rivera e outros
Lançamento: Coqueiro Verde/EMI
Quanto: R$ 33 (DVD) e R$ 22 (CD), em média

THE LEGEND OF CUBAN PERCUSSION     
Intérprete: Patato
Lançamento: Six Degrees/Ginga P.
Quanto: R$ 25, em média


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