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Crítica/"Coleção Arnaldo Jabor", "Tudo Bem" e "Eu Sei que Vou Te Amar"
Diretor faz leitura crítica dos valores da classe média
CRÍTICO DA FOLHA
Era comum ouvir, nos
tempos pré-DVD, que
um diretor não vinha
junto do filme para explicá-lo.
Logo, a obra precisaria estabelecer sozinha a ponte com o espectador, que não teria essa
"bula" privilegiada à qual recorrer para descortinar sutilezas e intenções deliberadas.
Agora, muitos pais acompanham as crias quando elas chegam ao DVD - por meio de entrevistas e depoimentos extrafilme, de comentários que
acompanham a exibição e até
mesmo de curtas que lançam
novo olhar sobre o próprio longa (vide "Amor à Flor da Pele",
de Wong Kar-wai) ou sobre a
obra pregressa (os discos com
filmes de M. Night Shyamalan).
Arnaldo Jabor se inclui entre
eles ao apresentar os sete longas, um curta e um episódio de
série de TV reunidos na coleção
que traz 100% de sua carreira
como realizador. Gravados em
2006, seus depoimentos têm
rompantes de sinceridade incomum. "Não é um filme que se
organizou com clareza", diz ele
sobre "Pindorama" (70), por
exemplo. "Não é fácil de entender, mas eu explicando fica
mais claro." Em termos.
Ao cobrir 25 anos de sua produção, do curta "O Circo"
(1965) até "Carnaval" (1990),
episódio da série européia de
TV "Amor à Primeira Vista", a
caixa não só ilumina Jabor, mas
também parte da filmografia
brasileira desse período
-aquela nascida no centro do
cinema novo- e certa idéia de
representação do país (ou a
possibilidade de) buscada.
Aqui, a tecla acionada é a da
classe média. O primeiro longa
de Jabor, o documentário "A
Opinião Pública" (1967), se dedica a ela, com profunda ironia.
"Multidão de indivíduos solitários" que "pensam ter algo a
perder", diz o narrador.
Intervenções do diretor à
parte, estão lá representantes
da classe média carioca falando
a respeito do que pensam e fazem, em material de pesquisa
notável sobre o país no intervalo entre o golpe de 1964 e o AI-5. Jabor retomaria a ambientação social, agora na ficção, com
"Toda Nudez Será Castigada"
(1972) e "O Casamento" (1975).
Excelentes releituras da obra
de Nelson Rodrigues, os dois
alavancam "Tudo Bem" (1978),
ápice dos procedimentos do Jabor cineasta: espírito de alegoria (o país em um apartamento
de funcionário público aposentado), ênfase na significação
dos elementos da cenografia,
dramaturgia de raízes teatrais,
abordagem tropicalista.
"Eu Te Amo" (1980) e "Eu Sei
que Vou Te Amar" (1986) empreendem a radicalização dessa
estratégia antinaturalista, com
poucos personagens isolados
em um imóvel. A classe média
passa a olhar só para o umbigo,
ou para o coração, onde moram
as dores de amores e o medo da
solidão. A psicanálise rouba espaço da sociologia.
(SÉRGIO RIZZO)
COLEÇÃO ARNALDO JABOR
Diretor: Arnaldo Jabor
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 199
TUDO BEM
Produção: Brasil, 1978
Com: Fernanda Montenegro
EU SEI QUE VOU TE AMAR
Produção: Brasil, 1986
Com: Fernanda Torres, Thales Pan Chacon
Quando: ambos a partir de hoje no
Frei Caneca Unibanco Arteplex
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