São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Crítica/"Só Deus Sabe"

Romance teen desanda ao virar drama esotérico

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa semana em que os clichês nacionais causaram barulho -com a polêmica em torno de "Turistas" e o documentário "Olhar Estrangeiro", de Lúcia Murat-, "Só Deus Sabe" oferece seu quinhão à discussão. A diferença é que, agora, a exploração dos lugares-comuns latino-americanos não vem do Primeiro Mundo, mas de uma co-produção Brasil-México.
Carlos Bolado é bom para fazer filmes "de estrada". "Baixo Califórnia" (2001) arrastava de modo angustiante um homem e sua culpa através do deserto.
Mas aqui ele tropeça. Ao mostrar o colorido do interior do México e o caminho até São Paulo, o diretor é previsível, pois cada cartão-postal sugere, pela sua própria natureza, o que acontecerá em cada cena. Tudo começa quando a estudante brasileira Dolores, que mora nos EUA, perde o passaporte numa festa em Tijuana.
Quem o acha é Damián, jovem mexicano supersticioso que, de posse do documento, tenta manter a moça perto de si.
O romance amadurece e o que passa a conduzi-lo é a religiosidade. Terreno perigoso. No começo, é interessante ver como Damián arma seu altar de mortos ou como Dolores descobre ser filha de Oxum.
Se a trama seguisse na toada adolescente, teríamos uma espécie de "E Sua Mãe Também" (Alfonso Cuarón). Ou seja, um bom filme latino-americano de e para jovens.
Mas fazer o drama apoiar-se no lado folclórico das crenças o compromete. E o filme vira aquilo que provavelmente queria ao máximo evitar ser: uma mistura de novela brasileira com drama mexicano.


SÓ DEUS SABE   
Direção: Carlos Bolado
Produção: Brasil/México (2006)
Com: Diego Luna, Alice Braga
Quando: Unibanco Arteplex 4, HSBC Belas Artes, Paulista e circuito


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