São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Última Moda

Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br

Escultor do futuro

O estilista Pierre Cardin, que mudou os rumos da moda nos anos 60, inaugura na França um museu com suas criações

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Aos 60 anos de carreira, o estilista francês Pierre Cardin decidiu criar seu próprio museu, em Saint Ouen, no subúrbio de Paris. O espaço de 3 mil m2 exibe 140 manequins com modelos característicos das várias fases da obra de Cardin, 84, um dos nomes mais importantes da moda.
Dez modelos mostram o início de seu trabalho, em 1946, na Maison Christian Dior. Em seguida, estão os vestidos que consagraram Cardin e com os quais ele revolucionou a moda nos anos 60, com suas formas futuristas e os materiais inovadores para a época, como o plástico e o metal. "Penso e trabalho como um escultor", diz.
Percursor do prêt-à-porter e da moda unissex, Cardin influenciou toda uma geração de estilistas e soube, como ninguém, democratizar o universo da alta-costura. Hoje, seu império ultrapassa o universo da moda. Ele detém mais de 800 franquias em 170 países, tendo vendido seu nome a empresas que produzem produtos tão variados quanto canetas e vinhos. "Eu sempre quis ser popular.
Que desonra há em comprar um perfume famoso em uma loja de departamentos? É estúpida essa idéia", diz o estilista na entrevista a seguir, feita no último mês, em seu museu.

 

Folha - Por que o sr. decidiu criar um museu Pierre Cardin?
Pierre Cardin -
Para deixar um rastro do meu trabalho. Em 60 anos de carreira, sempre guardei os meus modelos. Nunca quis me desfazer deles, porque, para mim, são um vestígio de civilização. Como eu criava, em média, 250 modelos por coleção, num determinado momento eu me encontrei com cerca de 5 mil peças, sem saber onde colocá-las. Foi então que decidi reuni-las em um espaço onde o público pudesse acompanhar a evolução do meu trabalho.

Folha - O sr. ficou mundialmente conhecido por suas formas futuristas e por utilizar materiais inovadores na década de 60. O que o motivou a se arriscar neste território?
Cardin -
Há influências bem particulares nas minhas coleções que não são próprias à história do vestuário. O meu trabalho sempre foi uma abstração. Foi muito inspirado no virtual, quer dizer, nas novas tecnologias, no cosmos, na conquista do espaço, nos raios laser, nos satélites, todo esse mundo moderno que me fascinou quando eu era jovem. Eu tentei, a partir dessa inspiração, utilizar materiais diferentes, o que me permitiu trabalhar a moda e as formas como esculturas. Em geral, meus modelos não seguem o corpo. Imagino-os como esculturas em metal, aço ou madeira e depois coloco o corpo humano dentro. Eu penso e trabalho como um escultor.

Folha - O sr. é um dos estilistas mais populares do mundo. A que atribui essa popularidade?
Cardin -
Mas é justamente o que eu sempre quis, ser popular. Eu comecei a minha carreira aos 20 anos e tive a sorte de ter tido sucesso cedo, o que era raro na época. Muito jovem, eu já havia vestido personalidades do mundo inteiro. Então, comecei a sentir uma certa culpa. Eu sentia o socialismo crescer politicamente no mundo. Além do mais, para mim, o que era importante era ser conhecido, estar presente nas grandes lojas de departamento. Eu queria levar a criatividade às pessoas que não tinham acesso ao círculo restrito da alta-costura. Que desonra há em comprar um perfume famoso em uma loja de departamentos? É estúpida essa idéia. O importante para um costureiro é ter talento e ser reconhecido.

Folha - O que o sr. acha dos estilistas atuais?
Cardin -
Acho que muito dos trabalhos atuais são como uma mistura barroca. Não há pureza, não se pode reconhecer o estilo, porque tudo está embaralhado. Outra crítica é que a criação cedeu lugar à cópia. Por exemplo, quando eu vejo estilistas fazendo corpetes, penso que não tem nenhum sentido criar esse tipo de peça nos dias atuais. Eu erradiquei esses artifícios das minhas coleções há muitos anos em prol de linhas que privilegiam a praticidade.

Folha - Qual foi a principal contribuição de Pierre Cardin à moda?
Cardin -
Penso que deixarei um vestígio de cultura. Os penteados, a maquiagem, o vestuário ilustram uma época. Isso é muito importante. Se amanhã, por exemplo, alguém fizer um filme sobre 2007 vai, quase com certeza, utilizar as roupas criadas por mim ou por outros costureiros do mesmo período. Os próprios pintores se inspiram na vida, e parte da vida são os modelos criados pelos costureiros.

ARQUIVO FASHION
Uma retrospectiva do trabalho do fotógrafo carioca José Antonio Moraes, destaque da fotografia brasileira de moda nos anos 70, é um dos destaques da nova edição da revista "S/Nš", comandada por Bob Wolfenson e Hélio Hara. Moraes fotografou beldades como Brigitte Bardot e Claudia Cardinale e foi o idealizador do estilo ultrasexy e provocativo das capas da revista "Nova". Na foto à esq., a modelo Mazi Matarazzo, clicada por Moraes no final dos anos 60.

PROMESSA
A paranaense Andressa Fontana (foto à dir.), 17, é a nova aposta dos fashionistas para a próxima temporada de desfiles. Com seu franjão-tendência, ela foi escolhida como destaque da semana pelo site hype Models.com, especializado em notícias sobre o mundo das tops.

OSCAR FREIRE
Com o fim das obras de reurbanização, a rua Oscar Freire será "reinaugurada" no domingo, dia 10. A Prefeitura de São Paulo e diversas ONGs da capital armaram uma programação com apresentações musicais e de dança, a partir das 10h. Nesse dia, a rua ficará fechada para o tráfego de carros.
Na quinta-feira, dia 14, a rua volta a abrigar um evento especial: o show do grupo Demônios da Garoa. Os sambistas tocam num espaço montado na frente da loja da Iódice, para comemorar o lançamento de uma série de camisetas criada pela grife em homenagem a São Paulo.


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