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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
Escultor do futuro
O estilista Pierre Cardin, que mudou os rumos da moda nos anos 60, inaugura na França um museu com
suas criações
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Aos 60 anos de carreira, o estilista francês Pierre Cardin decidiu criar seu próprio museu,
em Saint Ouen, no subúrbio de
Paris. O espaço de 3 mil m2 exibe 140 manequins com modelos característicos das várias
fases da obra de Cardin, 84, um
dos nomes mais importantes
da moda.
Dez modelos mostram o início de seu trabalho, em 1946,
na Maison Christian Dior. Em
seguida, estão os vestidos que
consagraram Cardin e com os
quais ele revolucionou a moda
nos anos 60, com suas formas
futuristas e os materiais inovadores para a época, como o
plástico e o metal. "Penso e trabalho como um escultor", diz.
Percursor do prêt-à-porter e
da moda unissex, Cardin influenciou toda uma geração de
estilistas e soube, como ninguém, democratizar o universo
da alta-costura. Hoje, seu império ultrapassa o universo da
moda. Ele detém mais de 800
franquias em 170 países, tendo
vendido seu nome a empresas
que produzem produtos tão variados quanto canetas e vinhos.
"Eu sempre quis ser popular.
Que desonra há em comprar
um perfume famoso em uma
loja de departamentos? É estúpida essa idéia", diz o estilista
na entrevista a seguir, feita no
último mês, em seu museu.
Folha - Por que o sr. decidiu criar
um museu Pierre Cardin?
Pierre Cardin - Para deixar um
rastro do meu trabalho. Em 60
anos de carreira, sempre guardei os meus modelos. Nunca
quis me desfazer deles, porque,
para mim, são um vestígio de
civilização. Como eu criava, em
média, 250 modelos por coleção, num determinado momento eu me encontrei com
cerca de 5 mil peças, sem saber
onde colocá-las. Foi então que
decidi reuni-las em um espaço
onde o público pudesse acompanhar a evolução do meu trabalho.
Folha - O sr. ficou mundialmente
conhecido por suas formas futuristas e por utilizar materiais inovadores na década de 60. O que o motivou a se arriscar neste território?
Cardin - Há influências bem
particulares nas minhas coleções que não são próprias à história do vestuário. O meu trabalho sempre foi uma abstração. Foi muito inspirado no virtual, quer dizer, nas novas tecnologias, no cosmos, na conquista do espaço, nos raios laser, nos satélites, todo esse
mundo moderno que me fascinou quando eu era jovem. Eu
tentei, a partir dessa inspiração, utilizar materiais diferentes, o que me permitiu trabalhar a moda e as formas como
esculturas. Em geral, meus modelos não seguem o corpo. Imagino-os como esculturas em
metal, aço ou madeira e depois
coloco o corpo humano dentro.
Eu penso e trabalho como um
escultor.
Folha - O sr. é um dos estilistas
mais populares do mundo. A que
atribui essa popularidade?
Cardin - Mas é justamente o
que eu sempre quis, ser popular. Eu comecei a minha carreira aos 20 anos e tive a sorte de
ter tido sucesso cedo, o que era
raro na época. Muito jovem, eu
já havia vestido personalidades
do mundo inteiro. Então, comecei a sentir uma certa culpa.
Eu sentia o socialismo crescer
politicamente no mundo. Além
do mais, para mim, o que era
importante era ser conhecido,
estar presente nas grandes lojas de departamento. Eu queria
levar a criatividade às pessoas
que não tinham acesso ao círculo restrito da alta-costura.
Que desonra há em comprar
um perfume famoso em uma
loja de departamentos? É estúpida essa idéia. O importante
para um costureiro é ter talento e ser reconhecido.
Folha - O que o sr. acha dos estilistas atuais?
Cardin - Acho que muito dos
trabalhos atuais são como uma
mistura barroca. Não há pureza, não se pode reconhecer o estilo, porque tudo está embaralhado. Outra crítica é que a criação cedeu lugar à cópia. Por
exemplo, quando eu vejo estilistas fazendo corpetes, penso
que não tem nenhum sentido
criar esse tipo de peça nos dias
atuais. Eu erradiquei esses artifícios das minhas coleções há
muitos anos em prol de linhas
que privilegiam a praticidade.
Folha - Qual foi a principal contribuição de Pierre Cardin à moda?
Cardin - Penso que deixarei um
vestígio de cultura. Os penteados, a maquiagem, o vestuário
ilustram uma época. Isso é
muito importante. Se amanhã,
por exemplo, alguém fizer um
filme sobre 2007 vai, quase
com certeza, utilizar as roupas
criadas por mim ou por outros
costureiros do mesmo período.
Os próprios pintores se inspiram na vida, e parte da vida são
os modelos criados pelos costureiros.
ARQUIVO FASHION
Uma retrospectiva do trabalho do fotógrafo carioca José Antonio
Moraes, destaque da fotografia brasileira de moda nos anos 70, é
um dos destaques da nova edição da revista "S/Nš", comandada por
Bob Wolfenson e Hélio Hara. Moraes fotografou beldades como
Brigitte Bardot e Claudia Cardinale e foi o idealizador do estilo ultrasexy e provocativo das capas da revista "Nova". Na foto à esq., a
modelo Mazi Matarazzo, clicada por Moraes no final dos anos 60.
PROMESSA
A paranaense Andressa Fontana (foto à dir.), 17, é a nova
aposta dos fashionistas para a
próxima temporada de desfiles.
Com seu franjão-tendência, ela
foi escolhida como destaque da
semana pelo site hype Models.com, especializado em notícias sobre o mundo das tops.
OSCAR FREIRE
Com o fim das obras de reurbanização, a rua Oscar Freire
será "reinaugurada" no domingo, dia 10. A Prefeitura de São
Paulo e diversas ONGs da capital armaram uma programação
com apresentações musicais e
de dança, a partir das 10h. Nesse dia, a rua ficará fechada para
o tráfego de carros.
Na quinta-feira, dia 14, a rua
volta a abrigar um evento especial: o show do grupo Demônios
da Garoa. Os sambistas tocam
num espaço montado na frente
da loja da Iódice, para comemorar o lançamento de uma série
de camisetas criada pela grife
em homenagem a São Paulo.
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