São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Bush e Blair se distanciam de relatório sobre Iraque

Reunidos em Washington, dizem que guerra vai mal, mas não revelam planos

Israel rejeita idéia do Grupo de Estudos do Iraque de que precisa fazer concessões aos palestinos e devolver Golã à Síria; Damasco faz elogios

DA REDAÇÃO

O presidente americano, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, fizeram ontem em Washington observações elogiosas às recomendações divulgadas na véspera pelo Grupo de Estudos do Iraque. Mas não se comprometeram com as mudanças sugeridas pelo colegiado, nomeado pela Casa Branca e formado por republicanos e democratas.
O grupo, conhecido por sua sigla em inglês, ISG, constatou uma "grave deterioração" da situação no Iraque e recomendou que as forças estrangeiras deixem de combater até o fim de 2007, para apenas assessorar as forças locais. Aconselhou ainda a definição de um cronograma de retirada.
Também se referiu a uma solução negociada em termos regionais, o que pressupõe o diálogo dos Estados Unidos com a Síria e o Irã -que não está na ordem do dia de Washington.
Bush disse em entrevista, ao lado de Blair, que "as coisas vão mal" no Iraque é preciso "um novo enfoque" para os desdobramentos naquele país.
Mas não se comprometeu com as recomendações do ISG. Afirmou que aguarda outros estudos encomendados -ao Pentágono, ao Departamento de Estado e ao Conselho de Segurança Nacional- antes de tomar sua decisão.
Blair, por sua vez, anunciou que proximamente faria uma nova viagem ao Oriente Médio, disse que o documento do ISG "oferece uma forte alternativa de avanço" e que "as conseqüências de um malogro são bastante graves". Também ontem foi anunciado que a secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice, voltará à região no início de 2007 para tentar promover avanços no estagnado processo de paz entre israelenses e palestinos.
O presidente americano e o premiê britânico sofrem em seus países os efeitos políticos dos rumos da guerra. O Iraque pesou na perda da maioria do Congresso para os democratas nas eleições de novembro dos Estados Unidos. Em Londres, dissipa-se o que restou do apoio à política de Blair.
Os dois governantes concordaram com um dos pontos levantados pelo ISG, de que a pacificação iraquiana passa pela derrota dos grupos extremistas em todo o Oriente Médio.
Essa formulação, um tanto eufêmica, significa que, para os dez integrantes do ISG, as insurgências sunita e xiita no Iraque perderão força caso Israel faça concessões aos palestinos, capazes de enfraquecer o Hamas e o Hizbollah, dois fortes grupos radicais islâmicos.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, entendeu o recado e se apressou em dissociar seu conflito com os palestinos dos problemas enfrentados pelos americanos no Iraque. Disse a jornalistas que rejeitava a vinculação das duas questões e também a recomendação para que seu país retomasse negociações com a Síria. O grande problema pendente entre Jerusalém e Damasco é a devolução do Golã, planalto ocupado por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
A reação síria, como era de se esperar, foi oposta à de Israel. O regime de Damasco elogiou as conclusões do ISG por meio de comentário de um diplomata anônimo à agência oficial.
Em Teerã, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, disse que cabe aos americanos demonstrar mudanças em sua política no Iraque "por meio de atos, e não só por palavras". Também afirmou que só aceitaria dialogar com Washington caso a orientação americana no Iraque seja alterada.


Com agências internacionais


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