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DE SÃO PAULO
Guia da Folha
 

DE 1º A 7 DE SETEMBRO DE 2006

 

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CINEMA

O Sabor da Melancia

Tsai Ming-Liang cria universo coeso

Ricardo Calil

"O Sabor da Melancia", do malaio radicado em Taiwan Tsai Ming-Liang ("O Rio", "O Buraco"), apresenta uma inusitada mistura de influências: a angústia existencial de Michelangelo Antonioni, a comédia muda de Buster Keaton e a extravagância musical de Busby Berkeley. Mas, em vez de se perder em meio a tantas referências, o diretor consegue criar um universo coeso, particular, fascinante.

Continuação de "Que Horas São Aí?" (01), o filme traz a jovem Shiang-Chyi (Chen Shiang-Chyi) de volta a Taipé, depois de uma viagem a Paris. Ela tenta rever o vendedor de relógios Hsiao-Kang (Lee Kang-Sheng, ator-fetiche de Ming-Liang), mas descobre que o lugar onde havia marcado o encontro foi destruído.

Shiang-Chyi logo percebe também que a cidade sofre uma terrível estiagem, o que obriga as pessoas a fazerem estoques de água ou a matarem a sede com suco de melancia. Um dia, ela reencontra Hsio-Kang ao acaso, e os dois iniciam um romance, sem que ele revele que agora trabalha como ator pornô.

Dessa história singular, Ming-Liang extrai momentos de humor, melancolia, romantismo, sexo e música (como em "O Buraco", a trama é entrecortada por números de canções pop taiwanesas, que funcionam como comentários sobre a ação) -sempre marcados por um lirismo radical, pelo silêncio dos personagens e por um simbolismo que beira o surreal.

Uma das leituras possíveis para "O Sabor da Melancia" é ver a escassez da água como uma metáfora da aridez sentimental dos nossos tempos. Mas, em vez de tentar aprisionar os significados do filme, é melhor se deixar levar pela torrente de imagens insólitas dessa grande obra de Ming-Liang, que tem um dos finais mais radicais e pungentes do cinema contemporâneo.
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