Estilista Emannuelle Junqueira cria vestidos para noivas que buscam conforto e autenticidade
Em 1999, a estilista Emannuelle Junqueira, 43, ia se casar pela primeira vez. À época, ela ainda não era um dos maiores nomes do país na moda noiva, mas foi a própria troca de alianças lhe rendeu o status.
"Não achei no mercado nada que me representasse, longe daquela figura ultramontada", lembra. Então resolveu desenhar seu próprio vestido. O sucesso foi tanto que mudou todo o rumo de sua carreira.
Modelagens fluidas, delicadas, porém cheias de personalidade, são características da estilista que nasceu no Rio e morou em Paris e em Turim antes de adotar São Paulo como lar. Ela se formou em moda na faculdade Santa Marcelina e chegou a trabalhar até em fábrica de cintos antes de abrir o primeiro ateliê com a mãe, em 2003. Hoje, ocupa uma casa ampla em Higienópolis.
Emannuelle conta que a escolha pelas noivas foi planejada. Notou que muitas desistiam de se casar porque não se viam naquelas figuras que os editoriais mostravam. A primeira campanha de sua marca foi fotografada com modelos de cabelos soltos em um campo. Depois disso, mulheres que não queriam entrar na bolha de imposição desse mercado começaram a procurá-la.
Quebrada essa primeira barreira, Emannuelle revela que já sente em seu ateliê uma nova fase, que dialoga com a luta social e política das mulheres atuais. Para ela, as palavras que definem os desejos que escuta dentro das salas de prova são diversidade e autenticidade.
Seu segundo casamento, uma cerimônia íntima que aconteceu em seu apartamento, diz muito sobre como as noivas não precisam ser aquela figura que entra na igreja de braços dados com o pai, até porque os modelos de família hoje são diversos.
"Antes as mulheres me procuravam e perguntavam se tinham que usar véu, corpete, sapato forrado. Agora elas falam: 'Manu, quero poder dançar muito na minha festa, hein!'; 'Manu, quero um detalhe no vestido que homenageie a religião do meu noivo, mas não quero me fantasiar'", revela.
Assim como a estilista, suas clientes trabalham, pagam suas contas (inclusive as do casamento), são seguras e querem passar uma mensagem por meio do que usam. "Modernas, gays, héteros, religiosas ou não, elas são livres para escolher um vestido enorme tradicional ou uma camisa e uma calça em alfaiataria", observa.
Para a estilista, que assina vestidos de celebridades como a atriz Laura Neiva –que casou com o ator Chay Suede em fevereiro–, um exemplo dessa mudança foi a união de Meghan Markle com o príncipe Harry: "Uma princesa que se casa com o cabelo meio solto, sardas aparentes, pouca maquiagem e um vestido minimalista. Aquilo era ela, realeza ou não", lembra.
Diversidade sexual, mistura de raças, de religiões e maior aceitação do próprio corpo estão na pauta dos casamentos atuais, diz. "Acompanhar essa revolução me emociona."
Nesse movimento, segundo Emannuelle, há mulheres que se permitem encomendar até vestidos exclusivos para cerimônias sem convidados, apenas para satisfazer um desejo pessoal.
"Atendo senhoras que fazem prova de vestido com as netas, noivas do candomblé e meninas muito menos preocupadas em ter o corpo dentro dos padrões impostos."
Ela acha maravilhoso ver uma noiva casando de chemise, macacão ou calça com uma camisa linda. "É sinal de que o mundo está mudando e estamos no caminho certo. Se contar sua verdadeira história e celebrar o amor, estará tudo certo", suspira.
R. Minas Gerais, 80, Higienópolis, centro, tel. 3062-4112. Ter. a sáb.: 10h às 17h