Figuras da ditadura ainda nomeiam ruas de São Paulo

"Sou contra. Vai trocar o nome de um bandido pelo de outro bandido", diz Helena, moradora da rua Doutor Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina (zona oeste), quando questionada sobre a mudança de nome da via. Fleury esteve à frente do Dops, órgão ligado à tortura durante a ditadura militar. Ele é uma das figuras históricas ligadas ao período que ainda nomeiam vias.

Homenageado numa avenida no Grajaú (zona sul), o general Golbery do Couto e Silva foi um dos idealizadores do regime. Já a rua marechal Olímpio Mourão Filho, na Vila São Francisco (zona oeste) homenageia um dos militares que participou do golpe de 1964. Castelo Branco, presidente de 1964 a 1967, virou nome da rodovia que vai da capital a Santa Cruz do Rio Pardo, no interior do Estado.

Há sempre um vereador de olho em modificar a nomenclatura dessas vias. Só em relação ao elevado Costa e Silva (presidente após Castelo Branco), o Minhocão, já foram feitos projetos de Nabil Bonduki (PT) e dos então vereadores Eliseu Gabriel (PSB) e Soninha Francine (PPS).

Uma lei, aprovada em abril de 2013, tornou mais fácil a renomeação, mas ela depende dos próprios moradores.

Segundo a legislação, é preciso aprovação de dois terços dos residentes para a mudança.

Os moradores da rua Sérgio Fleury já receberam a visita da Secretaria de Direitos Humanos e do vereador Orlando Silva (PCdoB) para tentar convencê-los a trocar o nome para Frei Tito, um dos opositores do regime que foi torturado no Dops. A maioria se opõe.

Segundo a nutricionista Andrea Riskala, 47, que organiza as reuniões, a maioria dos vizinhos é contra pois acredita que a mudança vai trazer transtornos com a escritura do imóvel, com o banco e serviços como internet e energia elétrica.

"É claro que é ridículo homenagear uma pessoa como ele, mas nem entramos nesse mérito", diz ela. "Além disso, a gente também acha que existem assuntos mais importantes para os vereadores tratarem do que a mudança do nome de ruas."

Ou não: segundo um levantamento da sãopaulo, mais de um quarto dos projetos aprovados na câmara entre 2009 e 2012 correspondiam a batismo de ruas.

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