Inspiradas em filme, meninas pintam cabelo de azul para achar parceiras

"Gostou da mina, viu o cabelo azul... Já é!", ensina Marina, 16, para as amigas que a acompanham pelo parque Ibirapuera. Marina ostenta um topete cor de caneta Bic enquanto fala com o grupo de seis. Todas transam ou beijam meninas e três delas têm os cabelos azuis em homenagem ao cinema.

"Azul É a Cor Mais Quente" é longa do diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche, em que Léa Seydoux interpreta uma artista de cabelo azul que se apaixona por uma colegial e a mostra o amor em cenas explícitas de sexo de até dez minutos.

O filme entrou em cartaz há cinco meses e já saiu de circuito, mas a moda está com tintas cada vez mais fortes. "Muita gente não viu no cinema [a classificação indicativa era para maiores de 18 anos]. Agora que está na internet é que tem gente vendo, pirando e pintando", diz Lídia, 17.

Só no Capão Redondo, bairro na região sul onde mora, ela contabiliza quatro garotas de cabelo azulão. "Três lésbicas e uma moderna que todo mundo chama de lésbica, mas eu juro que não é."

Do lado norte da cidade, no Jaçanã, há uma turma de nove coloridas.

Uma delas é Susana, 15, para quem o código da cor no cabelo é aberto na rua, mas velado em casa. "Minha mãe, que é evangélica, e minha avó, que é macumbeira, não viram o filme. Acho que só veriam se passasse no 'Tela Quente'. Então tá suave. Ninguém entende."

Ela chegou no azul celeste —que ostenta nos cabelos curtos jogados para trás com pomada— usando azul de metileno, criado como medicamento, mas que também deixa um rastro de cor, caso seja passado no cabelo descolorido. Um frasco não chega a custar R$ 10 em farmácias.

"Eu não recomendo que usem metileno. Não dá câncer, como dizem por aí, mas também não é saudável para os fios. E não dura nada. Escolha sempre tintura", ensina o colorista Wagner Udiu.

Mas pouca gente ouve. Dos 17 jovens entrevistados, só três usaram produtos cosméticos para chegar à cor. Outros se valeram de esfregar papel crepom no cabelo molhado.

Ainda assim, salões registram um salto na procura pela cor. "Um pote de tinta durava três meses. Agora vai em uma semana", diz Zé Mathias, do salão Corte Seco, em Santana. No Factor, nos Jardins, a procura cresceu 500%. "Só perde para corte navalhado", diz a colorista Clara Luz.

AZUL, COR DE MENINA

Alguns garotos também adotaram o código. Paulo Mandib, 19, desfilou pela Paulista no domingo passado com mechas em três tons (calcinha, marinho e cerúleo).

"Olha, na Parada [Gay] deste ano ouvi menos elogio do que no ano passado, então acho que não faz tanto sucesso assim. Até me chamaram de sapatão masculina. Mas azul não era cor de menino antes?"

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