Biografia escrita pela viúva de Ian Curtis retrata vocalista do Joy Division

É difícil ir a um show e não ver um moleque com aquela camiseta preta com o desenho das ondas de rádio. É uma imagem icônica e imediatamente reconhecível por qualquer um que goste de rock. Não é preciso sequer ter o nome da banda impressa na camiseta para saber que ali está um fã do Joy Division.

Nunca uma banda foi tão influente tendo gravado tão poucos discos. Hoje quase ninguém lembra, mas quando o cantor do Joy Division, Ian Curtis, se matou, em 18 de maio de 1980, a banda tinha lançado apenas um LP, "Unknown Pleasures". O segundo, "Closer", seria póstumo. Somados, os dois discos têm 19 faixas.

Kevin Cummins/Divulgação
Os músicos Stephen Morris (bateria), Ian Curtis (cantor), Bernard Summer (guitarra) e Peter Hook (baixo), posam para o fotógrafo Kevin Cummins, em foto tirada em janeiro de 1979.
Os músicos Stephen Morris (bateria), Ian Curtis (cantor), Bernard Summer (guitarra) e Peter Hook (baixo), posam para o fotógrafo Kevin Cummins, em foto tirada em janeiro de 1979.

Está saindo no Brasil "Tocando a Distância", biografia de Deborah Curtis, viúva de Ian. Lançado originalmente em 1995, é um relato emocionante da vida breve e intensa do Rimbaud do pós-punk.

O Joy Division nasceu na efervescência do movimento punk na Inglaterra. No início, fazia música pesada e agressiva, como a maioria de seus contemporâneos. Mas Ian e seus companheiros —o guitarrista Bernard Sumner, o baixista Peter Hook e o baterista Stephen Morris— logo se cansaram daquilo. Gritar contra o sistema era inútil, quando tudo em volta era tão cinza e deprimente. O Joy Division criou então uma música densa, sombria e atmosférica, que traduzia perfeitamente a tristeza de Manchester. Como escreve o jornalista britânico Jon Savage na introdução: "Não estavam na Londres de Dickens, mas na Manchester de De Quincey —um ambiente sistematicamente degradado pela Revolução Industrial, confinado por pântanos ameaçadores, com o esquecimento como a única saída."

Mais do que uma biografia de Ian, o livro é uma biografia de Deborah, a menina que conheceu o rapaz na escola e se apaixonou por seu jeito tímido e sua ótima coleção de discos. Eles se casaram em 1975, quando Ian tinha 19 e Deborah, 18.

Quatro anos depois, tiveram uma filha. Deborah largou tudo para ajudar a carreira de Ian, que sonhava em ser um músico fa-moso. O livro é como os discos do Joy Division: curto, lindo e muito, mas muito triste.

LIVRO

TOCANDO A DISTÂNCIA - IAN CURTIS E JOY DIVISION *
AUTOR: Deborah Curtis
EDITORA: Ideal (2014, 320 págs., R$ 39,90)

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DISCO

"HEART AND SOUL" **
Quatro CDs com todos os lançamentos, demos, faixas gravadas em shows e programas de rádios.
ARTISTA: Joy Division
GRAVADORA: Warner (importado)

DISCO

"NEW ORDER - SINGLES" **
Os remanescentes do Joy Division fundaram outra banda magnífica, o New Order. Esta coletânea dupla traz os compactos do grupo.
ARTISTA: New Order
GRAVADORA: Warner

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FILME

"ATÉ O FIM" **
J.C. Chandor (2013, Paris Filmes)
Robert Redford faz um velejador solitário em apuros no meio do Oceano Índico. Um filme de aventura diferente, com um ator apenas e sem diálogos, mas que emociona mais que muitas superproduções por aí.

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LIVRO

"O RÉU E O REI" *
Paulo Cesar de Araújo (2014, Companhia das Letras, 528 págs., R$ 45)
Em 2007, Roberto Carlos conseguiu barrar uma biografia, escrita por Araújo. Deveria ter ficado quieto. Assim, não haveria o lançamento desse relato minucioso do caso e que expõe o obscurantismo e arrogância do "Rei", além de acusar seus advogados de adulterarem provas.

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DISCO

"DEEP PURPLE – MADE IN JAPAN" **
Deep Purple (2014, Universal Music)
A formação clássica do Purple —Ritchie Blackmore (guitarra), Ian Paice (bacteria), Roger Glover (baixo), Jon Lord (teclados) e Ian Gillan (vocais)— em dois CDs. O primeiro traz a íntegra do LP original, e o segundo tem outras dez faixas gravadas na turnê japonesa. "Essencial" é pouco.

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