Catuaba vira moda na noite de SP por seu apelo sexual e baixo preço

Sem abandonar suas raízes, fincadas nos pés-sujos e nos isopores itinerantes, a catuaba virou coquete em festas, bares e barracas da rua Augusta, da Vila Madalena e de outras regiões que integram o circuito festivo de baixo custo paulistano.

Neste ano, ajudou também a embalar o Carnaval de rua da cidade —competindo mano a mano com a cerveja em alguns blocos— e as partidas da Copa do Mundo. Feita à base de plantas que prometem poderes afrodisíacos, a bebida nunca vendeu tanto.

A marca mais famosa, Catuaba Selvagem, quase dobrou sua produção em um ano (cresceu 96%) e hoje comercializa 750 mil litros da bebida por mês no Estado, informa a fabricante Arbor. São cerca de mil litros por hora. No supermercado, a garrafa de um litro custa em torno de R$ 9.

"É um produto que existe há mais de 20 anos e agora vive sua melhor fase", conta Marcos Medeiros, gerente regional da Arbor. "Os próprios consumidores inventaram um drinque com catuaba e energético, chamado Tchai, que ajudou a aumentar a procura", conta o representante.

O rótulo ilustrado com um homem musculoso dando um "chega mais" numa mulher é um clássico.

A ilustração foi feita em 1992 pelo ilustrador carioca Benicio, 77. "Me inspirei na imagem do Conan, um homem supermásculo, acompanhado de uma supermulher", conta ele, que produziu centenas de imagens a partir da década de 1950.

São de autoria dele, por exemplo, os pôsteres dos filmes dos Trapalhões e de produções nacionais como "Dona Flor e Seus Dois Maridos".

Além da imagem ligada ao sexo, a bebida atrai consumidores por seu baixo custo. Uma dose na balada sai por R$ 5, preço similar ao de uma cerveja. Mas tem sabor adocicado e entorpece mais depressa: seu teor alcoólico é de 16%, similar ao do vinho tinto. "Quando estou quebrado, sempre tomo catuaba. Dá pra beber devagar, pois não fica ruim quando esquenta", conta Raphael Nascimento, 31, frequentador de baladas no centro.

"Uma das bebidas que mais vendemos é a catuaba. Se não tiver, é treta", diz Katia Pisacane, sócia da Nossacasa Confraria das Ideias, clube em Pinheiros que recebe festas que tocam forró, samba e maracatu.

Catuaba é um nome genérico para várias plantas que crescem em diversas regiões do Brasil.

O professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) João Calixto, que estuda uma variedade vinda da Bahia, explica que a erva tem propriedades vasodilatadoras, o que facilita a ereção, mas não é capaz de atiçar os ânimos sexuais.

"Não foram observados poderes estimulantes, mas propriedades antidepressivas e analgésicas", explica Calixto, que coordena testes para fabricar remédios contra a depressão a partir do vegetal.

A composição varia dependendo da marca. A Selvagem é feita com vinho, fermentado de maçã e extratos de catuaba, guaraná e marapuama. Já a Virtude tem como base uma bebida fermentada de cana-de-açúcar.

"Beber catuaba é um ato de descontração. É gostoso brincar com essa imagem que a bebida tem, de afrodisíaca e selvagem", considera Ian Nunes, 26, um dos criadores da festa Catuaba, realizada uma vez por mês na Vila Madalena.

Pita Uchôa, 33, organizador da festa Calefação Tropicaos, vê a chegada da catuaba como um refresco para o cardápio dos bares e baladas. "Há uma necessidade de ousadia maior nas cartas de bebidas", defende ele.

Apesar do sucesso, a bebida ainda não chegou ao circuito Itaim-Vila Olímpia. Avançar sobre esse território exigirá energia, o que a catuaba parece ter de sobra.

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