Candidato ao governo, pedreiro construiu a própria casa na zona sul

"Não tenho a ilusão de que vou me eleger", afirma Raimundo Sena, 39. Candidato do PCO ao governo paulista, o pedreiro disputa sua primeira eleição com o objetivo de disseminar as ideias do partido. "Vence quem tem mais dinheiro para injetar em campanhas gigantescas."

Há quase 20 anos na capital, o baiano de Ibititá vive em Vargem Grande, no extremo sul. Lá, faltam saneamento básico e transporte. "Não temos nem sinal de celular."

O candidato recebeu a sãopaulo em sua casa, que construiu com a ajuda de amigos. "Ainda faltam o acabamento, a garagem e uma laje."

Na última pesquisa Datafolha, ele aparecia com 1% das intenções de voto.

sãopaulo - Com qual bairro da capital ou cidade paulista o sr. se identifica?
Raimundo Sena - Com Vargem Grande, onde moro. Aqui tem a população trabalhadora que sofre os mesmos problemas que eu. A vida é difícil. Nem sinal de celular temos. Faltam saneamento, transporte e as escolas são precárias. A distância para ir para o trabalho é grande, mas ninguém quer sair daqui.

O que mais o agrada no Estado?
Não destacaria um ponto. Vim do Nordeste e cheguei aqui por melhorias de vida. Vejo São Paulo como um lugar com fonte de trabalho melhor, mais recursos.

O que mais o irrita?
A diferença gritante de tratamento com as periferias. Há regiões que não têm nada, caso de Vargem Grande, onde há pessoas tão merecedoras quanto as que estão no Morumbi. O governo privilegia algumas áreas e se esquece de outras.

Por que quer ser governador?
A gente defende um programa do partido e queremos mudanças estruturais. Acabar com as privatizações, estatizar as empresas, reduzir a jornada de trabalho, aumentar o salário mínimo para R$ 3.500. Só a classe trabalhadora conseguiria fazer essas mudanças, que não interessam à minoria privilegiada.

Os protestos de junho de 2013 mudaram a sua forma de ver a política?
Reforçou o que víamos antes. Os atos mostram a total insatisfação da população.

É a favor do uso de bala de borracha contra manifestante?
Sou contra a força repressora do Estado. Se tivesse um governo que cumprisse seu papel, não haveria essas manifestações. A população reage conforme ela vai sendo reprimida.

A polícia deve reprimir os black blocs ou deixá-los protestar do jeito deles?
Sou contra o quebra-quebra. Mas, se um jovem quebra uma vidraça de um banco por indignação, sou contra que ele seja punido como criminoso, um crime hediondo. Aí eu te pergunto: quantos trabalhadores um banco já não quebrou? Pessoas se endividam e o banco não perdoa.

Como pretende combater o PCC?
Seja o PCC ou qualquer outra facção, no momento em que você trabalha as questões sociais e muda a necessidade de as pessoas se envolverem com o crime, automaticamente, elimina a ação dessas facções. Mas nenhum governo chegará hoje e amanhã tudo estará resolvido.

Como se prepara para enfrentar uma eventual escassez de água?
Os serviços públicos como abastecimento de água e de energia elétrica têm de ser estatais. Tudo é levado para a iniciativa privada, que visa o lucro, deixando de investir. É o caso da Sabesp. Tem de investir mais em reservatórios, em novas formas para utilizar melhor a água.

O sr. acha a qualidade água boa? Bebe água da torneira?
Aqui em Vargem Grande, sim, porque é um sistema isolado, um poço artesiano do bairro. Em outras regiões só beberia para não morrer de sede.

A tarifa do transporte pode ser zero?
Pode ser zero. O povo já paga muitos impostos, a arrecadação é gigantesca.

O metrô é a única salvação para o trânsito em São Paulo? Quantos km pretende construir?
Metrô e trem teriam de ter prioridade de investimento. É difícil de estimar [os km]. Precisaria de uma avaliação para falar quantos eu faria. Mas com investimento sério seria possível fazer mais que o triplo do que está sendo feito.

Qual o seu principal projeto para a rede pública de saúde?
Melhorar o problema público de saúde passa por construir e estatizar hospitais. Hospital tem bastante, mas a saúde pública está falida. Hoje priorizam a saúde privada. É preciso estatizar para dar acesso a quem precisa. Saúde, educação, transporte não têm de estar voltados para o lucro. Estado tem de ter o controle sobre a saúde.

Utiliza algum serviço público?
Utilizo todos. Saúde, transporte, escolas [dos filhos]. Todos estão muito ruins. O esforço dos professores é grande, mas falta estrutura. Não tenho convênio médico. Por sorte nunca tive uma grande emergência de saúde.

Quem foi o melhor governador de São Paulo?
Não destacaria nenhum. Um dá continuidade ao que o outro faz. É uma máquina que funciona de uma maneira torta. Se analisar esses anos que vivo aqui, os avanços são mínimos em todas as áreas.

E o pior?
Pelo tempo que está no governo, o Alckmin seria um dos piores. Até água está faltando em muitas torneiras por aí.

Em que político o sr. se inspira?
O Rui Costa Pimenta [presidente do PCO] é em quem eu mais me espelho. Gosto da coerência dele. Nunca abriu mão de defender as mesmas bandeiras em toda a sua vida política.

Se for eleito, qual será a sua marca?
Priorizar as áreas mais precárias hoje: saúde, educação e transporte público. Na saúde, estatizaria e criaria mais hospitais, priorizaria a escola pública. São os problemas que o trabalhador mais sente na pele.

O que não faltará no seu gabinete?
Coragem para promover mudanças.

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