'Estou condenado a São Paulo', diz cineasta Ugo Giorgetti

De alguma forma, a capital paulista está presente em toda a filmografia de Ugo Giorgetti, 72. Em "Sábado" (1995), por exemplo, é retratada nos "ô, meu" repetidos por um personagem que perambula pelo edifício Martinelli. Na obra "O Príncipe" (2002), serve de cenário para os vaivéns de seu protagonista, um intelectual que revê a metrópole após 20 anos sem pisar nela.

Agora, São Paulo aparece em "A Cidade Imaginária", nova produção do diretor, selecionada para a 38ª Mostra Internacional de Cinema. No longa, ambientado no século 19, a capital fica apenas na imaginação de imigrantes italianos prestes a desembarcar por aqui, sem saber o que encontrarão.

Apesar de ter a cidade evidenciada em seus filmes, Giorgetti, paulistano de Santana e morador de Perdizes, revela uma aversão por São Paulo. "Não sou um fanático por esse ódio, mas que odeio um pouquinho, odeio."

Inês Bonduki/Folhapress
O cineasta Ugo Giogetti, 72, na Vila Beatriz, onde fica seu escritório
O cineasta Ugo Giogetti, 72, na Vila Beatriz, zona oeste, onde fica seu escritório

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sãopaulo - Você já declarou algumas vezes que detesta São Paulo, mas continua a morar aqui.
Ugo Giorgetti - Conforme o dia eu abomino mais e de maneiras diferentes, mas estou condenado a esta cidade, não tem jeito. Nasci aqui, meus pais e filhos também. E, a essa altura da vida, não tenho muito o que fazer. A não ser, de vez em quando, confessar o ódio. Acho que tenho esse direito, pois suporto a cidade há 72 anos.

Nunca gostou dela?
Na minha juventude, São Paulo era uma cidade segura, limpa, bonita. Ela tinha outros problemas, é verdade. No entanto, eram coisas que não incidiam sobre o cotidiano, como o barulho infernal de hoje, a violência indiscriminada. O tratamento humano ficou muito precário, perdeu-se a noção de convivência.

Mas seus filmes se passam aqui. Acha que eles representam a capital?
Meus filmes se passam aqui. No entanto, são histórias sobre pessoas. São Paulo é apenas o endereço dos personagens.

Em "A Cidade Imaginária", você optou por ambientar a narrativa inteiramente em um navio. Por quê?
Quis narrar um momento crucial na vida dos imigrantes que chegavam por Santos e vinham a São Paulo. Escolhi a noite que precede a descida do navio com o objetivo de mostrar o que se perguntava essa gente, quem eram essas pessoas.

Como palmeirense e diretor de dois longas sobre futebol (os da série "Boleiros"), está ansioso para ir ao novo estádio Allianz Parque?
Você está louca! Sou velho do Parque Antártica, aquele lugar era maravilhoso. Mas acho que vou acabar por visitar esse monstrengo que construíram.

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