Mãe espalha cartazes com retrato falado de suspeito de matar o filho

Postes das regiões da Mooca e da Vila Prudente, na zona leste paulistana, passaram a exibir, de outubro para cá, o retrato falado de um dos suspeitos de matar o economista Thiago de Osti Cardoso Lopes. As imagens têm sido afixadas pela mãe da vítima, Juraci de Osti Lopes, 51. Ela estima ter colado mais de mil cartazes.

Thiago completaria 29 anos neste domingo (7). No fim da noite de 2 de outubro deste ano, ele e a mãe foram abordados por três criminosos em frente à casa da família, na Vila Prudente. O rapaz entregou a chave do carro, mas foi baleado por um deles e morreu. O trio fugiu e não levou o veículo.

Em entrevista à sãopaulo, na última quarta (3), Juraci contou que decidiu colar os cartazes para ajudar a polícia a localizar um dos suspeitos. "Pode não ser igualzinho ao do retrato falado, mas alguma característica tem."

Segundo ela, os cartazes foram financiados por meio de um fundo, que conta com a participação de amigos do filho. Foi criado, ainda, o Movimento Thiago Vivo para pedir a redução da maioridade penal e mudanças na lei que impede prisões em dias anteriores a eleição.

*

Depoimento de Juraci de Osti Lopes

Saio de manhã de casa e vou colando os cartazes na rua. Vou sozinha, não quero ninguém comigo. As pessoas me dão informação, falam alguma coisa, me pedem alguns. Tenho uma malinha de rodinha em que levo tudo. Já gastei tanto tubo de cola... Um dia, fui bem longe e acabou a cola. Hoje, levo uma de reserva.

Preciso fazer isso, pois fica uma revolta dentro de você por tudo que aconteceu. Meu filho morreu por nada. Era um menino que estava começando a vida, tinha futuro. Eu já sonhava com os meus netos.

Foi tudo muito rápido. Chegamos em casa e entramos com o carro na garagem. Vínhamos de uma degustação, pois meu filho iria casar exatamente um ano depois. Ele faleceu no dia 3 de outubro [a família recebeu a notícia por volta das 3h] e iria se casar em 3 de outubro de 2015, estava marcado. Estávamos muito felizes e ele brincava, dizia que o casamento seria lindo.

Abri o portão e entramos. Eu estava indo fechar o portão e ele, ainda dentro do carro, me chamou: "Mãe, a tua garrafinha de água". Quando fui pegá-la, a garrafa caiu no chão. Pensei que ele estivesse brincando. Quando a peguei e virei, eles [dois criminosos] já estavam com ele perto do poste. Outro estava no meio da rua, armado. Para mim, eram menores de idade.

Quando vi o cara com a arma, fui até ele, segurei na mão dele e falei: "Por favor, para, para". Ele chegou perto do Thiago, que perguntou: "Eu te dei a chave do carro, o que mais você quer?". Ele não respondeu, fez assim [aproximou a arma do corpo dele] e pum. O Thiago ergueu a camisa e vi só uma pintinha. Não sangrava. Eles [os criminosos] saíram correndo e xinguei, achando que não era nada, que era brincadeira. Meu filho cambaleou e caiu.

Antes de cair, ele pediu: "Mãe, chama o 190". Calmo, tranquilo. Passou um carro e uma pessoa perguntou se eu precisava de ajuda. Meu filho estava consciente e foi para o hospital conversando com o meu outro filho no carro, disse que o amava.

Ele tinha relógio, iPhone... Por que não levaram o iPhone? O que faço agora com esse celular? A enfermeira disse que, quando entrava no centro cirúrgico, ele agradeceu as pessoas por estarem ajudando. Como eu acreditaria que depois viria a notícia de que ele havia morrido? É uma dor tão forte.

Não sei se foi a minha reação [que levou o criminoso a atirar], isso está me matando. Meu filho não fez nada. Eu me arrependo tanto, eu deveria ter saído correndo. Meu filho era forte, deveríamos ter lutado. Eles vão continuar matando enquanto continuarem passando a mão na cabeça desses meninos.

No dia em que tudo aconteceu, queriam me dar um calmante, mas eu não queria. No hospital, um amigo do meu filho insistiu. É impossível não tomar. Hoje, estou tomando dois por dia. A lembrança daquele momento não me sai da cabeça.

Estou assim [falando] porque tomei metade... Não quero isso para minha vida. Mas preciso ir em frente, você entende? A saudade do meu filho é uma coisa que não adianta imaginar, só quem passa por isso sabe. É uma dor, uma revolta.

Eu não vou perdoar [quem atirou]. Não vem com essa de mandar mensagem de mãe. Não perdoo e jamais perdoarei. Não quero saber. Eu estava lá fora e vi o que aconteceu. Meu filho não fez nada, não reagiu e o cara, de maldade, deu um tiro nele.

Estou pedindo a Deus força por causa dos meus filhos. A polícia tem dado muito apoio. Qualquer novidade, eles me ligam. O doutor Ricardo [Salvatori, delegado do 57°DP] sempre pede para eu não colocar a minha vida em risco, para deixar o trabalho para a polícia. Ele pede calma, para eu não ir muito longe colar os cartazes. Mas ele não pode me impedir.

Eu estava saindo todo dia. Dei uma pausa, pois tenho mais dois meninos, outras coisas para cuidar do movimento [Thiago Vivo]. Mas passo nas ruas em que coloquei e vi que arrancaram. Só que não vão me vencer. Colei a primeira remessa [com mil cartazes]. Tem a segunda e estou pensando se volto para colar onde arrancaram, para mostrar que não tenho medo, ou se vou para outro lado.

Publicidade
Publicidade