A mais bela relação da história da música. É assim que o autor José Eduardo Vendramini descreve o caso de amizade, amor e lealdade entre Robert Schumann (1810-1856), sua mulher Clara Schumann (1819-1896) e o amigo Johannes Brahms (1833-1897) —três importantes pianistas e compositores alemães.
Em "Querido Brahms", que estreia na próxima sexta-feira (30/1) no Teatro J. Safra, detalhes reais das vidas desses artistas se misturam a ações e diálogos fantasiosos criados por Vendramini, que também se baseou na especulação sobre o relacionamento amoroso entre Clara e Brahms para desenvolver o texto.
O espetáculo, encenado por Werner Schünemann, Carolina Kasting e Olavo Cavalheiro, começa quando Clara pede ajuda a Brahms após a tentativa de suicídio do marido. Ele, que considerava Schumann seu mestre, vai até a residência do casal —e lá os três falam sobre música, loucura e sentimentos.
A direção é de Tadeu Aguiar, e a trilha, com composições dos próprios artistas, tem direção do maestro Miguel Briamonte, que já foi diretor e regente de espetáculos como "A Bela e a Fera" e "O Fantasma da Ópera".
A peça fica em cartaz até 29 de março, com ingressos a R$ 50 e R$ 60.
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DETALHES REAIS DO ESPETÁCULO:
- Robert Schumann e Clara Wieck (nome de solteira) foram casados e tiveram muitos filhos
- Brahms se hospedou na casa dos Schumann por uma pequena temporada, estreitando laços
- Em 1854, Schumann tentou se suicidar, atirando-se no Rio Reno, mas foi salvo por barqueiros
- Dias depois, Schumann pediu para ser internado —e foi. Morreu lá dois anos mais tarde
- Depois da internação de Schumann, Brahms ficou cuidando de sua família por dois anos, até a morte de seu mestre, que visitava sempre
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LEIA TRECHO DA PEÇA "QUERIDO BRAHMS"
SCHUMANN - Eu quero ser internado num hospital psiquiátrico.
(Pausa. CLARA olha intensamente para BRAHMS. Pressionado, BRAHMS reage)
BRAHMS - Então você vai abandonar sua mulher e seus filhos?
SCHUMANN - Eu não me sinto mais dono do meu próprio espírito, nem sei do que eu seria capaz esta noite. Eu preciso ir para o hospício.
CLARA - Eu não concordo. Esta casa é o lugar mais adequado para sua recuperação. Meu amor, o amor da sua família e dos seus amigos será sempre o melhor remédio.
SCHUMANN - Não vai demorar muito. Eu voltarei logo, curado, eu vou me recuperar, voltar para esta casa e presentear você com um novo piano, novas composições...
CLARA - Bastam aquelas que você já me dedicou.
SCHUMANN - Não são nada perto da sua dedicação à minha obra.
CLARA - O que eu - juro! - nunca deixarei de fazer.
BRAHMS - Eu também.
(Mutação de som e luz. SCHUMANN senta-se, exausto)
CLARA - Colocarei flores em tua fronte, meu amor, como aquela coroa de mirtos que você me dedicou no dia do nosso casamento.
SCHUMANN - Era tudo que eu então podia oferecer para homenagear minha sacerdotisa, um dia antes do seu aniversário de 21 anos: um conjunto de canções.
CLARA - Que Marie [filha do casal] já está tocando lindamente.
SCHUMANN - Mas —agora que as crianças se acalmaram— eu também quero dormir um pouco.
CLARA - Durma, meu amor, durma que eu velo por você.
SCHUMANN - A nossa vida será cheia de poesia. Juntos, nós dois saberemos tocar e compor, proporcionando —assim— momentos de felicidade ao nosso próximo.
CLARA - Eu prometo ser fiel a você e a esta causa.
SCHUMANN - Adeus, minha querida Clara.
CLARA - Nunca diga "adeus".
BRAHMS - Agora, descanse.
SCHUMANN - Adeus, meu querido Brahms.
CLARA - Nosso querido Brahms.
BRAHMS - Sempre que eu puder, vou visitá-lo, eu sempre virei visitá-los —até ficarmos todos velhos.
SCHUMANN - No fundo, só envelhecemos para perder. Até o dia em que chega nossa vez de sermos levados para o cemitério. Então, neva e venta sobre nosso túmulo. E a vida segue seu curso.
BRAHMS - "Pára, ó tempo, és tão belo!"
SCHUMANN - Tudo acaba.
CLARA - Menos a música.
BRAHMS - Menos o nosso amor. Vocês representam a mais preciosa riqueza e a substância mais nobre. Robert e Clara Schumann são e sempre serão a mais bela aventura da minha vida.
CLARA - Você é meu anjo consolador, graças a quem estarei sempre revivendo.
SCHUMANN - Silêncio, agora! A alvorada está cantando uma canção no jardim dos poetas. Ouçam.