Futebol feminino terá espaço no acervo no museu do Pacaembu

Quase sete anos depois da inauguração, o Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu (zona oeste de São Paulo), agora contemplará o futebol feminino que, até então, tinha participação mínima no acervo. A partir de maio, informações sobre a modalidade estarão na exposição permanente.

As frequentadoras têm entrada gratuita neste Dia Internacional da Mulher (8) e em todos os outros domingos do mês de março.

O Museu do Futebol também abrigará palestras mensais sobre o tema —a primeira delas ocorre no sábado (14), comandada por Emily Lima, 34, primeira técnica mulher da CBF— e exibirá os jogos da Copa em junho.

"O público pede há muito tempo informações sobre o futebol feminino", afirma Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do museu. Ela afirma que o momento oportuno chegou: além de ser o ano do Mundial das mulheres, a Fifa determinou que a CBF investisse 15% dos ganhos com a Copa do Mundo de 2014 no futebol feminino. "É um incentivo mais expressivo. Percebemos uma maior movimentação no esporte."

A ação também visa atrair mais mulheres ao museu. "Quando inauguramos, o público era 70% homens e só 30% mulheres", diz Daniela. "É espantoso, porque todos os outros museus da cidade têm mais público feminino do que masculino. Fizemos a pesquisa em 2013, e a diferença ainda é grande: 60% e 40%."

Emily Lima, que hoje treina o time São José, de São José dos Campos (Vale do Paraíba), é otimista quanto ao futuro, mas faz ressalvas. "O esporte ganhou mais visibilidade por interesse de algumas pessoas, mas muitas atletas continuam sem clube e, quando jogam, ainda não ganham um salário digno."

A intenção do museu, de acordo com Daniela, é divulgar mais o esporte. O novo acervo resgata a história da modalidade, que ainda não ganhou medalha de ouro olímpica nem Copa. Marta, única profissional eleita a melhor jogadora do mundo cinco vezes pela Fifa, e Formiga, que está na seleção há 20 anos —dois recordes jamais atingidas por nenhum jogador-, terão fotos que flutuarão em meio aos ídolos homens em uma das salas principais do museu.

Outras profissionais também estarão presentes, como Léa Campos, a primeira árbitra do mundo. Mineira, ela driblou a lei que proibia a participação das mulheres no futebol, que vigorou no Brasil entre 1941 e 1979. "Fiz o curso de árbitra em 1967 e tive que brigar com a CBF por quatro anos para que me dessem o diploma", recorda. "A proibição falava sobre jogar, mas não mencionava apitar, e me apeguei nessa brecha." Na época, ela chegou a recorrer ao então presidente Emílio Garrastazu Médici.

Léa também lembra que, quando começou a apitar jogos, sofreu mais preconceito das próprias mulheres do que do mercado do futebol. "Só tive um problema com a Federação Paulista, em 1972. Eles não permitiram que eu apitasse o amistoso entre Zaire e Portuguesa; disseram que futebol não era coisa de mulher. Falsa moral, pois deixaram uma bandeirinha posar nua [anos mais tarde]."

A ex-árbitra se diz satisfeita com a novidade do museu. "As pessoas precisam saber que existem mulheres sérias no futebol. As autoridades, tanto do governo quanto do esporte, parecem temer a força delas."

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COMO FICARÁ O MUSEU

A sãopaulo conta com exclusividade como o Museu do Futebol, no Pacaembu, contemplará a modalidade feminina.

Grande Área - No hall de entrada haverá objetos como o primeiro álbum de figurinhas da seleção (da Copa de 2011)

Anjos Barrocos - Fotos das jogadoras Marta e Formiga dividirão espaço com 25 jogadores homens

Sala Origens - Mostrará os primeiros times, como o Goytacás (de 1931), e terá capas da revista "Educação Physica"

Sala Copas - Totens interativos mostrarão as seleções femininas e os sete Mundiais

Números e Curiosidades - Além de um cartaz já existente, terá um pebolim com jogadoras

Sala Dança do Futebol - Terá objetos pessoais das jogadoras, entrevistas e cenas dos jogos femininos

Hall de Saída e Foyer - Além de bandeiras, um cartaz mostrará o time que disputará a Copa do Mundo de 2015

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