Bailarina Marilena Ansaldi, 80, ganha prêmio por espetáculo em cartaz

Entro na Studio3 Cia. de Dança e Marilena Ansaldi já está pronta para ensaiar, de collant e batom vermelhos. Somos apresentadas e ela pede que me entreguem seu currículo. "São décadas falando sobre a minha vida, sabe?". Em seguida, abre um sorriso.

Com 80 anos completos, a paulistana —que foi primeira bailarina do russo Balé Bolshoi, nos anos 1960— ainda preenche seu portfólio. A atuação em "Paixão e Fúria - Callas, o Mito" rendeu-lhe o Prêmio Governador do Estado para a Cultura. "Ela não está claudicante. A participação no espetáculo é totalmente ativa", ressalta o diretor e roteirista da obra, José Possi Neto.

A coroação joga luz a uma fase de penumbra —Ansaldi ficou sete anos longe dos palcos. Foi uma infecção pulmonar que a fez ressurgir. "A gente não se falava havia três anos e meu celular tocou. Era Marilena pedindo ajuda", conta Possi que, com Vera Lafer, fundadora da companhia, internou a artista no Sírio-Libanês.

O desfecho foi o convite para integrar o corpo do espetáculo que revisita a soprano grega Maria Callas. Uma feliz coincidência para a bailarina, filha do barítono Paulo Ansaldi. "Meu físico não está igual antes, é verdade. Mas é uma coisa visceral."

O corpo de 1,60 metro de altura é, talvez, o caminho mais curto para entendê-la. Ansaldi transborda sentimentos em gestos penetrantes. "Trabalhar com ela é perceber que o corpo tem limites, mas a alma não", elucida o coreógrafo Anselmo Zolla.

Em "Callas - O Mito", a veterana dança um solo da ópera "Tosca" —outra realização, já que um dos papéis de seu pai foi o vilão Scarpia, que compõe a récita. Pergunto se ela pensa, novamente, em parar. Qual seria o começo do fim? "Sempre que entro em cena é para ser a última vez. E se for, tudo bem. Eu estarei inteira."

Paixão e Fúria - Callas, o Mito. Teatro Sérgio Cardoso R. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, região central. Tel.: 3288-0136. Dom. (22): 18h. Ing.: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

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