Novo disco do Blur soa introspectivo, com um pé na música eletrônica

Em 2013, o grupo inglês Blur estava em meio a uma excursão asiática, quando o cancelamento de alguns shows o deixou com dias livres em Hong Kong. O vocalista Damon Albarn sugeriu aos companheiros ir para um estúdio e trabalhar em "algumas ideias" que teve.

O resultado é "The Magic Whip", oitavo disco de estúdio da banda e o primeiro em 12 anos.

Muitos fãs não acreditavam que o Blur gravaria junto de novo. Não era segredo para ninguém as brigas entre Albarn e o guitarrista Graham Coxon. Os dois foram colegas de escola e formaram o núcleo criativo da banda, mas, ao longo dos anos, se desentenderam e Coxon acabou sacado durante as gravações de "Think Tank" (2003).

Na ocasião, o guitarrista estava em meio a um tratamento para alcoolismo e dado a ataques de fúria. Também não gostou da direção musical que Albarn tentava impor ao grupo. Desde o fim dos anos 1990, o líder mostrava-se mais interessado em música africana e nos experimentos eletrônicos que fazia com sua banda virtual, o Gorillaz, do que no som de guitarras à Kinks pelo qual o Blur ficou conhecido na época de ouro do "britpop", movimento musical britânico que revelou também Oasis, Verve, Pulp, Suede, Supergrass e outros.

É uma surpresa, portanto, ouvir "The Magic Whip" e perceber que Coxon parece ter se rendido a Albarn. Porque lembra muito mais o Gorillaz e o recente disco solo de Albarn, "Everyday Robots", do que o velho Blur.

Quase não há sinal dos riffs de guitarra e dos refrões animados do Blur. O novo disco soa mais introspectivo, com um pé na eletrônica "lo-fi" e letras pessimistas e melancólicas sobre a sociedade de consumo, a frieza da modernidade e uma certa distopia. É muito bonito. Só não parece mais o Blur.

DISCO

THE MAGIC WHIP **
ARTISTA: Blur
DISTRIBUIDORA: Parlophone (CD, 2015, R$ 35,90)

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DISCO

EVERYDAY ROBOTS **
O disco solo de Albarn traz um pop eletrônico de clima "cool", vocais sussurrados e uma certa melancolia chique. Bom demais.
ARTISTA: Damon Albarn
GRAVADORA: Parlophone (2014, R$ 20)

BLUR 21 **
Caixa com 21 discos, entre CDs e DVDs, lançada para celebrar os 21 anos do álbum de estreia, "Leisure". Traz LPs oficiais, lados B, faixas ao vivo e shows. Só para obsessivos.
ARTISTA: Blur
DISTRIBUIDORA: Virgin Records (2012, US$ 191,18, importado)

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LIVRO

NUNCA É O BASTANTE - A HISTÓRIA DO THE CURE **
Jeff Apter (Edições Ideal, 2015, R$ 44,90)
Biografia da banda do enigmático Robert Smith, que, no fim dos anos 1970, conseguiu expressar, em um pop sombrio, a vida cinzenta do subúrbio inglês de onde veio. Caso raro de banda pós-punk que conseguiu fazer sucesso planetário.

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FILME

A PEDRA DA PACIÊNCIA **
Atiq Rahimi (Imovision, 2012, R$ 39,90)
Surpreendente produção franco-afegã sobre uma mulher que, em uma cidade do Afeganistão dilapidada por bombas e tiros, cuida do marido, um guerrilheiro que levou um tiro no pescoço e está há semanas em estado vegetativo. Comovente.

O JOGADOR ***
Robert Altman (Versátil Home Vídeo, DVD, 1992, R$ 39,90)
Relançamento de um dos melhores filmes de Altman (1925-2006), grande rebelde do cinema norte-americano. Tim Robbins interpreta um poderoso produtor que passa a ser ameaçado anonimamente. Altman usa uma história policial para esculhambar a indústria de Hollywood. Só o plano-sequência da abertura, homenagem ao longa "A Marca da Maldade", de Orson Welles, vale o filme.

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