Até os anos 1970, o Guarujá foi uma espécie de Riviera bandeirante: o destino preferido dos paulistanos ricos, que desejavam um retiro de veraneio não muito distante da locomotiva que puxava o trem do "milagre econômico", no regime militar; um balneário que mesclasse praias com diferentes níveis de proximidade da natureza, mas com muita sofisticação e serviços.
E o Guarujá era, sobretudo, um lugar inacessível aos representantes das classes laboriosas, que todo final de semana baixavam de ônibus na vizinha Santos (também chamados, com a acolhedora cordialidade das elites paulistas, de "farofeiros").
Mal comparando, o Guarujá estava para Santos como, no Chile, a abastada Viña Del Mar está para a portuária Valparaíso. Ou, para ser mais exato, a cidade queria ser um Rio de Janeiro sem favela.
Com a abertura da rodovia Piaçaguera, em meados daquela década, a chegada ao Guarujá deixou de ser feita por balsa e, ao som de "Nós Vamos Invadir sua Praia", do Ultraje a Rigor, as hordas passaram a frequentar também o burburinho da praia de Pitangueiras, com sua orla verticalizada por prédios retrôs, e os calçadões da Enseada, com mansões em torno do elegante Grand Hotel.
Foi a senha para que os veranistas tradicionais buscassem outras paragens. O destino eleito foi Ubatuba, cujo recortado litoral compreende pequenos oásis de tranquilidade e mata virgem, estendendo-se quase até Paraty (RJ). Suas praias de difícil acesso se tornaram então o novo
Eldorado dos descolados.
Outra vantagem de Ubatuba era sintonizar os velhos ricos -e seus rebentos modernos- com tempos de valorização da ecologia e da brasilidade. O vetusto e demasiado urbano Guarujá, com seus restaurantes internacionais, deu lugar a um circuito alternativo, com universitárias que poderiam estampar a capa da revista "Trip" e surfistas urbanos cevando a larica com um autêntico PF caiçara.
O resto, já sabemos. Hoje, descolado mesmo é enfrentar o inferno aeroviário brasileiro e pegar um 4x4 ou uma canoa para ir ao cafundó do judas e se bronzear em dunas em que os pobres não usam chinelo Rider.
Guarujá e Ubatuba perderam sua aura de sofisticação e autenticidade. Alguns ricos ainda estão lá, mas, vencidos pelo cansaço (descolados também envelhecem) e pelos emergentes, nem ligam para o fato de Silvio Santos ter transformado os bucólicos chalés do hotel Jequitimar, na praia de Pernambuco, num complexo do tipo Miami. Afinal, não muito longe dali está o edifício Sobre as Ondas, resquício modernista de um Guarujá bossa nova, fincado entre Astúrias e Pitangueiras.
Da mesma forma, Ubatuba conserva redutos como Almada e Bonete (esta, só acessível por trilha ou barco) -lugares esquecidos na fissura brasileira pelo paraíso exclusivo e excludente.
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ONDE FICAR
Hotel Vicino al Mare. (13) 3392-4414. www.hotelvicinoalmare.com.br. Guarujá: diárias a partir de R$ 340* em quarto duplo superior com varanda. Inclui café da manhã, serviço de praia e estacionamento.
Hotel Porto di Mare. (12) 3842-0112. www.hotelportodimare.net. Ubatuba: diárias a partir de R$ 360* em quarto superior, em frente ao mar. Inclui café da manhã e serviço de praia.
Hotel Villa di Capri. (12) 3842-2017. www.hotelvilladicapri.com.br Ubatuba: diárias a partir de R$ 326* em apto. duplo. Inclui café da manhã e estacionamento.
Casa Grande Hotel Resort & Spa (13) 3389-4000. www.casagrande.com.br. Guarujá: diária a partir de R$ 550 em quarto duplo, sem café da manhã incluso.
Alcide's Restaurante. (13) 3387-6323. www.alcides.com.br. Oferece cardápio à la carte, onde os frutos do mar predominam, mas existem também opções de carnes e aves. Abre diariamente das 12h às 23h.
*Preços pesquisados em agosto/2015, válidos por tempo indeterminado e sujeitos a alterações sem aviso prévio.