'Haddad não diz em público, mas é candidato', afirma presidente do PT em SP

Arrisque e pergunte ao petista Fernando Haddad se ele concorrerá à reeleição em 2016. O mais provável é que ele não responda ou diga que é cedo para tratar do assunto. Porém, o presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Paulo Fiorilo, diz que não há dúvida: o prefeito é nome certo na disputa do ano que vem.

Felipe Gabriel/Projetor/Folhapress
Paulo Fiorilo, vereador e presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, no prédio da Câmara
Paulo Fiorilo, vereador e presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, no prédio da Câmara

O que resta saber é quem estará ao lado dele na corrida. "Estamos aguardando a decisão do PMDB", afirma Fiorilo, no segundo mandato como vereador. Para ele, os peemedebistas estão cada vez mais distantes do PT.

Em entrevista à sãopaulo, ele afirmou que o apresentador e deputado Celso Russomanno (PRB) e a senadora Marta Suplicy (PMDB), com quem trabalhou na prefeitura em 2003, devem ser os concorrentes mais fortes de Haddad.

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sãopaulo — Qual o calendário para a escolha do candidato à prefeitura em 2016?
Paulo Fiorilo — Deve ter um encontro do PT no ano que vem, mas não está definida a data, que deve só homologar a candidatura do Haddad. Tínhamos agendado um calendário de debates neste semestre, mas resolvemos postergar e vamos começar a partir do ano que vem. Talvez ainda no fim deste ano.... Há a ideia de fazer as plenárias regionais para o prefeito participar, discutir, avaliar o que foram os anos de governo, preparar a militância.

Não há nenhum outro nome?
É natural o nome do Haddad.

O prefeito não fala isso.
Ele não vai fazer esse discurso agora, senão a pauta vai virar a eleição. Falta um ano... O conselho político do PT nacional referendou a importância da reeleição do Haddad. Isso está muito claro. As discussões estão sendo feitas. Ele já disse [internamente]. Não disse publicamente, mas é candidato.

Começaram as discussões sobre a parceria com o PMDB?
O PMDB está num momento de se afastar do PT. Quando foi feita a discussão do Haddad com o Temer [vice-presidente da República], a ideia de trazer o Gabriel Chalita [tornou-se secretário de Educação neste ano] era no sentido de construir uma relação mais duradoura, que pudesse culminar com a reeleição em uma aliança. Mas, a partir deste ano, o PMDB passa a traçar uma nova rota, que é o distanciamento do PT. É só olhar a assinatura da Marta de adesão ao PMDB.

É um caminho sem volta?
De [o PMDB] ter candidatura [própria]? Muito difícil. Até porque eles têm dois pré-candidatos. A primeira ideia é que estivessem coligados com a gente, com o Chalita de vice. Parece-me que essa ideia está superada. Agora, cabe ao PMDB escolher qual caminho seguirá.

Qual deve ser o impacto na eleição se a Marta Suplicy concorrer?
É difícil mensurar um ano antes. Ela foi prefeita, tem uma referência na cidade, mas não estará no PT, o único partido na cidade que tem uma capilaridade. Há diretórios que se reúnem, se articulam.

Quais candidatos podem ser os concorrentes mais fortes em 2016?
Hoje, você poderia dizer o Russomanno, a Marta, se for candidata, e depende de quem será do PSDB. Uma coisa é ser o Andrea Matarazzo, outra é ser o Serra [senador]. Temos de aguardar.

E se for o Matarazzo?
Tanto o Andrea como o [João] Dória estão numa situação inferior à do Haddad.

Os concorrentes apostam que a gestão Haddad tem muitos problemas.
Pode ter muitos problemas, mas tem muito o que falar. Se falar nos hospitais, na prioridade ao transporte coletivo, na questão das ciclofaixas e das ciclovias, das unidades de saúde que o governo já implementou e está implementando, na ideia de zerar as crianças de quatro a cinco anos fora da escola... É uma série de coisas que o Haddad mostrará. Mais: ele conseguiu uma vitória importantíssima que foi a renegociação da dívida, prepara São Paulo para outro patamar.

Hoje, de zero a dez, quais são as chances de o Haddad ser reeleito?
É difícil ainda ter uma avaliação a um ano da eleição. Se você esperar, mais para frente poderei arriscar. Mas é uma candidatura que tem condições de ser reeleita. Como a Marta pode ser prefeita? Pode. Como o Russomanno pode ganhar? Pode. Tudo pode. O prefeito tem chances? Tem. É bem articulado, conhece a cidade. Sabe o que fez e o que fará.

A capital é difícil de administrar. Por que tantos querem ser prefeito?
Ser prefeito de uma cidade como essa é ser prefeito da cidade mais importante do Brasil, do mundo.

Não é um cemitério de políticos, como o próprio Haddad já falou?
Acho relativo. A Marta virou senadora. A Luiza, deputada...

A Luiza Erundina [1989-1992] perdeu a eleição seguinte.
Tudo bem... São Paulo só reelegeu o Kassab no período da redemocratização. Mas não que seja cemitério. Ao contrário, deu a eles uma projeção que jamais teriam em outro cargo, exceto governador e presidente da República. Agora, São Paulo é um grande desafio. Eu diria que é uma esfinge, você precisa decifrá-la. O Haddad vai buscando decifrar. E é um prefeito diferente.

Ele não se assemelha à Marta?
A Marta tinha outro perfil. Fui chefe de gabinete dela. E tinha outra questão: ela não tinha experiência administrativa quando foi prefeita [2001-2004]. O Haddad já tinha passado por secretaria, ministério. Essa é uma diferença importante. Não significa que quem nunca foi não possa ser. A Marta nunca tinha sido, a Luiza nunca tinha sido. Foram prefeitas e reconhecidas.

Não se reelegeram.
São Paulo tem essa característica, até por sua complexidade. É difícil conseguir reeleição, esse é um desafio do Haddad. Tem de falar do que fez e do que fará. O Kassab conseguiu. A Marta, não.

Hoje, não há rejeição maior ao PT na capital paulista?
Diria que sim, em função de todos os movimentos que vivemos na cidade. Mas também há uma relação com as opções que o PT têm feito ao longo dos anos, que é de priorizar a periferia, de ter políticas públicas para os que precisam. Isso será importante para o diálogo. Óbvio que você tem razão: o PT está num momento difícil. Temos sido alvo nesses últimos 12 meses com mais intensidade, mas vem desde o mensalão, foi ganhando amplitude. Será, de fato, uma disputa difícil.

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