Tudo pode dar errado: os perrengues para ter um canto com a sua cara

Acredite, vai custar o dobro e demorar o triplo. Mesmo que você se cerque de cuidados e ache que escolheu os melhores profissionais. Uma dose de esnobismo mais outra de "seachismo" e a gente acaba se estrepando, porque em qualquer reforma tudo pode dar errado. E dá mesmo.

A gente se acha mais esperto, mais organizado e mais iluminado do que todo mundo. Eu achei. Ignorei os alertas dos conhecidos. A arquiteta era pontual, o mestre de obras abria uma planilha a cada encontro.
Alguma coisa pode dar errado com uma planilha? Havia solução para tudo. E a cada dúvida era tranquilizada com a frase: "Isso não tem erro".

Eu me sentia conversando com advogados explicando, em "juridiquês", que tudo estava sob controle. Não estava. Mas a gente só entende isso quando finalmente alguém lhe diz em bom português "deu ruim". Até que chegue esse dia você certamente já gastou muito tempo e todo o dinheiro que dispunha.

No começo, tudo pode, depois, não pode nada. Não pode derrubar essa parede, não pode colocar essa janela, não pode usar esse tipo de torneira, não pode instalar o ar aqui, não pode mudar o banheiro para acolá. No começo, tudo vai dar certo, depois, tudo dá errado. A coifa não cabe, o gesso ficou muito alto, a piso está desnivelado, o rejunte tinha que ser de outra cor, não tem tomada para a geladeira, o chuveiro está sem pressão, o cano está entupido. Agora que a pintura está pronta?

Arquitetos, engenheiros, vidraceiros, marmoristas, serralheiros são mestres em falar as coisas mais bonitas e trazer as surpresas mais desagradáveis. Em algum momento, eles já sabem que no final vai custar o dobro e que vai demorar o triplo, mas juram o tempo inteiro, até pela mãe, que no prazo e dentro do orçamento, você estará feliz na casa nova.

Demitimos todo mundo. Começamos de novo. Aprendemos com os erros, pagamos por todos eles. Desistimos de esperar e nos mudamos no meio da obra para fiscalizar tudo. Era um entra e sai o dia inteiro. Eu parecia uma criança de cinco anos: por que? Quando? Como? Quanto? De que jeito?

Acordava no meio da noite e tinha medo de tropeçar num balde de tinta no corredor. Preciso dizer que a cor não ficou como eu imaginava? Durante algumas semanas foi um pesadelo. Chorei quando os pedreiros foram embora -de alívio. Obras nunca mais! Mentira. A sensação ao olhar ao redor é de vitória. Morar num canto que tem a sua cara tem um custo (inclusive emocional) alto e demora bastante. Dá tudo errado, mas no final acaba dando tudo certo.

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