Debochada, Ellen Milgrau cresce na moda e conquista TV

Os manuais de etiqueta profissional não conseguiriam explicar o sucesso de Ellen Milgrau, 23. Nas redes sociais, a modelo frita ovo na própria barriga, faz "videodesabafos" da privada, xinga o ex e dança em lugares pouco óbvios –sobre uma caçamba de lixo, no supermercado, no banco.

As imagens poderiam dar calafrios em potenciais clientes. Mas não foram problema para Natura, Ateen, Capodarte ou Maria Filó, algumas das marcas para as quais Ellen trabalhou nos últimos meses. A desenvoltura ainda catapultou a modelo à TV: no segundo semestre, um novo programa da MTV terá Ellen Milgrau no elenco.

Sua carreira começou aos 16 anos, quando foi abordada por um agente na estação Tatuapé do metrô. Viveu em Paris e Milão, onde foi modelo de prova de Prada e Valentino, voltou a São Paulo há dois anos e pensou em desistir da moda. Hoje, Ellen Milgrau integra o time da Mega Partners, divisão de modelos "selecionadas" da Mega Models, maior agência do país.

Ela recebeu a sãopaulo em seu apartamento no centro. Pela sala, perucas, uma garrafa de vodca vazia e polaroides com amigos. Um cocô de plástico adorna a mesa de canto –Ellen também tem um tatuado no punho, com a inscrição "shit". A gata Favela circula pela casa.

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sãopaulo - Qual a importância das redes sociais na sua carreira?
Ellen Milgrau - A mídia social ferrou com as modelos. Ou você tem algum talento ou tá fodida. Menina linda tem um monte. Hoje, não dá pra ser modelo fora das redes –tem até agência controlando perfil de modelo.

Inclusive o seu?
O meu eu domino. Se minha agência falar comigo, vou responder: "Queridos, oi?". Mas tem gente que precisa de um "hello, se liga". Tem fotos que queimam filme.

Várias postagens suas poderiam ser consideradas "queima filme".
Mas eu tô zoando. Queima filme é foto numa mesa cheia de promoter. Se você é modelo, ganha dinheiro, por que tem um monte de velho pagando sua bebida?

Seu jeito nas redes nunca atrapalhou?
Perdi um trabalho porque zoei a roupa. Estava me sentindo horrorosa com o cabelo, a maquiagem, tudo. Não tem coisa pior para uma modelo: a beleza é o que você tem em jogo. Queria chorar, não sabia o que fazer. Desabafei no Snapchat [rede social de vídeos], viram e me mandaram embora. No final, fiquei aliviada.

Você acha que errou?
Não sabia do poder da minha palavra, parece que todo mundo me conhece. Às vezes, vou ao supermercado e o pessoal me chama, fico impactada. [Durante a entrevista, Ellen gravou um "snap": "Gente, estou com uma repórter muito pentelha! Ela quer saber uns segredos muito confidenciais, o que eu faço?".]

Onde você cresceu em SP?
Ixi, longe. No Jd. Bandeirantes, quase Cidade Tiradentes. Meus pais eram feirantes. Cresci numa barraca de cebola. Voltava da escola, dormia debaixo da barraca, brincava com os pintinhos.

Sua criação passou bastante pela rua? Isso te influenciou?
Muito. Sou mais realista, pé no chão. Não tem essa de conto de fadas, igual esse pessoal das redes sociais para quem tudo é uma maravilha. Não é assim, é mentira.

Que modelo você mais admira?
Não gosto de modelo. Tenho raras amigas modelos. Quase todos os meus amigos são gays. Meus ídolos estão na "montação". Sou fã de RuPaul [drag queen americana]. Admiro a mudança e quem faz as coisas sem se importar com os outros. Se eu tivesse ligado para as críticas que recebi, não tinha saído dos cafundós da ZL.

Qual é o seu rolê preferido em SP?
O rolê alternativo, underground, de rua, de graça. De música pop também, porque sou meio gay. Adoro me montar, tenho um monte de peruca. Gosto de festas que trazem vida para a cidade e onde todo mundo se mistura. Odeio festa de carão. Não gosto da linha: "Nossa, a Ellen bebeu até cair!". E daí? A vida é minha, faço o que eu quiser.

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