Copan faz 50 anos com novas atrações, clássicos e busca por bicicletário

Coberto por uma imensa tela azul, o Copan chega aos 50 anos passando por uma enorme plástica em sua fachada e com novidades que reforçam a sua vocação turística.

Ao mesmo tempo, os seus quase 5.000 moradores se envolvem em situações corriqueiras da cidade, como discussões em grupos na internet e a busca por mais espaço para bicicletas.

Quem entra nos corredores do térreo vê lojas vazias, mas também espaços recentes dividindo a área com negócios tradicionais. O aroma do expresso recém-tirado vindo do tradicional café Floresta, há 40 anos no mesmo local, concorre com o cheiro de vegetais de lojas de alimentos orgânicos e de tacos do mexicano La Central, aberto em 2014.

O síndico

Com saídas diretas para a rua que separa o Copan do edifício vizinho, do Bradesco, dois lugares simbolizam a nova fase do prédio: o Bar da Dona Onça, mix de bar tradicional e pratos bem servidos, e o Pivô, espaço cultural que expõe trabalhos e reúne ateliês de artistas.

As duas atrações reforçam a vocação alardeada durante o lançamento do conjunto, em 1951: o de complexo turístico. Seu projeto foi pensado para ser o "Rockefeller Center Paulistano", um enorme espaço com 500 quartos de hotel, residências, escritórios, cinema, teatro e lojas.

Na década de 1950, o mercado imobiliário paulistano assistiu a um boom na construção de prédios com plantas de menor porte, voltados
para a classe média e com prestações a perder de vista.

Atuante neste mercado desde 1945, o BNI (Banco Nacional Imobiliário) convidou o badalado arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) para projetar edifícios em São Paulo.

Fernanda

O convite foi feito por Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), um dos sócios do BNI. Em 1962, Frias compraria a Empresa Folha da Manhã, núcleo do Grupo Folha, do qual foi publisher.

"Copan" é uma abreviação de Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, o nome da sociedade feita entre o BNI e a International Hotels Corporation, dos EUA, para construir o conjunto.

Em 1952, os apartamentos residenciais foram colocados à venda e o hotel ficou para depois. Niemeyer fez o desenho em forma de S para seguir o contorno do terreno. "A rua era curva, e ele [o prédio] seguiu essa curva. Nada mais natural", contou o arquiteto à Folha em 2006.

Embora tenha fachada única, o Copan é composto de blocos separados, nomeados com letras de A a F, com unidades de tamanhos variados.

O projeto final foi desenhado pela equipe de Niemeyer em São Paulo ao longo de 72 horas de trabalho contínuo, durante uma das visitas do arquiteto à capital paulista.

Ele evitava andar de avião e a viagem de carro entre Rio e São Paulo era demorada e feita por estrada de terra. "Com isso, suas vindas a São Paulo eram evitadas tanto quando fosse possível", conta Carlos Lemos, ex-chefe do escritório paulista de Niemeyer, em seu livro "A História do Edifício Copan".

Janaína

Na falta de pranchetas, portas lisas foram transformadas em mesas. "Conforme os desenhos a lápis ficavam prontos, um desenhista os reproduzia a nanquim em uma planta de quase dois metros de comprimento", escreve Lemos.

As obras começaram em 1953, mas pararam no ano seguinte porque o BNI enfrentou problemas financeiros. Os trabalhos foram retomados em 1956, ano em que Niemeyer se afastou do projeto para se dedicar à construção de Brasília.

Foi preciso alterar parte das fundações, pois elas não se acomodaram bem no terreno. A solução encontrada à época estabilizou o problema.

Em 2014, no entanto, foi detectado que o Copan afundou 33 cm desde sua construção. Esse fenômeno, chamado de recalque, é comum em prédios.

Ana

Em 1957, o Bradesco comprou a massa falida do BNI e decidiu construir escritórios no local onde seria o hotel. A empresa americana já havia desistido do negócio.

Em 25 de maio de 1966, o prédio recebeu seu primeiro Habite-se e os novos moradores começaram a ocupar os apartamentos. "No começo, a maioria era de estudantes ou pessoas desquitadas", conta o atual síndico, Affonso Oliveira. "Naquela época, você ia até a São João e encontrava o Roberto Carlos, o Jô Soares. Havia cinemas e restaurantes ótimos."

Os últimos apartamentos foram entregues no começo da década de 1970, quando o centro começava a ser preterido pela região da avenida Paulista. Com a queda de movimento de pessoas, veio a decadência.

"Muitos compraram quitinetes no bloco B para renda -e seus inquilinos nunca sofreram triagem conveniente para evitar que aquele bloco se tornasse terra de ninguém, com profusão de prostitutas, travestis, traficantes e drogados", analisa o arquiteto Lemos. "A má fama do bloco B estendeu-se ao edifício todo."

Edyr

"Meu pai e meus tios eram de Penápolis [a 479 km da capital] e compraram um apartamento pensando nos filhos que viriam estudar ou trabalhar em São Paulo", conta Edyr Sabino, 60, que conheceu o Copan quando ele ainda estava em obras. "Tinha seis anos e me apavorei com o tanto de carros na rua", recorda.

Edyr já morou em vários apartamentos do Copan e hoje é dono do maior deles, de 440 m², criado a partir da junção de duas unidades. "Dá pra andar de bicicleta aqui."

A imagem do prédio mudou a partir dos anos 1990, quando se fortaleceu o movimento de revalorização do centro, que atraiu novos moradores e negócios.

Também foi nessa década que Affonso Oliveira assumiu o cargo de síndico, investindo em melhorias na estrutura, como troca da rede hidráulica, e trazendo rigidez para as regras do condomínio.

A reforma mais visível comandada por Oliveira é a troca de todas as pastilhas da fachada. As peças estavam caindo e havia risco de despencarem sobre os transeuntes, daí a instalação da tela azul. A estimativa é que o restauro termine em 2019.

Na última década, o Copan integrou a onda de revitalização da região e passou a ser procurado por quem busca morar perto do trabalho, de serviços e de atrações de lazer.

Renata

A advogada Renata Fernandes, 36, levou cinco anos até encontrar o apartamento ideal, em 2012. "Quando vim morar no Copan, vendi o carro. Tudo o que preciso tem por perto."

"O Copan é um bom exemplo de prédio de uso misto, algo estimulado no Plano Diretor atual", diz Valter Caldana, professor de arquitetura e urbanismo do Mackenzie.

Figuras que estão há muito tempo no prédio, como a corretora Alayde Leite e os sócios José e Adelino, do Café Floresta, são cumprimentados o tempo todo nas áreas comuns. No entanto, os moradores mais novos têm poucas relações com os vizinhos.

"As reuniões de condomínio são um fracasso. Na última, só 30% dos condôminos estavam representados", conta o síndico Oliveira.

Duas questões que movimentam as conversas são a falta de conexões mais potentes de internet e de um bicicletário. "O estacionamento é gerido por uma empresa e precisaria criar uma espécie de ciclovia lá, o que não dá pra fazer", diz o síndico.

Sobre a internet, Oliveira diz que as empresas de telefonia é que precisam custear o cabeamento interno. A dificuldade para conseguir o acesso lembra uma situação comum nos anos 1980, quando o desafio era conseguir uma linha telefônica. "As pessoas se encontravam ao redor do orelhão, na calçada", lembra Edyr Sabino. Hoje, uma alternativa é pedir a senha do wi-fi ao bebericar uma cerveja no Bar da Dona Onça.

Alayde

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