As Bahias e a Cozinha Mineira mesclam Tropicália e Clube da Esquina

"No que se propõe a fazer, que é arte, a gente se garante", diz Raquel Virgínia à sãopaulo, em bate-papo que reuniu também Assucena Assucena e o guitarrista Rafael Acerbi, da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, que toca na sexta (24), no Sesc Belenzinho.

Os três se conheceram na faculdade de História da USP, em 2011, e, no final de 2015, lançaram o primeiro disco, "Mulher".

As influências estão no nome: "As Bahias", da Tropicália, e a "Cozinha Mineira", do Clube da Esquina. Nas músicas há ainda ares de bossa nova, rock e xote. "Nossa sonoridade é um processo que será entendido melhor a longo prazo", diz Assucena.

Enquanto lapidam o som, elas buscam também manter o equilíbrio "numa indústria cheia de racismo e transfobia", diz Raquel. "É difícil uma marca, por exemplo, se vincular a um estigma que é considerado a degradação moral do ser", completa Assucena.

Transexuais, ela e Raquel Virgínia, as vocalistas, cantam letras que refletem a liberdade do corpo e os direitos das mulheres, mas não se dizem representantes do movimento LGBT. "Temos representatividade, mas não falamos pelo todo", diz Raquel.

Sesc Belenzinho. R. Pe. Adelino, 1.000, Quarta Parada, região leste, tel. 2076-9700. Sex. (24): 21h30. 90 min. 18 anos. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 25. Estac. (R$ 4,50 e R$ 10 a 1ª h; shows e espetáculos: R$ 6 e R$ 11).

Julieta Benoit/Divulgação
A banda As Bahias e a Cozinha Mineira, que lançou o disco "Mulher"
A banda As Bahias e a Cozinha Mineira, que lançou o disco "Mulher"

*

Confira entrevista com músicos do grupo.

Quais as referências da banda no cenário musical?
Rafael: Acho que dentro de tudo que a gente buscou pra produção do disco, dois grandes movimentos que nos influenciaram muito, a Tropicália e o Clube da Esquina, personificados na figura da Gal e do Milton, figuras que nos marcaram muito no processo de fazer a música.

Como foi o lançamento de "Mulher"?
Foi totalmente independente, na raça. Até houve uma discussão sobre fazer o financiamento coletivo, mas foi uma decisão que tomamos em conjunto. Não existia a possibilidade de fazer esse financiamento porque a banda não tinha força, a gente teria que fazer uma forte campanha na internet, o que não era interessante como estratégia. Cada vez mais o artista, para ter domínio da sua obra, seja a pequeno, médio e a longo prazo, ele não só precisa ser o dono da obra como precisa ter uma noção da estrutura que está a sua volta. Tem que saber da estrutura se não você terceriza a sua obra, e ai é uma parte dela que vai embora.

Como vocês enxergam o artista independente?
Raquel: Para ter a carreira artística que eu quero ter, eu sei que preciso da minha independência. Porque vão ter discos que eu vou querer confrontar e eu só vou conseguir se tiver estrutura. Eu quero poder oscilar, não quero que falem que eu sou uma cantora de certo tipo e que eu não possa sair disso. Pra isso, é preciso estabelecer essa liberdade, e isso não é algo que só eu estou falando. Quem fala isso é a Beyoncé, nada mais, nada mesmo.

O que é ser artista independente? Acho que é justamente você conseguir estabelecer um vínculo de liberdade com a sua obra. Agora, se pra isso você precisar estabelecer certas alianças com estruturas empresariais, infelizmente vivemos no capitalismo, e mesmo sendo artistas de esquerda, vamos ter que viver com essa contradição para conseguir sobreviver.

Como foi o processo de gravação?
Raquel: Todas as decisões, sejam elas acertadas ou erradas, elas partem das nossas três cabeças. Tudo parte da nossa orientação, e esse é um princípio que cada vez mais queremos que fique forte, porque isso vai fazer com que a gente tenha uma carreira sólida.

Rafael: Nós passamos três meses gravando. Pensamos na obra, construímos a estrutura da banda e da equipe.

Raquel: Começar uma carreira é difícil, manter ela também. Tem muita banda por ai que grava disco e não consegue circular com ele, e essa é uma etapa que a gente esta conseguindo superar. O show é a parte mais gostosa e é a ponta do iceberg, tem um mundo de coisas acontecendo por baixo. Você precisa estar totalmente antenada, porque se não, as coisas se perdem.

Publicidade
Publicidade