Em outubro de 2015, moradores de Higienópolis passaram a conviver com um novo vizinho, Valfrido. Tudo o que sabiam sobre ele chegava por debaixo da porta.
O primeiro flyer tinha seis vezes, em sete frases, a palavra canalha. Os impropérios continuavam nos impressos seguintes, enviados semanalmente. A ex-mulher o acusava por "pancadarias"; o ex-sócio, de ter levado um calote; Elvira, do bairro, de ter sido iludida pelos três.
A presença desse desconhecido, durante três meses, espalhou-se também pelas ruas, por meio de homens-placa e lambe-lambes. Enquanto isso, pipocavam hipóteses sobre o mistério. Candidato fazendo campanha, brincadeira de mau gosto, publicidade para peça de teatro. Uma vizinha, no entanto, não titubeou —ela foi a única. Foi direto na banca Tatuí e perguntou a João Varella, um dos sócios, e também um dos donos da editora Lote 42: "Cadê esse livro?".
"Valfrido?" (R$ 49,90), de Gustavo Piqueira, será lançado no próximo sábado (20). A obra, no entanto, não será sobre o personagem, e sim sobre o seu processo de construção, todos os percalços do caminho e reflexões acerca do que é, afinal, um livro.
"O projeto foi um mergulho no escuro", diz Piqueira. E surgiu da necessidade de questionar "gavetinhas de todos os tipos e brincar com o que esperamos das coisas". "Hoje, tudo o que recebemos tem que ser útil para alguma coisa", opina. "Só de causar estranhamento nas pessoas, valeu".
Banca Tatuí. R. Br. de Tatuí, 275, Vila Buarque, região central, tel. 2729-8952. Sáb.: a partir das 16h20. Livre. GRÁTIS