Guarda-roupa compartilhado oferece acesso a peças por assinatura em SP

O local é discreto, e a entrada é pela padaria Pão, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, onde a cliente novata pode tomar um café enquanto reflete sobre seus hábitos de consumo, antes de subir a escada em direção à Blimo, Biblioteca de Moda. O espaço criado pela jornalista Mariane Salerno funciona há pouco mais de um mês e tem cara e cheiro de loja, embora nada esteja à venda. O desejo de possuir uma peça em definitivo deve ser deixado no andar de baixo. O ambiente é repleto de roupas finas, mas todas disponíveis apenas para uso compartilhado.

Há dois anos, Salerno é repórter num programa de TV que apresenta modelos de negócio sustentáveis, muitos deles criados por start-ups. "Desde que entrei nesse projeto, fiquei com vontade de empreender, e a opção pela moda foi feita porque mulheres costumam usar muitas roupas e gastar muito dinheiro com isso", diz Mariana.

Para montar o acervo, ela recebeu o apoio de marcas como Cantão, Carmim, Farm e Missinclof, e adquiriu peças de showroom, desfiles e excedente de coleções para minimizar o investimento inicial. Há também exemplares de grifes como Gucci e Versace, obtidos com amigas que decidiram ajudá-la.

O negócio funciona em modelo de assinatura: o acesso ao guarda-roupa é praticamente ilimitado, ao custo de R$ 130 mensais. As exceções são bolsas, sapatos e acessórios, cujo aluguel é cobrado à parte.

O uso compartilhado de roupas, uma espécie de brechó 2.0 que surgiu no exterior há alguns anos, já é conhecido por parte dos paulistanos. Há mais de um ano, a Roupateca, em Pinheiros, presta o mesmo tipo de serviço por assinatura. Tocado pela consultora de estilo Daniela Ribeiro, o local oferece peças de Adriana Barra, Cris Barros, Flavia Aranha, Insecta e Gilda Midani, entre outras. A diferença, no caso dela, é que sapatos e acessórios estão inclusos no pacote.

Outra que funciona na cidade desde janeiro do ano passado é a My Open Closet. Seu sistema difere do das outras, pois não há assinatura e nem estoque próprio. Qualquer pessoa pode colocar uma roupa que esteja parada no armário para andar por aí e faturar algum, desde que preencha os critérios das sócias Lorena de Oliveira e Laura Andrade, que fazem a curadoria e a intermediação das transações por meio do site.

A dupla mantém um espaço em Higienópolis, na região central, para armazenagem, provas e acertos. O custo do empréstimo varia de R$ 180 a R$ 1.200, e entre as marcas presentes estão a brasileira Patrícia Bonaldi e as clássicas Valentino, Pucci e Dior.

Além de pregar o consumo consciente, o discurso das marcas faz alusão ao sucesso do Airbnb e do serviço de streaming Netflix para seduzir as clientes.

Algumas se dizem inspiradas no Rentez vous, site que conecta interessadas e promove a locação de roupas em Londres e Paris, e na holandesa Lena, The Fashion Library, que além do serviço de compartilhamento propaga estudos sobre desperdício de vestuário no mundo —um deles afirma que mulheres usam em média apenas 30 % das peças que compram.

A propósito, os homens não estão livres dessa. No ano passado, o portal britânico Thread.com, que funciona como assessoria de estilo virtual, publicou uma pesquisa dizendo que na Inglaterra os homens usam apenas 13 % do guarda-roupa. O resto vira parque de diversão de ácaros.

Blimo. R. Mourato Coelho, 1.039, Pinheiros. www.blimonline.com.br

Roupateca. www.aroupateca.com.

My Open Closet. www.myopencloset.com.br.

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