Mesmo sem ser o centro das atenções, cozinha do Palacete Teresa é gostosa, leve e fresca

Roberto Seba/Divulgação
Creme de tapioca com doce de leite, da Casa de Francisca
Creme de tapioca com doce de leite, da Casa de Francisca

Existe uma magia inenarrável na nova Casa de Francisca, o Palatece Teresa. Caminha-se numa rua na qual só transitam pedestres, no triângulo histórico do centro de São Paulo, para alcançar o prédio de 1910. Eis ali uma fachada ornamentada que merece ser observada lentamente, pisos de ladrilho hidráulico, azulejos de antigamente bem preservados, que poesia.

O mesmo encantamento que ronda o ambiente tenta abraçar a cozinha. Nota-se cuidado nos detalhes, as louças, as flores frescas, as folhas e ervas viçosas, verdejantes, usadas delicadamente para finalizar os pratos. Mas a cozinha não é o eixo condutor da casa e, talvez por isso, não brilhe efusivamente —é correta. O Palacete Teresa é, essencialmente, uma casa de shows, com uma curadoria especialíssima.

Ainda assim, propôs-se a servir uma comida afetiva, que traz aconchego, e deu um salto enorme na qualidade se comparada à cozinha da antiga casa. O espírito do serviço também é outro. É preciso pedir e pagar no caixa e buscar o prato na cozinha, em bandejas rústicas de madeira.

Katia Lyra (ex-Lola Bistrot) tem uma ligação explícita com uma comida saudável, fresca, finalizada com capricho. Do cardápio enxuto, de operação funcional, surgem, pois, o ceviche de tilápia com batata-doce e milho tostados (R$ 26). Fica a impressão de que descansa tempo alongado na marinada -o peixe perde um tanto da textura. Falta mais graça ao tempero, suave, brando —mais acidez e picância o fariam vibrar.

O curry de abóbora com cogumelos salteados, arroz sete grãos e castanha-de-caju (R$ 31,40) é um acerto: exala perfume, tem sabor delicado, do qual salta certa doçura, e combina maciez e crocância. Ervas frescas vão por cima e lhe dão cor e sabor.

Costelinha confitada em sua própria gordura, cujo caldo é usado para o cozimento do arroz, aparece combinada com feijão-de-corda (bem firme) e queijo de coalho (pedaçudo demais), dando forma ao baião (R$ 31,40). Nesse prato, os quiabos são mais crocantes do que a farofa, murcha.

E ali está o coentro, onipresente, a dar graça às receitas —mas usado separadamente para que seja escanteado por aqueles que não o toleram.

Vai bem no almoço o saladão de grão-de-bico com cuscuz marroquino e legumes com lascas de cordeiro (de sabor intenso, rosado e macio, uma beleza) e coalhada seca (R$ 41,30). Tem canela marcante e um frescor mentolado do hortelã.

Para um final feliz, creme de tapioca com doce de leite e farofa de amendoim (R$ 12,50).

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Casa de Francisca - Palacete Teresa
Onde: r. Quintino Bocaiuva, 22, Sé, tel. 3052-0547.
Quando: qua. a sex., das 11h30 às 15h e das 19h30 à 1h (jantar só com ingresso para o show).
Avaliação: bom

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