Artista expõe no Museu de Arte Sacra peças que registram e materializam o silêncio

"É um lugar de respiro." Implantado numa das grandes chácaras urbanas da América Latina, o ambiente calmo e contemplativo do maior repositório de imagens religiosas da cidade, o MAS (Museu de Arte Sacra), inspirou uma nova coleção de 30 esculturas de Elisa Stecca. "Silencio". Verbo conjugado na primeira pessoa do singular.

Com formação em artes plásticas e participação em várias mostras coletivas com trabalhos de arte, a última delas no Instituto Tomie Ohtake, no ano passado, ela dedica-se mais intensamente ao design de joias desde 1990.

Agora, em duas salas coladas ao pátio interno do prédio do museu, Elisa faz sua individual mostrando peças que registram e materializam o silêncio.

Nelas, a intervenção da artista é mínima e os materiais são protagonistas. Metais, vidros, espelhos e pedras são explorados em sua expressão plástica com justaposições, colagens, encaixes, trações, equilíbrio, transparências, reflexos, nas peças que variam dos seis centímetros aos dois metros. Convivem com o ambiente rebuscado do acervo de arte sacra funcionando como pausa no figurativismo.

"Considero o silêncio um dos maiores luxos que podemos ter. Como artista, tentei traduzir esse propósito de silenciar em formas e materiais também silenciosos", diz Elisa.

"O tema foi sugerido pelo museu que, para mim, é uma cápsula suspensa no tempo-espaço, onde o silêncio é quase palpável. Fui tomada por um desejo de apresentar esse espaço para que outras pessoas pudessem ter a mesma percepção que eu", acrescenta.

O MAS está instalado no Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz. Sua ala mais antiga foi construída sob orientação de São Frei Galvão, o Frei Antônio de Santana Galvão, para ser o lugar de recolhimento das irmãs concepcionistas e mantém esse uso até hoje. Seu acervo se formou com imagens sacras de igrejas e capelas de fazendas. Sua principal função é recolher e expor esses testemunhos materiais em atividades didáticas e educativas.

Elisa visita sempre o museu e tem predileção por sua coleção de presépios, que tem exposição permanente. Apesar de não se considerar religiosa, ela pratica meditação diariamente e frequenta a Seicho no Ie. "Não gosto de religião porque prefiro estar já ligada em Deus, que, para mim, se manifesta no amor, na harmonia, na alegria, na beleza. Tudo isso está presente no meu trabalho, sempre."

Embora o acervo do museu seja religioso e temático, diz a artista, existe nele um espaço para uma reflexão individual, oportunidade de acesso "a alguma esfera de espiritualidade sutil."

"Proponho que a observação ou a contemplação seja em si um ato de silenciar internamente, um instante de relacionamento com a peça e com esses materiais bastante potentes", diz ela. "Para quem se permitir, pode ser um encontro interno com dimensões do sagrado."

A mostra se divide em duas salas: a de exposição e a de experimentação, onde há esculturas táteis e um vídeo em que são mostradas gotas de mercúrio em movimento, "de forma hipnótica".

A artista estará no museu em dias específicos na ação "Silêncio compartilhado", que chama de "antiperformance".

Na loja do museu haverá uma linha de "Joias do Silêncio, com peças a partir de
R$ 200. As da mostra são vendidas pelo ateliê da artista, com preços sob consulta.

*

"Silencio"
Onde: Museu de Arte Sacra de São Paulo. Av. Tiradentes, 676, Luz, tel. 3326-5393.
Quando: De ter. a dom., das 9h às 17h. Até 4/6. Ingr.: R$ 6,00 (estudantes pagam meia); grátis aos sábados.

Publicidade
Publicidade