Restaurador usa mais de 9 mil peças em cristal no lustre do Farol Santander, no centro

Rafael Hupsel/Folhapress
Roberto Neumann e o lustre reformado
Roberto Neumann e o lustre reformado

Quem entra no edifício Altino Arantes, o antigo Banespão e atual Farol Santander, reaberto em janeiro no centro da cidade, arregala os olhos de pronto. Impossível ignorar o brilho da peça de 11 metros de comprimento cuja base está pendurada a três metros dos pés de quem cruza o hall.

O lustre, tido como um dos maiores do Brasil por quem trabalha no ramo, é velho conhecido de um especialista em restauração desse tipo de objeto. Há três gerações, a família de Roberto Neumann, 35, atende a quem precisa arrumar ou limpar lustres de qualquer tipo: caseiros, sofisticados ou monumentais como esse, que conta com 9.987 peças em cristal, 240 lâmpadas, 13 aros de ferro e 1,5 tonelada.

Há 18 anos, quando ainda trabalhava como assistente com os tios-avós na primeira loja de lustres da rua da Consolação, a Bobadilha, fundada em 1953, ele teve seu primeiro contato com a luminária para uma limpeza simples. Mal sabia que, anos depois, eles voltariam a se encontrar, agora para uma tarefa muito mais delicada: restauração completa para a reinauguração de um dos prédios mais famosos da cidade.

"O maior desafio foi trabalhar a uma altura de 14 metros do solo sobre uma plataforma elevatória que pesava 4 toneladas", diz Roberto. "Fiquei tão preocupado com o lustre quanto com o piso do edifício."

Durante 60 dias, Roberto e uma equipe de cinco pessoas tiveram que desmontar o lustre para fazer reparos e lavar cada um de seus cristais. Para isso, foram montadas duas caixas de água que consumiam mil litros por dia, uma com sabão para cristal e outra com água para enxágue.

O prédio não tinha nenhum material de mapeamento de montagem da peça, mas, destino ou não, ele havia guardado rascunhos usados na manutenção básica feita quase 20 anos antes.

"Trabalhar naquele lustre sempre foi um sonho. Uma tarefa que exigiu muita precisão. Cada cristal que quebrava levava fileiras e fileiras de outros cristais que estavam abaixo dele para o chão", diz. "Por isso, a área precisou ser isolada, e tivemos que atualizar todos os nossos certificados de segurança", afirma.

Durante o processo, eles tiveram três quedas que danificaram em média 200 peças em cada uma das vezes. No total, foram quase 3.000 itens repostos e cuidadosamente reposicionados na parte inferior do lustre, onde estão os cristais mais claros. Um visitante mais atento consegue notar os cristais mais antigos levemente esverdeados na parte superior da peça, formando um degradê de marcas do tempo.

O objeto foi projetado para cada lâmpada consumir 50 watts. Na primeira restauração, foram instaladas fluorescentes de 12 watts e, agora, elas consomem três watts com luz de filamento de LED amarelada. "Muito mais bonita e econômica. Luz branca não dá brilho no cristal e deixa o ambiente menos aconchegante", explica.

Quando o trabalho terminou, o lustre ficou ligado direto por uma semana para que fosse possível detectar se alguma das lâmpadas estava queimada. "Trocar uma, ali, exige retirar fileiras e fileiras de cristais a mais de dez metros de altura. Dá um trabalhinho", diverte-se.

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Farol Santander
Onde: r. Rua João Brícola, 24, Centro (estação São Bento)
Quando: 9h às 20h (terça a sábado) e 9h às 18h (domingo).
Grátis

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