Em meio a um burburinho de botecos em Pinheiros, apinhados de gente que trabalha na região, sobe-se uma escada para alcançar o novo Kith. Eis ali um salão de ar industrial e urbano, com curiosa vista para fiações citadinas. O clima, pois, contrapõe o ritmo paulistano frenético, como se ali houvesse certa blindagem.
Bem, ao sentar-se, chegam à mesa focaccias macias e quentinhas, para mergulhar no azeite, uma gostosura, uma delicadeza. Pagam-se R$ 55 por entrada, prato e sobremesa (e os pãezinhos), comem-se boas porções.
Tadeu Brunelli/Divulgação | ||
Arroz de alho-poró com camarões |
O cardápio traz novas opções a cada semana, mas respeita um eixo comum: são receitas de território conhecido, afetivas e aconchegantes, feitas com esmero e capricho.
Sempre há um arroz mexidão, rico, como o de costela, substancioso, úmido, embalado em um caldo potente, servido com brócolis íntegros, bons de morder, tostados na brasa. O arroz de frango recebe a companhia de espetinho de quiabo e coração e uma simples e singular pele de frango pururucada, crocante.
A chef Juliana Faingluz, 36, valoriza outros traços em sua cozinha, como o uso frequente da brasa (uma adocicada beterraba, uma couve-flor firme) e a presença dos xixos –como os espetinhos são chamados em Porto Alegre, a capital do seu estado.
Carne intercalada com tomate e cebola integra o "PF", com arroz, feijão-preto, farofa, couve e ovo pochê. Há que tomar cuidado com o tempo de cocção, porém -ganharia se mais macio e sumarento.
Para encerrar, a própria chef refere-se às receitas como "sobremesa-abraço". De fato. O doce de leite feito na casa, com açúcar mascavo, por exemplo, enriquece opções como um pudim de tapioca com lascas de coco queimado e o copinho de banana, farofa e merengue.
É curioso notar que a gaúcha formou sua base na alta gastronomia, com passagens por casas como D.O.M. e Maní (e restaurantes estrelados na Europa), e se voltou, em morada própria, para uma cozinha trivial, bem tratada, capaz de acolher –e de alegrar.
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