Vitrinistas de São Paulo contam como seduzem os clientes em frente às lojas

Conheça três profissionais responsáveis por montar vitrines de lojas de São Paulo que são referências para o varejo nacional.

JULLYEMY MACHADO

Pode até parecer um amontoado de roupas vestidas por manequins, mas as vitrines viraram nesta década um dos investimentos mais importantes das marcas para atrair o olhar do consumidor. É no comércio convulsivo de São Paulo, na região do Bom Retiro, que a rondonense Jullyemy Machado, 33, lança tendências para o varejo brasileiro.

Especializada em VM, ou "visual merchandising", um termo que engloba toda a concepção visual de um ponto de venda, da porta ao provador, ela construiu seu nome entre as ruas Aimorés e Professor Cesare Lombroso, onde a cada três meses muda a vitrine de 27 lojas que espalham roupas pelo país.

"São Paulo está para o Brasil assim como Nova York está para o mundo. Os compradores do Bom Retiro se espelham no visual que apresentamos para reproduzir em outras cidades", explica a empresária. Por isso, boa parte do seu trabalho é antecipar as tendências que logo serão absorvidas pelo mercado.

Entre as novidades mais quentes, ela conta, está o uso de materiais naturais, como pedras, madeira e cordas, o monocromatismo, com destaque para as cores azul e amarelo, e a tecnologia aplicada a vitrines holográficas.

Uma única vitrine da região, ela diz, pode custar até R$ 8.000 para ser produzida. Marcas médias, com dezenas de pontos, mitigam custos para gastar cerca de R$ 1.500.

"A diferença de trabalhar para o comércio de atacado é que há um investimento maior. Uma rede precisa otimizar custos para vários pontos. No Bom Retiro, esse trabalho é como de ateliê, exclusivo e dispendioso."

Manacá. R. Professor Cesare Lombroso, 147, Bom Retiro, tel. 3225-026

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CAMILA SALEK
Como a entrada no ambiente online influenciou o físico na mente dos consumidores de moda? Camila Salek, 40, sócia-fundadora da Vimer Experience Merchandising, trouxe a reposta para o varejo nacional e foi uma das primeiras do país a pensar no conceito de "vitrine instagramável".

Para ela, boas vitrines "vendem histórias" e é importante que elas sempre tenham uma narrativa criada para ser o ponto de partida para a conexão da marca com o consumidor.

Nos parcos 12 anos em que trabalha por conta própria, ela abocanhou projetos grandiosos, como a "flagship" da Havaianas, 300 lojas da varejista holandesa C&A e, um dos mais recentes, a vitrine coloridíssima da Calvin Klein na última Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em junho.

Uma de suas especialidades é criar projetos interativos, nos quais o cliente literalmente participa da imagem vendida pela loja para, assim, postar suas fotos nas redes sociais. Foi assim com a Hering, por exemplo, que contratou Salek para conceber o espaço da Hering Experience no shopping Morumbi, onde o consumidor é "parte da experiência de loja".

"Visual não é só vitrine bonita. Digo e repito isso diversas vezes. Quando falamos de moda, desde o momento de previsão de compras já precisamos pensar em como os produtos serão expostos e ativados no ponto de venda", explica a empresária.

Segundo ela, não há diferença entre uma vitrine em um shopping direcionado à classe média ou a um cliente de luxo, porque todos estão "em busca de experiências, mas ofertas diferentes". "As marcas hoje
precisam estar preparadas para cada um desses momentos de consumo".

Hering Experience. Shop. Morumbi - Av. Roque Petroni Júnior, 1.089, Santo Amaro, tel. 5189-4800

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DÉBORA CHOROVSKY
Quando começou a criar vitrines nos anos 1990, pouco depois de completar quatro anos no núcleo de cenografia da TV Globo, a arquiteta Débora Chorovsky, 52, vislumbrou que conceber a estratégia visual de um espaço poderia ser mais do que "apenas imprimir um banner para colocar atrás dos manequins", praxe do mercado da época.

Cofundadora da Nova Fotosfera, em Osasco, na Grande São Paulo, sua empresa hoje executa boa parte das ideias importadas das sedes de grandes marcas do luxo e, em alguns casos, como para a Louis Vuitton, adapta esses projetos para a metragem dos pontos nos shoppings.

O diferencial de seu trabalho e um dos motivos que atraiu clientes do porte da Christian Dior, Fendi, Burberry, Gucci e Valentino, para as quais desenvolve projetos exclusivos, é ter conseguido reunir uma rede de fornecedores que lhe permita alcançar um nível internacional de detalhismo no acabamento de marcenaria, serralheria, pinturas e impressão de alta resolução.

"Boas ideias não bastam para criar uma vitrine que prenda o olhar dos clientes. O vitrinista tem de conseguir transpor as ideias para um espaço real, bonito e com acabamento perfeito", diz Débora.

Com uma experiência de 22 anos nesse mercado, ela vê melhora na paisagem dos shoppings. "Passamos por uma crise no varejo que limou investimentos, mas hoje vejo que até o pequeno empreendedor tem uma noção clara de que a vitrine é o primeiro contato, o valor agregado imediato de uma marca, algo que exerce um poder de sedução e encantamento importantíssimos."

Louis Vuitton. Shop. Cidade Jardim - Av. Magalhães de Castro, 12.000, Butantã, tel. 3552-3560

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